terça-feira, 12 de abril de 2022

Quando a extrema direita disfarçada de ulta liberal chega ao poder... quem perde é o povo!


Quando a extrema direita fascista disfarçada de ultra liberal ou neo liberal chega ao poder, os serviços públicos mais básicos e que lidam com a população mais pobre sofre as consequências. Educação é destruída, saúde, cultura, lazer, assistência social, segurança pública e tantos outros serviços que são prestados diretamente ao povo mais sofrido são deixados de lado para que se diminua a presença do orçamento do serviço público com o propósito de que os ricos não precisem mais pagar impostos. Enxugar o Estado, Estado mínimo, diminuir a máquina, aumentar a produtividade do funcionalismo, são só alguns nomes bonitos que a extrema direita fascista de sapatênis usa para proteger os interesses do grande capital afim de que esses não necessitem mais pagar impostos. Para os ricos, o desejo de que os pobres se lasquem na vida é realizado na figura desses tipos de governantes.

domingo, 10 de abril de 2022

Pequena reflexão sobre "A metamorfose" de Kafka.

 

A metamorfose – Kafka


Como escrever algo simples e direto sobre a obra sem que alguém já não o tenha dito? Metamorfose representa os diversos dilemas e angústias que passam os homens na modernidade. Ao acordar e se ver transformado em um inseto gigante, provavelmente um besouro ou uma barata, o que podemos imaginar é que o autor a partir daquela data está se diferenciando dos demais homens de nossa sociedade. Sou diferente sim! E daí?!


Ao se notar diferente, ele trabalha com a narrativa na primeira pessoa durante toda a primeira parte da obra. Depois da segunda e durante a terceira parte, ele se abstêm e faz o discurso do narrador, mas em terceira pessoa. Como se ele mesmo tivesse se distanciado do monstro que se tornara ou não se enxergasse mais daquela forma. Por acaso começou a se ver inserido na vida comum dos homens do dia pra noite? Difícil.


Ao se retratar como inseto gigante que se tornara, Kafka poderia estar nos dizendo que não deseja mais esse tipo de vida cheio de burocracias, empecilhos para a felicidade ou carregado de coisas inúteis como a moral burguesa e o consumismo desenfreado como remédio aos males da alma. Ele também pode estar tentando nos dizer que por trás daquela aparência horrível, se esconde um ser frágil, com medo de todos e de tudo.


O autor também poderia estar se vitimizando diante da opressão do velho pai, da família e do capital diante do homem moderno, ao se transformar em inseto. Tornou-se algo patético e sem sentido (ou objetivo para a sociedade), enfim, um inseto! Talvez seja uma forma de mostrar aos homens que eles mesmos já se transformaram em algo, que não é mais o ser humano. Já não somos mais homens, mas monstros. Cada um de nós é monstro! Ou talvez sejamos pior do que monstros. Ou aliás, talvez sejamos pior do que a família de Gregor. Em certo modo, Kafka tenta infelizmente dizer a concepção contrária a que relatou a velha máxima de Chaplin: “Não sóis máquina, homem, é que sóis!”. Kafka nos diria o contrário ou o igual? “Não sóis inseto, homem, é que sóis!” ou, “Não sóis homem, inseto, é que sóis!”? Fica a grande dúvida.


Na primeira manhã, quando acorda e tem que lidar com o chefe imediato sobre seu atraso de dez minutos, mesmo sendo um funcionário exemplar, Kafka está nos dizendo da intromissão do patrão na vida do trabalhador (algo que naqueles tempos de jornadas de trabalho provavelmente poderiam alcançar as 12, 14 ou 16 horas diárias tranquilamente). Mas essa realidade, hoje, mais do que nunca, principalmente com a Internet, volta a se tornar ainda mais precária como antigamente. Esse desrespeito na vida do trabalhador é sinônimo de um mundo que desrespeita a todos os oprimidos a muitos séculos ou milênios.


Sua relação com a irmã é de amor e cuidados por parte de Gregor (o personagem que incorpora o autor), mas é de ódio também por parte da irmã que o vê como um grande fardo a ser carregado. Porém, antes da transformação de Gregor, todos o amavam e o tratavam bem na família pelo mesmo ser o responsável pelo sustento da mesma. A partir do momento em que ele perde o emprego, se torna um peso aos seus familiares como um vagabundo que pra nada presta e somente prejuízos a família causa. Esta passagem também nos remete a idéia da degeneração dos princípios de solidariedade e amor entre as pessoas. O que vale entre os homens é o que você possui e não seu caráter, atitude ou personalidade.


Outra passagem interessante na obra é o momento em que Gregor irá se alimentar. Dias antes da transformação, o autor irá dizer que o queijo que estava a disposição da família para ser degustado, estava em más condições. Depois de matamorfoseado, ao se deparar com uma série de alimentos trazidos pela irmã, o primeiro que ele escolhe é justamente aquele queijo que ele mesmo havia condenado como impróprio para consumo. Esta passagem nos lembra a canção “Metamorfose ambulante” de Raul Seixas. Ter a liberdade de ser você mesmo. De poder escolher uma coisa hoje e amanhã escolher completamente outra coisa. As vezes até contrariamente ao que se havia previamente escolhido. Esta liberdade de escolha ou o que conhecemos como livre-arbítrio, é sinônimo da liberdade subjetiva de cada ser humano que deve ser respeitada. Provavelmente a grande pergunta que Kafka gostaria de nos dizer é: Como respeitar o homem nesta sociedade de desrespeitos e injustiças? Ou como podemos ser respeitados nesta sociedade ou neste sistema?


Voltando ao queijo, ele aceitou o alimento estragado pois provavelmente já não se sentia digno de se alimentar de algo bom. A desumanização afeta até mesmo a vítima, fazendo a achar que não vale nada ou que não se deve desperdiçar bons alimentos com pessoas ruins. Ou seria de fato uma tentativa do autor mostrar que ele já não era mais humano, mas uma barata mesmo...


Sua morte ao término da obra, ao invés de causar espanto ou dor de seus parentes ou pais, causou um sentimento de alívio nos mesmos. O fato destes saírem em seguida para comemorarem o ocorrido, demonstra a frieza típica no comportamento dos indivíduos na atualidade. Nos lembra “Matou a família e foi ao cinema”.


Ao que parece, Kafka quer nos dar um alerta, ou um grito de desespero diante desta desumana situação. Ou revemos a atitude nossa de cada dia com os demais cidadãos de nossas sociedades (e isso implica mudanças radicais nos modos econômicos, políticos e culturais de vida – sem os quais não há respeito possível entre os homens), ou estaremos próximos da barbárie. Kafka fez uma leitura muito sensata de seu tempo e do nosso também antevendo fatos terríveis no futuro. Alguns anos após a publicação de sua obra e de sua morte, inicia-se a grande barbárie do século XX: a II Guerra e o Holocausto.

Célebre frase de Tolstoi...


 

#DerrubaOsVetosALMG: Os vetos do governador foram lidos na ALMG.


 Só a greve geral derruba o capital! Vamos na luta!

sábado, 9 de abril de 2022

“Não olhe para cima”, o filme… ou melhor, por favor, olhe sim para cima!

 

Não olhe para cima”… ou melhor, por favor, olhe sim para cima!


Ontem assisti um filme que me fez pensar sobre muitas coisas… um filme fabuloso… chama-se “Não olhe para cima”. É uma crítica aos negacionistas diversos, negacionistas da vacina, do aquecimento global causado pela atividade humana, terraplanistas, extremistas Cristãos, Islâmicos, extremistas de direita, fascistas e nazistas de todos os tipos…


Trata-se de uma metáfora sobre o aquecimento global que irá destruir a vida na Terra. É uma crítica aos psicopatas dos maiores capitalistas que não se importam com o mundo e a vida em nosso planeta. O filme é também um aviso, ou melhor, uma gargalhada da Ciência e dos Cientistas, diante dos zumbis consumidores do homem pós-moderno, boquiabertos com a chegada do cometa que atingirá a Terra em alguns dias…


É o velho mito da caverna de Platão nos batendo a porta novamente… só que dessa vez, pela última vez… é quando a Ciência tenta nos avisar do desastre que está por vir e ninguém a escuta… é a metáfora de Sócrates, como sobrevivente e prisioneiro da caverna, que consegue escapar da mesma e descobrir a verdade, mas não consegue convencer os demais prisioneiros de se libertarem também.


Esse lema do desgoverno Bolsonaro, "deus acima de nós", está completamente errado e é uma das bases do fascismo. Deus está entre nós e não acima de nós… esse lema desse desgoverno é a volta do teocentrismo e o fim do antropocentrismo, que significa, em outras palavras, retornar a Idade Média, à Idade da escuridão, como quer Bozo, os fascistas, negacionistas e tantos outros extremistas de direita…


Esses negacionistas são contra a Modernidade e os Iluministas. São os políticos do filme que querem enriquecer com o meteoro chegando ou pouco se importam com o que vai acontecer com o mundo pois eles tem seus bunkers, suas naves, seus projetos para escapar. Não podemos permitir que a política nacional e mundial se curve a todos esses facínoras de plantão!


Assistam e vamos fazer a juventude assistir!

Alguns princípios básicos para o anarquismo Cristão e o respeito aos direitos humanos!

 

Alguns princípios básicos para o anarquismo Cristão:


  1. “Amai ao próximo como a ti mesmo!” Ama o teu próximo e tua próxima sempre. Independente dos erros dos outros. Todos temos nossos erros. Não podemos julgar se não quisermos ser julgados.

  2. Ajudar o (a) próximo (a) sempre.

  3. Apoie o seu irmão e sua irmã das mais variadas formas que puder. E assim você também será apoiado.

  4. Deixe de lado os preconceitos. E lute contra todos eles: lute contra o racismo, contra a homofobia, contra o machismo, contra a xenofobia, contra o sexismo, etc...

  5. Crie um grupo de amigos no seu bairro ou cidade.

  6. Discutam os problemas do bairro, da cidade, do Estado, do país e do mundo.

  7. O povo em conjunto e organizado pode cuidar da cidade, tomar conta da sociedade.

  8. Não precisamos esperar que políticos e partidos façam por nós. Devemos agir para ajudar as pessoas e sermos ajudados.

  9. Ajudem as pessoas que estejam mais necessitadas: moradores de rua, ex-presidiários (as) em busca de trabalho, travestis, desempregados (as), idosos (as) sem aposentadoria, deficientes físicos ou mentais sem apoio do Estado, mulheres pobres e divorciadas com filhos (as), indígenas sem apoio da FUNAI, Quilombolas sem apoio do Estado ou sem renda, entre outros (as).

  10. Devemos conhecer os direitos básicos dos (as) cidadãos (ãs): direitos trabalhistas, cíveis, previdenciários, sociais, etc para ajudar as pessoas que mais necessitem a conseguirem alguma renda para sobreviverem. Exemplo: Bolsa Família, Aposentadoria, Auxílio Emergencial, Fundo de Garantia (FGTS), PIS e PASEP, Apoio assistencial nos CRAS, Grupos de Auto Ajuda tais como AA, Associações Anti-alcoólicas, Narcóticos Anônimos NA, Programas assistenciais de prefeituras e Estados, entre outros...

  11. O povo, unido e organizado, governa sem partido e sem Estado.

  12. Power to the people! Era o slogan dos Panteras Negras nos EUA nos anos 60 e 70… Poder para o povo! A anarquia é isso.

  13. Depois de criado um grupo, se reunir em praças públicas num bate papo aberto entre as pessoas. Isso vai ajudar a levar a palavra adiante.

  14. A autogestão deve guiar nossas ações: todos se ajudam, sem líderes, sem chefes, sem patrões, sem políticos, sem donos, sem amos, sem autoridade, pois todos são irmãos e irmãs. Todas as decisões devem ser aprovadas em consenso, em acordo de todos e todas. Quando não for possível que todos e todas concordem, deve se votar. Mas o diálogo prévio à votação é fundamental, pois é o diálogo que educa o povo.

  15. Política não é guerra de torcida! Devemos entender a dor do irmão e da irmã, oferecer nossos sentimentos por sua perda e tentar mostrar outro ponto de vista do problema em questão para que a dúvida faça a pessoa pensar. A dúvida é nossa maior arma!

  16. Dialogar sempre! Discutir, jamais!

  17. A vida de todo ser humano é sagrada. Tanto a vida do bandido, quanto a vida do policial. Se um ou outro fazem o mal, nem todos devem pagar por isso. O respeito aos direitos humanos e sua defesa devem ser como a própria palavra do Cristo em defesa do próximo.

  18. Na sociedade que deus quer que vivamos, os direitos humanos devem estar introjetados em cada um de nós. Devem estar na base de nossas ações a todo momento, ao ponto de não precisarmos de lei, do Estado e nem de ninguém para nos fazer exercê-lo.

  19. O ser humano não precisa de alguém lhe obrigando a fazer coisas boas. Devemos fazer o bem ao próximo por livre e espontânea vontade. Não por que tememos a deus ou a seu julgamento no momento de nossas mortes. Devemos fazer o bem ao próximo por consciência de que é o certo a se fazer.

  20. Mais altruísmo e menos egoísmo! E não se esqueça: Jesus pregou o amor e não o ódio!

A morte de Ivan Ilitch – Lev Tolstói. Uma pequena resenha...

 

A morte de Ivan Ilitch – Lev Tolstói. Coleção grandes nomes da Literatura. Folha de São Paulo. 2016.*1


Obra clássica da literatura russa. Tolstói consegue expressar os desejos, decepções e desilusões de vida do advogado e funcionário público Ilitch. Este se casa com Fiódorovna, do qual possui uma vida que mais se parece a uma guerra. Casou por conveniência da sociedade, sem amá-la. Teve filhos com a mesma e desgraçou sua vida por seu egoísmo desenfreado e sem limites. Ilitch teve outros dois irmãos. Ele morreu aos 45 anos de vida. Ivan era conhecido como o típico funcionário padrão: pontual e infalível como um relógio.


A obra é dividida em doze partes e 79 páginas de leitura da alma humana. A obra é um manual de Tolstói de, como não levar ou conduzir sua vida, caso você não queira se arrepender amargamente de seus erros no seu leito de morte (tal como o personagem principal de nossa obra aqui citada). É também uma crítica filosófica a este estilo de vida burguês que é falso, moralista, superficial, morto, desumano, deprimente. O livro se inicia já com a morte do protagonista, Ivan Ilitch. Logo de início, Tolstói dá indícios da hipocrisia dos personagens (ou seriam de todos nós?), como as preocupações de quem vai ganhar mais ou vai ocupar o cargo do falecido, entre outras mesquinharias. Da esposa, também não se espera solidariedade ou respeito ao morto, pois, provavelmente teve uma vida sem amor, sem romance, sem cuidados e carinhos. Logo após a morte de Ivan (seu marido), ela indaga ao chefe do mesmo, Ivanovitch, se sabe de quaisquer verbas que por ventura poderia se utilizar na ausência do marido, funcionário público do poder judiciário russo. Dinheiro… é sempre dinheiro… Nada que preocupe os fiéis amigos do defunto que se apressam para mais uma partida de seus jogos de cartas.


Ivan não se casou por amar sua noiva. Mas por conveniência de que seria um bom negócio e isso o faria estar na posição que as pessoas e a sociedade imaginavam ou esperavam dele. Assim também teve filhos, imaginando que seria positivo tal olhar da sociedade sobre sua pessoa e família. Porém, a medida que o tempo passava, sua esposa percebe o buraco em que se enfiou e, começa a se tornar mais irritadiça. O que faz com que Ivan se isole no mundo de seu trabalho e de seus jogos de cartas. Assim também foi com os filhos. Quanto mais filhos, mais se refugiava no trabalho e mais raivosa se tornava sua esposa. Foi constituído um casamento sem amor e com obrigações sem sentido algum para a vida.


Uma família sem compromisso, de aparências, filhos gerados sem planos para os mesmos, fuga de responsabilidade dos pais para com os filhos e para com o relacionamento, egoísmo absurdo do pai para com todos (as). O trabalho era a válvula de escape do Sr. Ivan. Válvula que nem ao menos ele gostava de realizar. Fica a pergunta: além do jogo, do que ele realmente gostava em viver? Aparentemente nada!


Ivan sempre se gabava da capacidade que tinha de separar as relações do trabalho para com a vida pessoal. Jamais deixava as coisas se misturarem. Ao longo de sua vida, construiu relações frias, distantes, falsas, vazias com as pessoas. Foi desumano consigo e com as pessoas nas relações que criou. A dúvida que fica é: será que algum dia Ivan amou ou foi amado? A família abandonou os verdadeiros amigos para se relacionarem com a “nata” da sociedade… os ricos e suas relações superficiais. As verdadeiras alegrias de Ivan se resumiam ao seu jogo e ao mínimo contato e aborrecimento com a família.


Por volta de 17 anos depois do casamento, Ivan começa a sentir fortes dores no lado esquerdo do corpo. Vai ao médico e descobre que possui um problema de saúde, provavelmente no rim. Durante a consulta, percebe que o médico o trata do mesmo modo frio, distante, falso, desumano, que tratava as pessoas no tribunal. Sai de lá sem ter a menor ideia do que o médico o disse e diagnosticou. E percebe que é a mesma forma com que trata os cidadãos que precisam da justiça e a ele recorre: sai completamente sem saber o que fazer e se tem chances de sobreviver diante do distanciamento do médico (cientista) e de seu paciente (ele, o ignorante desconhecedor daquela Ciência). O distanciamento do próprio Ivan ao público como advogado e funcionário da justiça, é a mesma injustiça que ele, como paciente, sofreu com a consulta ao médico. Mas a alienação de Ivan é tamanha, que ele é incapaz de fazer uma relação entre as atitudes do médico e as dele e com a alienada conduta de sua vida. Tolstói também está fazendo uma crítica a frieza das Ciências naqueles meados dos XIX, antes mesmo de Adorno e os Frankfurtianos. É indiretamente uma crítica ao Positivismo que no século XX, ajudaria no desenvolvimento e suporte de um meio de se pensar onde natureza existe para nos servir, que a Ciência tem a palavra final sobre todas as formas de vida e que era natural a seleção da “natureza” de que, só os mais fracos sobreviveriam. Tais ideais também foram responsáveis pelo surgimento do nazi fascismo, da coisificação do homem, da natureza, entre outros males.

Ivan também percebe que, depois de tanto tempo sendo egoísta, envenenou sua vida e a de tantas outras pessoas. Percebe que está sozinho no mundo, por mais que esteja cercado de pessoas a todo instante e em todos os lugares. Ele percebe que estragou sua vida e que agora é tarde demais para concertá-la. Ao término da quinta parte da obra, percebe-se o comportamento de Ivan ao renegar a consulta com um médico, simplesmente por que era um preço caro. Ou seja, para ele, mesmo na hora da proximidade da morte, o que vale são os bens materiais e não a própria vida.


Percebe-se também uma perda profunda da empatia na personalidade de Ivan. Sua postura de que a morte nunca poderia acontecer consigo, de que ela nunca chegaria, é reflexo de seu egoísmo e de sua atitude de se achar diferente, especial, acima dos demais mortais, o que o faz pensar ser uma pessoa especial, de que a morte nunca irá alcançá-lo. Uma hora chega para todos nós. A morte está aí para mostrar que pode chegar mais cedo para alguns do que para outros. Principalmente para aqueles que se pretendem super homens.


Mais adiante, se entende que o Sr. Ivan era uma pessoa extremamente carente. Queria apenas que as pessoas tivessem dó dele, como se fosse uma criança doente. “Desejava ser acariciado, beijado e pranteado do jeito que acariciam e tranquilizam as crianças.” Ou seja, provavelmente, nunca havia recebido amor de nenhuma pessoa, seja do pai ou da mãe, por isso de seu egoísmo e indiferença para com os membros de sua família e as pessoas em seu trabalho também. É como se Ilitch vivesse em um mundo a parte, em um transe hipnótico que o impedisse de ver que ele vivia em sociedade e precisava das pessoas para sobreviver, para ajudar e um dia ser ajudado. Tal egoísmo e distanciamento das pessoas, ou frieza, ficava claro no relacionamento com todos a sua volta. Essa vida de falsidade e mentira envenena qualquer um.


Nas visitas comuns do médico a sua pessoa, já deitado em seu leito, Ivan observava o jeito, as técnicas, as artimanhas do doutor em “analisar” o paciente. “Ivan Ilitch submete-se a isso como acontecia de se submeter aos discursos dos advogados quando sabiam que estavam sempre mentindo, e por que motivo.” Ainda sobre o doutor, “Ele ficou em silêncio e franziu o cenho. Sentia que a mentira que o rodeava era tão embrulhada que ficara difícil discernir qualquer coisa.” Isso tudo demonstra aquela vida de aparências, superficial, descolada da realidade, ideológica, embasada na indústria cultural, repleta de mentiras, cinismo, falsidades, no trabalho, casamento, etc…


Num de seus momentos de tristeza, ele se pegava chorando e indagando a si mesmo sobre o imenso desamparo, a terrível solidão, a crueldade das pessoas, a ausência das pessoas e de deus… mas era incapaz de entender que tudo aquilo era reflexo da forma como ele tratava o outro. Numa de suas reflexões pessoais e indagações…


“-Viver? Viver como?

-Sim, viver como eu vivia antes: de um jeito bom, agradável.

-Como você vivia antes, de um jeito bom e agradável? […] Lá, na infância, houvera algo realmente agradável, que valeria a pena viver, se regressasse.”


Pouco depois: “Aquele trabalho morto, aquelas preocupações com dinheiro, e assim um ano, dois, dez, doze, e tudo sempre igual. E quanto mais avançava, mais morto.” Ivan Ilitch já estava morto antes da chegada da hora. Só ele não percebeu que viveu uma vida morta, sem sentido, abjeta, superficial. Novamente em seus diálogos mentais ele se pergunta: “-O que você quer agora? Viver? Viver como? Viver como você vive no tribunal […] Para quê?” Essa vida sem sentido vale a pena ser vivida? Qual a razão de sua existência? Qual a justificativa para continuar a existir diante de tal desperdício?


Passadas algumas semanas de sua doença, depois que já não podia mais se levantar da cama sozinho, as lembranças da infância vinham se avolumando… uma após a outra. “Aqui também, quanto mais recuava, mais vida havia. Havia mais bondade na vida, e havia mais da própria vida. […] Assim como o tormento vai ficando cada vez pior, minha vida inteira foi ficando cada vez pior.” As lembranças da infância são as melhores, pois é o momento da descontração, da diversão, da alegria, sem os formalismos e vazios da vida de aparências de um adulto. Se todo adulto ainda guardasse um pouco da pureza e sinceridade das crianças, as pessoas e o mundo poderiam se melhores.


Pouco a frente, pensou no legado que deixou de si e de suas ações para seu trabalho, para o mundo e para seus filhos: “Seu trabalho, a organização de sua vida, sua família, os interesses da sociedade e do serviço, tudo isso podia ser impróprio. Tentou defender tudo aquilo perante si mesmo. E, de repente, sentiu toda debilidade do que defendia. Não havia nada a defender.” Percebeu que havia perdido sua vida e que não tinha feito nada de útil ou bom para si e para as pessoas ao seu redor. Uma vida indefensável, triste, sem frutos, perdida para sempre. As perguntas que faço são: Ivan é uma vítima de si mesmo? Ou é uma vítima da sociedade e seus péssimos hábitos, moral e costumes, que acabaram por interferir no seu jeito de ser consigo e com as outras pessoas? Ou é vilão de si mesmo e da sociedade? Ou serão ambos: vítima e vilão? Difícil responder, mas acredito que Ivan são as duas opções, vítima e vilão de si e da sociedade também.


Ao término da obra, percebe-se que Ivan chega ao seu leito e momento de morte e não entendeu o sentido da vida e da morte. Ele deseja mais vida, mais tempo, como o jogador de cartas que quer mais dinheiro para continuar apostando em mais uma partida, sem se contentar com os ganhos ou derrotas do jogo. Insaciável. Não tem hora para acabar. Não se contenta com nada. Sua existência é como um buraco negro: se não for impedido, suga a todos e tudo ao seu redor. Sua fome, sua carência, suas ânsias por questões materiais e sentimentais não tem fim. Sempre em eterno exagero. É como um sobrenome para ele: exagero. Aliás, este é um defeito que sua esposa o acusa de ter durante a obra. Mais tempo para uma existência perdida? Sem sentido, alienada, cheia de mentiras, cercada pela falsidade, pela “indústria cultural”. Ivan é um típico alienado de seus sentimentos, de si mesmo, não se conhece, não se entende, não se ama. Daí nos aparecem outras perguntas: como amar, conhecer, entender, sentir o (a) outro (a)? Será que algum dia, Ivan amou alguém ou a si mesmo? Uma vida não vivida vale a pena de se viver? Uma vida sem vida merece mais tempo?


Outra lição que acredito que o livro nos traga é: não seguir os hábitos, costumes, moral, cegamente, sem refletir sobre os mesmos. Nunca! Jamais faça isso. Não aceite o pensamento único de viver sob a forma e o modelo que a burguesia te impõe. Não aceite este modo de vida como o único. Existem outras formas de realizar sua existência não pré-definidos ou pré-determinados. Não aceite que lhe digam a verdade sem questionar do que se trata. Os Iluministas passaram séculos dizendo isso a todos nós e não devemos esquecer estas lições. Desobedeça! Pise fora da faixa! Regras existem para serem quebradas! Quem sabe o que te faz feliz é você mesmo e não as outras pessoas. Não leve a vida de modo tão sério, tão sisudo. A vida também é feita para brincar, se divertir. O contrário também é perigoso, mas os extremos de um ou outro também o são. Para finalizar minhas observações sobre a obra: ame ao próximo como a ti mesmo. Cuida de ti, mas do teu próximo também. Não se esqueça, se você planta vento, vai colher tempestade. Não há como escapar dessa regra da vida.








1* Resenha do Professor Fernando Monteiro. Formado em Ciências Sociais pela PUC-SP com Licenciatura e bacharelado e especialização e Mestrado em Filosofia.

Diante do conflito entre Capitalismo e Socialismo, existe alguma alternativa? Sim! Esta alternativa é o Anarquismo!

 

Diante do conflito entre Capitalismo e Socialismo, existe alguma alternativa? Sim! Esta alternativa é o Anarquismo:1

  1. O anarquismo é um sistema econômico e político que não aceita a interferência de partidos políticos, patrões e das igrejas na organização dos trabalhadores, sejam em seus sindicatos, movimentos estudantis, associações de bairro, entre outras entidades.

  2. O anarquismo quer o fim do Estado e do Capitalismo. Através da autogestão, as pessoas podem assumir e revezar todas as atividades da sociedade nos locais de moradia e trabalho. As tarefas nos locais de moradia ou dos locais de trabalho são divididas entre todos. Cada indivíduo contribui da maneira que puder em acordo comum.

  3. O anarquismo é um sistema de democracia direta aperfeiçoado e federativo. Ou seja, as pessoas se unem para decidir o que fazer nos bairros, comunidades, favelas, vilas, cidades, países…

  4. As minorias são respeitadas diante do poder das maiorias e ninguém deve ser obrigado a fazer algo que sua consciência diga estar errado.

  5. No sistema anarquista, as riquezas são divididas de forma justa entre as pessoas, pois os patrões não são mais os donos das empresas e sim os próprios trabalhadores. Os anarquistas são contra a mais valia, ou seja, são contra a exploração que os patrões fazem sobre os empregados. Para que essa mudança da sociedade aconteça, os anarquistas acreditam que deve haver uma revolução, pois os patrões não irão dividir o lucro de suas empresas com seus funcionários.

  6. No Brasil, no século XIX, ocorreram diversas experiências do movimento anarquista, como a Colônia Cecília, no Paraná. Lá, um grupo de trabalhadores de diversas famílias comprou um lote de terra e, iniciaram as experiências de viver dividindo por igual a riqueza que produziam. As mulheres eram livres para ficarem com quem desejassem.

  7. Também no Brasil, durante as três primeiras décadas do século passado, os anarquistas fundaram o movimento sindical brasileiro (na figura da Confederação Operária Brasileira – COB – primeira “central” sindical do país) que, conquistou na prática, muitos dos direitos trabalhistas que temos hoje, como a jornada de 8 horas de trabalho, descanso semanal remunerado, férias, direito de se aposentar, direito de se associar, entre outros.

  8. Em 2013, durante as revoltas populares de junho, os anarquistas estavam a frente das manifestações junto com o movimento pelo passe livre (MPL), nas lutas pela diminuição dos preços das passagens de transporte. As manifestações ganharam as ruas e colocaram milhões de brasileiros protestando por melhores condições de vida para todos.

  9. O anarquismo também pode ser definido como a livre associação entre produtores e consumidores. Ocorreram experiências do sistema anarquista na Comuna de Paris em 1871, Revolução Mexicana em 1910, Revolução Russa em 1917, Revolução Ucraniana em 1919, Revolução Espanhola em 1936, Revolta dos estudantes na França em 1968.

  10. O anarquismo hoje também está presente nas experiências dos Zapatistas no Estado de Chiapas no sul do México, onde os índios e todos os outros cidadãos governam o Estado de maneira comunitária, uns ajudando os outros, sem partido, sem políticos e sem patrão. Hoje em dia, os Kurdos, um outro povo no Oriente Médio, tenta fundar sua nação se organizando em autogestão, ou seja, sem políticos e autoridades para mandar nas pessoas. E assim os Kurdos conseguiram expulsar o Estado Islâmico da Síria. Em algumas comunidades de Israel, nos chamados Kibutz, as pessoas vivem sem interferência do Estado, livres, sem opressão, revezando os serviços da comunidade entre si. Também no movimento contra a globalização econômica em todo o mundo, os anarquistas e os blac blocks apoiam a economia local e livre contra a opressão das grandes multinacionais que exploram o povo e as riquezas naturais.

  11. Nos anos 50, 60 e 70 do século passado, os anarquistas influenciaram a criação dos movimentos de jovens em todo o mundo. Os Beats nos anos 50, os Hippies nos 60 e os Punks nos anos 70, tinham influências do movimento anarquista (quando não se assumiam diretamente libertários). Estes movimentos da juventude mudaram a forma como os jovens vivem até os dias de hoje, tornando os livres em relação as gerações do passado. Os jovens passaram a se vestir de uma maneira mais livre, puderam se divertir mais livremente e expressar seus sonhos, desejos e opiniões. As lutas contra o racismo, contra o machismo, contra a homofobia, contra a xenofobia se expandiram em todo o mundo, auxiliando e melhorando a vida de muitas minorias em todos os países.

  12. No Brasil ocorre a experiência da soma terapia que entendia os problemas do indivíduo não isolados com os problemas do mundo. A soma terapia tem uma perspectiva libertária e influenciou a psicanálise em todo o mundo.

  13. Os anarquistas hoje são os principais organizadores do movimento anti-fascista em todo o mundo.

  14. Os principais teóricos do anarquismo foram Proudhon, Bakunin, Kropotkin, Emma Goldman, Malatesta, Rudolf Rocker e muitos outros.

  15. Raul Seixas, Lima Barreto, Zélia Gatai, Roberto Freire, foram personalidades anarquistas famosas no Brasil.


Trabalho:


Valendo nota: 10 pontos.

Individual.

Para entrega.


1-O que é o anarquismo nas suas palavras? O que você entendeu sobre o anarquismo?

2-Qual a diferença entre o anarquismo e o socialismo?

3-Quem conquistou os primeiros direitos dos trabalhadores no Brasil? Cite alguns dos direitos que os trabalhadores do Brasil possuem. Explique.

4-O que é democracia direta?

5-O que acontece com as empresas que são dos patrões no anarquismo?

6-O que acontece com as minorias no anarquismo?

7-Cite resumidamente, nas suas palavras, algumas experiências dos anarquistas no Brasil e no mundo.

8-O que aconteceu com a juventude nos anos 50, 60 e 70 do século passado? O que os anarquistas tem a ver com essa mudança?

9-Na sua opinião, o anarquismo é uma opção ao capitalismo e ao socialismo? Explique.

10-Na sua opinião, é possível o anarquismo existir no Brasil? E nos outros países? Explique.


1Texto do professor Fernando Henrique Olmedo Monteiro de Sociologia. Formado em Ciências Sociais pela PUC-SP com bacharelado e licenciatura plena, além da especialização e mestrado em Filosofia pela PUC-SP.