segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Resenha de "Ética a Nicômaco" de Aristóteles.

Abaixo, resenha que construi sobre a obra "Ética a Nicômaco", do Filósofo Grego Aristóteles. Bons estudos e boa leitura.


Aristóteles
Ética a Nicômaco. Editora Martin Claret. São Paulo, SP, 2009.

Livro I

“O bem é aquilo a que as coisas tendem”.1 É assim que começa praticamente a obra que será grande influência de diversos autores, Filósofos e Cientistas até fins da Idade Média. Aristóteles faz uma homenagem a seu Pai, Nicômaco, que era Médico dando o nome ao Livro e batizando o filho com o mesmo nome do Pai.

A finalidade da Ciência Política para o autor é a felicidade. A Ética está intimamente envolvida com a questão política. Ser ético na política é buscar o bem e a felicidade de todos. A finalidade da Política então é fazer com que os cidadãos sejam bons e capazes de boas ações. O homem político estudou a virtude e tenta fazer com que os homens sejam obedientes as Leis.

Infelizmente o autor não acredita que a Política seja para os ignorantes e nem esteja para o interesse dos jovens. Homens escravos, que para ele, são a grande parte da população que não se interessa pela política, também são alienados da realidade.

O bem não é uma idéia comum que corresponda a uma idéia única. É mais complexo e difícil de se definir ou determinar para que seja aceito por todos. O bem é aquilo que as nossas ações visam encontrar, podendo ser de alguma maneira realizado. O bem absoluto é auto-suficiente, mas não deve estar resumido a apenas uma pessoa, mas a toda a sociedade.

“Definimos a auto-suficiência como aquilo que, em si mesmo, torna a vida desejável por não ser carente de nada. E é desse modo que entendemos a felicidade; além disso a consideramos a mais desejável de todas as coisas (...) Assim, a felicidade é algo absoluto e auto suficiente, e a finalidade da ação”.2 Portanto a função do homem é fazer o bem e tentar chegar próximo da perfeição.

A alma do homem é dividida em uma parte racional e outra irracional. Já a parte irracional também é sub-dividida em duas partes: a que está envolvida com o crescimento e a nutrição da pessoa e a outra parte que em certo sentido participa da razão. Porém, nos homens grandiosos, estes lados irracionais da alma estão sob melhor controle da racionalidade.

Livro II

Existe para o autor da obra, duas espécies de virtude, a intelectual e a moral. A intelectual adquirimos através da educação e do ensino e a Moral através dos bons hábitos. Portanto, cabe aos Legisladores, criarem bons hábitos políticos na população. Esta deve ser a finalidade de toda administração. Aquela que não consegue realizá-lo demonstra a diferença entre a boa e a má constituição ou forma de governo.

Existem três objetos da virtude e do vício. Como se sabe, Aristóteles coloca um como o contrário do outro. São eles: O nobre o vantajoso e o agradável. Os vícios: o vil, o prejudicial e o doloroso. Os homens bons tendem a agir próximos da virtude e os maus, próximos do vício.

Portanto é a prática de atos justos que cria a justeza e a prática de ações temperantes que cria o homem equilibrado.

Mas, o que será a virtude então para nosso autor? Se na alma do homem encontramos 3 espécies de coisas, como as paixões, faculdades e disposições, podemos entender a virtude como sendo uma delas. Por paixões, entendemos a cólera, o medo a inveja e outros sentimentos acompanhados de prazer ou sofrimento. Por faculdades, as capacidades de sentirmos aquilo que nos levará as paixões, ou seja, o ato de nos levar ao ódio, a mágoa e outros; e as disposições são aqueles atos que nos farão entender se uma paixão é boa ou má. Para Aristóteles, as virtudes são disposições.

Se a disposição é que é a virtude e são elas que nos permitem descobrir ou entender se uma coisa é boa ou má, podemos entender que bom e mal estão ambos em lados opostos e que deve haver uma metade do caminho entre eles. Esta metade do caminho deve ser o que minimamente devemos esperar como comportamentos éticos dos seres humanos, ou seja, comportamentos voltados para ações nobres ou que visem o bem. Portanto para Aristóteles, ficar ao meio termo seria o mais sensato. Porém, em relação ao máximo do bem, o meio termo seria o mais justo.

“Virtude é, então, uma disposição de caráter relacionada com a escolha de ações e paixões, e consistente numa mediana, isto é, a mediana relativa a nós, que é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. É um meio termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta, pois nos vícios ou há falta ou há excesso daquilo que é conveniente no que concerne as ações e as paixões, ao passo que a virtude encontra e escolhe o meio termo”.3

O mal seria ilimitado e o bem limitado pois segundo o autor só é possível acertar de uma maneira e os erros são vários. A virtude seria então um meio caminho ou meio termo entre vícios.

“Todavia, não censuramos as pessoas que se desviam um pouco da virtude, quer o façam no sentido de mais, quer no de menos; só censuramos o homem que se desvia consideravelmente, pois este nunca passa despercebido”.4

O mal ou a ação incorreta são penalizados quando o homem se afasta do centro da meta ou do meio termo ou esquece as virtudes para praticar o vício. Distanciar-se da virtude é onde reside o grande problema.

Livro III

Distinguir entre as ações humanas o que é voluntário e involuntário e auxiliar a justiça a decidir melhor as suas penas, tais estudos da virtude fariam com que os Juízes e o Judiciário resolvessem melhor a aplicação das penas e a construção da justiça.

Para o autor, as crianças e os animais são capazes de ações voluntárias, mas não de escolhas. Então ele define escolha como uma busca pela racionalidade. Só se escolhe uma decisão ou um caminho mediante razão, experiência e sabedoria, algo que as crianças e os animais não possuem. Estes possuem impulso ou instinto, mas não razão para realizar escolhas.

A finalidade do desejo é o bem. Realizar o bem ou fazer coisas boas é sempre a finalidade do que desejamos. Por mais aparente que este bem seja.

“Por conseguinte, depende de nós praticar atos nobres ou vis, e se é isso que significa ser bom ou mau, então depende de nós sermos virtuosos ou viciosos”. É difícil e errado fazer uma crítica a um determinado autor fora de seu contexto histórico, social e econômico, ou seja, uma crítica fora de seu tempo, anacrônica. Mas é impossível não observar um posicionamento completamente moralista do autor sobre fazer ou não o bem, não se levando em consideração a questão social e a divisão da sociedade em classes. Seria difícil demais pedir aos gregos que tivessem verificado tais disparidades entre as pessoas? Entre cidadãos e escravos? Ricos e pobres e tentado explicar algo de concreto a respeito? Infelizmente Aristóteles não leva em consideração as questões econômicas para que sejam determinantes nas ações cotidianas do homem e as vê somente baseadas num exercício de comportamento que beire simplesmente entre fazer o bem ou o mal. E infelizmente tal erro estará presente na obra filosófica de praticamente todos os Filósofos até o século XIX.

Em outra passagem logo adiante, define outros tipos de virtude do homem, tais como a coragem e a bravura. E define a covardia como vício. Covardia como vício é diferente de precaução.

“A experiência com relação a uma determinada situação de perigo é também considerada uma espécie de coragem; e essa é a razão pela qual Sócrates identificava a coragem com o conhecimento”.5

Também define a temperança como virtude e a intemperança como vício pois aquela (temperança) seria a virtude da parte irracional da alma. Ela deve se relacionar com os prazeres do corpo e precisa ter o controle sobre os mesmos. Quando não ocorre controle ou uso com parcimônia dos prazeres, existe a intemperança que é o excesso. Percebe-se neste momento e posteriormente será mais presente, um comportamento muito repressor das atividades humanas, muito disciplinador e talvez até autoritário do autor em manter os prazeres do corpo humano, todos sob o mais absoluto controle. Lembra em diversos momentos o extremo da racionalidade de Freud e de manter o animal que existe dentro de cada homem completamente enjaulado.

Sobre as crianças:

“Se não forem preparadas para serem obedientes e submissas ao princípio racional, irão a grandes extremos, pois em um ser irracional o desejo do prazer é insaciável; além disso, o exercício do apetite aumenta-lhe a força inata e quando os apetites são numerosos e violentos, acabam destruindo a própria capacidade de raciocinar”.6

Na opinião do autor, as crianças não conseguem controlar seus apetites e por isso precisam dos adultos e da disciplina dos mesmos.

“Concluindo, no homem temperante o elemento apetitivo deve harmonizar-se com o princípio racional, pois o objetivo de ambos é o nobre, e o homem temperante deseja as coisas que deve desejar da maneira e na ocasião certas; e isso é o que determina o princípio racional”.7

Percebe-se que os freios sobre o animal chamado criança, devem ser duros e com a intervenção não somente de pais e adultos, mas, do Estado também, como veremos pouco adiante.

Livro IV

Inicia tratando da Liberalidade neste capítulo. Os indivíduos pródigos (aqueles que gastam demais) são os de pior caráter e que acumulam mais de um vício. Por outro lado, o avarento, que provavelmente se tornou assim pelo esforço que talvez tenha feito para conseguir o que tem, também é uma espécie de vício assim como a prodigalidade. Pois estes são no fundo, pessoas incontinentes, também outro vício para o autor.

“As coisas úteis podem ser bem ou mal usadas, e a riqueza figura entre as coisas úteis. Usa melhor uma coisa o homem que tem a virtude relacionada com essa coisa; conseqüentemente, a riqueza será melhor usada pelo homem que possui a virtude relacionada com a riqueza, e esse é o homem liberal”.8

Portanto, aquele que utiliza do melhor modo a riqueza ou o bem que possui, é um virtuoso e Liberal. A Liberalidade é um ato virtuoso pois está entre o meio termo entre dar e receber riquezas. Pois o Liberal gastará dinheiro em quantias certas e nas coisas certas.

Ai talvez possamos entender uma certa ingenuidade no comportamento e nas falas do autor que entende no homem Liberal, aquele que sabe dar e receber nas medidas certas, mas se esquece que o homem Liberal ao qual se refere pode muito bem ser o Senhor de Escravos, típico comerciante rico de Atenas, cidadão considerado “de bem” por fazer caridade ou praticar nobres ações. Nada mais equivocado pois tais homens geralmente não dão ponto sem nó. Sempre que praticam tais ações estão com um olho no gato e outro na janta.

Ao homem magnânimo é dado outra qualidade de ser virtuoso. É aquele que comete atos ou ações grandiosas, dignas de serem elogiosas e aplaudidas por todos. É aquele ser que se considera grande e está a altura de sua grandiosidade. Numa passagem, Aristóteles define que “O homem indevidamente humilde revela-se deficiente seja em comparação com os méritos próprios, seja em comparação com as aspirações do homem magnânimo. O pretensioso excede em relação aos méritos próprios, mas não excede as aspirações do magnânimo”.9

Cabe a pergunta ao nosso autor: é possível conseguir tal equilíbrio? É possível realizá-lo? Ser um homem humilde e sincero nesta humildade e ao mesmo tempo saber que se é magnânimo? Que se está numa classe do saber e do conhecimento relativamente superior aos demais homens? Esperamos que sim. Sem possuir um caráter bom, nobre e recheado de ações de boa índole, é impossível ser magnânimo. Se identifica este homem quando a riqueza e o poder não conseguem mudar suas boas ações, suas atitudes e a beleza de seu caráter. De acordo com nosso autor, é claro. É por isso (ainda de acordo com Aristóteles), que tal virtude é o coroamento de todas as outras virtudes.

Este elemento, dotado desta qualidade, a magnificência, não é rancoroso e muito menos fútil. Não se vê o mesmo falando da vida de outras pessoas e nem perdendo tempo ofendendo a outros.

A calma também é outra virtude do homem pois é ela quem controla o ódio ou a cólera. Ela pode auxiliar o ser a conseguir enxergar a verdade e dessa forma construir mais facilmente a justiça. Preservar e apoiar a verdade e combater as injustiças, são boas ações e atitudes louváveis ou de pessoas de bem.

Aristóteles também faz uma crítica aos homens que se vestem ou se utilizam demais do luxo e do conforto. As pessoas que possuem um cuidado excessivo com a sua aparência e por outro lado aquele que é displicente, são de certo modo arrogantes. Sócrates já nos prevenia que deveríamos dar mais valor as riquezas da alma, tais como o conhecimento e a busca pela sabedoria do que os valores das riquezas dos objetos materiais.

Para finalizar o capítulo, nosso autor discute sobre outra das virtudes, importantíssima aos jovens, que é a vergonha. Esta é muito importante pois auxilia na educação dos jovens. O jovem que a possui é digno de ser louvado. Porém, talvez não passe pela cabeça do autor que a vergonha ou se utilizar dela, nada mais é, do que um instrumento de dominação, tortura psíquica e demonstração de força por parte das autoridades envolvidas no processo de aprendizado e ensino. O uso deste mecanismo é tão repressor quanto outros. Porém, para o autor, a vergonha é um meio de fazer o indivíduo refletir sobre os erros que cometeu.

Livro V

O ato justo é o meio termo ou a virtude. “Com efeito, a justiça é a virtude completa no mais próprio e pleno sentido do termo, porque é o exercício atual da virtude completa”. A justiça é uma virtude aplicável também ao coletivo. O homem que faz o ato justo, faz o bem e é no poder que se vê se um homem é bom ou não. Ou seja, assim como no Capítulo anterior, Aristóteles coloca a subida ao poder como prova de fogo para testar a moral e a virtude de um homem. Aquele que se manter virtuoso em defesa da Justiça, tem muitas qualidades.

“Portanto, nesse sentido a justiça não é uma parte da virtude, mas a virtude inteira; nem seu contrário, a injustiça, é uma parte do vício, mas o vício inteiro”.10

Para o autor, a Lei e a Ciência Política devem primar pela educação. Iniciamos este capítulo tratando de Justiça, mas não definimos o que é Justiça para o autor.

“Sendo, então, esta espécie de injustiça uma desigualdade, o juiz tenta restabelecer a igualdade, pois também no caso em que uma pessoa é ferida e a outra infligiu um ferimento, ou uma matou e a outra foi morta, o sofrimento e a ação foram desigualmente distribuídos, e o juiz tenta igualar as coisas por meio da pena, subtraindo uma parte do ganho do ofensor”.11

Podemos entender nesta passagem e outras que virão logo adiante, que o conceito de Justiça de Aristóteles está fortemente baseado no velho ditado popular, “olho por olho, dente por dente”. Ou seja, o conceito de justiça é o da vingança para reparar o mal. E não o conceito de correção do ato infrator e ilegal como medida sócio-educativa tão presente no cotidiano do Estado Moderno de Direito (ou pelo menos deveria). Minha visão é um anacronismo, mas, eu esperava um pouco mais. Logo adiante ele adverte que a autoridade não deve de forma alguma ser ferida ou agredida, mas se houver tal crime, deve haver represália. Pouco depois, o autor descreve que os homens procuram retribuir o mal com o mal e o bem com o bem e finaliza dizendo que se não podem fazer tal troca de ações, a sociedade não se mantém unida pois é esta troca que sustenta a união das sociedades. Este tipo de argumento nos relembra o conceito de “Anomia” de Durkheim. O Sociólogo Francês nos diz que o crime é peça importante e fundamental para unir a sociedade em torno de seus costumes, Leis, regras pois, quando acontece algum ato criminoso que choca a sociedade, é a reação dos indivíduos que dá vida a este ethos ou este modo de vida ou essa ética de determinada sociedade.

Quando fala da questão do Magistrado, que seria o Guardião das Leis ou da Pólis, ou em outras palavras, o Filósofo Rei, Aristóteles parece concordar com Platão na sua proposta presente em A República, de que o Guardião deve receber como recompensa a honra e o privilégio, finalizando que aqueles que não se contentam com isso, tornam-se tiranos. O detalhe a ser acrescido é que Platão não desejava privilégio algum aos Guardiões, mas aparentemente o que Aristóteles deseja falar com a expressão privilégios aqui, não significa necessariamente riquezas, mas sim acesso a uma vida de boa qualidade.

Para finalizar o Capítulo V, o autor acredita que exista justiça nas partes racional e irracional da alma do homem. Esta opinião irá influenciar Tomás de Aquino no futuro quando escrever sobre a crítica ao maniqueísmo, sobre seu conceito de ser e da alma, de deus e sobre o prazer.

Livro VI

A virtude se acha pelos ditames da reta razão. A alma do homem se divide também, como vimos pouco antes. A parte racional se divide em outras duas partes racionais. Uma chamada calculativa e a outra Científica. A função de ambas as partes da alma é chegar a verdade num grau muito alto e próximo da certeza, como uma verdade absoluta. A alma possui 5 princípios básicos: a Arte, Conhecimento Científico, a Sabedoria Prática, a Sabedoria Filosófica e a Razão Intuitiva.

Logo adiante, o autor defende a tese de que o uso do método dedutivo ou indutivo depende do objeto a ser analisado pela Filosofia: “Portanto, há pontos de partida de onde procede o silogismo e que não são alcançados por este; logo, é por indução que os atingimos”.12 Para ele, o conhecimento científico pode portanto, nascer tanto do método dedutivo como do indutivo.

Indo a outro dos 5 princípios básicos da alma, a arte, Aristóteles acredita que a mesma seja a capacidade de produzir algo com uso de muita razão. E que todo uso da razão é uma arte. Talvez seja uma conceituação extremamente racionalizada do que seja a arte tal entendimento do autor. No nosso entender e talvez no entender da maioria das pessoas (não somente dos artistas), arte é muito mais inspiração do que razão. Talvez esta seja a grande crítica que Nietzsche faça ao velho Professor Grego de Estagira.

Já a sabedoria prática é uma das virtudes de uma das duas sub-partes racionais da área racional da alma humana. “A sabedoria prática deve ser, então, uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir no que diz respeito às ações relacionadas com os bens humanos”.13 A Sabedoria Prática é o que o autor chama de Ação, que é o conhecimento humano que vem do particular. Ela forma opiniões. Seu objeto de estudo pode variar. Alguns animais a possuem e neste caso parece haver certa confusão do autor entre sabedoria prática e instinto animal. Para Aristóteles, as pessoas ignorantes possuem mais capacidade de Sabedoria Prática do que Filosófica. A Sabedoria Prática está para os grandes líderes, estadistas, Guardiões do Estado, pois precisam tomar decisões imediatas a respeito de determinados assuntos.

O conhecimento científico, outro dos 5 princípios, é um juízo acerca de coisas universais. Aqui reside um misticismo e um equívoco que influenciará o Tomismo muitos séculos depois. Para o autor, estas coisas universais não podem e não devem ser objetos de conclusão ou demonstração pois são derivados dos primeiros princípios. O Primeiro Princípio poderia ser Deus ou o conjunto de Deuses e semi-deuses da Mitologia Grega. Também poderia ser o motor primeiro, aquele quem dá início ao movimento de todo o Universo. Ao negar que o conhecimento científico possa questionar, analisar e discutir o primeiro princípio, estaria nosso autor compactuando com as crenças das elites dominantes sobre as religiões e seus deuses. Para o autor, a Razão Intuitiva é a única que pode analisar os primeiros princípios ou princípios primeiros. Pois é intuição, vem do particular para se chegar ao Universal. Ou seja, depende do indivíduo para se chegar a tais conhecimentos. O Tomismo assumiu esta argumentação e a defendeu com muita firmeza. Poderíamos dizer de certo modo que uma mistura de Sabedoria Prática (em certo sentido) e a Razão Intuitiva estão para Aristóteles assim como o Conhecimento Sensível está para Platão. Ambos são individuais, resultam do particular, não se baseiam na razão (não totalmente, pelo menos em alguns casos quanto a decisões da Sabedoria Prática) e são pessoais.

Já a Sabedoria Filosófica é a combinação da Razão Intuitiva com o Conhecimento Científico. “A Sabedoria, então, deve ser, entre todas as formas de conhecimento, a mais perfeita. Daí se segue que o homem sábio não apenas terá o conhecimento do que decorre dos primeiros princípios, como também terá uma concepção verdadeira a respeito desses próprios princípios”.14 A Sabedoria Filosófica é também outra virtude da sub-parte da alma. Portanto, a Sabedoria Filosófica é conhecimento Universal. Para o autor, é mais importante do que a Particular, baseado na Sabedoria Prática. A Sabedoria Filosófica também produz felicidade. Contudo, deve haver uma espécie controladora de ambas as Sabedorias.

Existe uma discordância quanto ao conceito de inteligência dada por Platão e o de Aristóteles também. Platão acredita que a inteligência é eterna e imutável e está presente no Mundo das Idéias. Para Aristóteles a inteligência não se relaciona com as coisas imutáveis e eternas, “mas com aquelas sobre as quais podemos ter dúvida e deliberar”.15 Nosso autor se mostra extremamente coerente e não contraditório com sua opinião sobre o motor primeiro ou princípio primeiro ou a Teoria do Ato Puro, pois acredita que tais fundamentos do Universo não podem e não devem ser estudados, pois não são objetos do Conhecimento Científico. Aparentemente o papel da inteligência é o de julgar e o de ter a perspicácia para tal. Ser inteligente é ter discernimento para atuar com Sabedoria Prática.16

Portanto, chegamos ao Universal a partir do particular.17 Ou seja, são as ações baseadas na Sabedoria Prática que ditam as regras que vão conduzir o Particular a se encaixar na sociedade, no Universal.

Finaliza dizendo que a Sabedoria Filosófica é a parte superior de nossa alma.

Livro VII

Inicia discutindo sobre as três espécies de disposições morais a serem evitadas: o vício a incontinência e a bestialidade. Cada uma das três possui suas posições antagônicas: a virtude, continência e algo de angelical, muito bom ou “semente dos deuses” para se contrapor a bestialidade.

Neste capítulo podemos dizer que há um festival de preconceitos e de moralismos exacerbados típicos de reacionários de plantão. Aristóteles inicia o festival chamando os seres “efeminados” ou “frouxos” de exemplos de pessoas incontinentes pois estes não possuem controle sobre os prazeres do corpo.

“Entre os alienados, aqueles que são assim por natureza e vivem apenas pelos sentidos, são bestiais, como por exemplo certas raças de bárbaros remotos, e os que são alienados em decorrência de alguma doença (como a epilepsia, por exemplo) ou da loucura, são mórbidos”.18 Não é necessário esclarecer que o autor quando fala dos bárbaros está se referindo aos povos Orientais em especial aos Mouros.

Por um lado se percebe muita moralidade nos escritos do autor, mas por outra, também se vê uma análise do psicológico e do comportamento dos seres humanos muito importante e cerca de 24 séculos antes de Freud. Sem dúvida, assim como nosso autor lança as bases para o nascimento da Biologia, Aristóteles também lança um olhar sobre a Psicologia.

Faz uma análise quanto ao apetite do homem que para ele não possui freio enquanto a cólera ou a raiva extrema, teria controle. “Fica claro, portanto, que a incontinência relacionada com o apetite é mais censurável do que a que se relaciona com a cólera”. O autor volta na questão da incontinência e frouxidão dos efeminados e ainda, de quebra, diz que aqueles que gostam de se divertir, se opõe ao trabalho e estão mais ao lado do vício do que da virtude, pois estão viciados no desejo de sentir prazer. Ou seja, de certa forma é crime ser hedonista.

Falando em prazer, o autor entra na discussão com posições que nunca chegam a um consenso sobre o tema. Ora o prazer é o maior dos males ou prejudicial ao homem, ora faz bem, ora deve ser dosado na medida certa, enfim, não conclui o que realmente pensa. O sofrimento por um lado é uma forma de se brecar o prazer, pois quando sentimos dor ou algo que nos prejudica, nosso corpo está nos avisando que alguma coisa está errada. Portanto, nem sempre o prazer é benéfico, as vezes o sofrimento pode nos trazer mais benefícios e o prazer malefícios do que possamos imaginar, assim diz Aristóteles.

Em resumo, existem diferentes tipos de prazer para o autor. Alguns podem levar a felicidade, outros não. Mas aparentemente o que se tira de conclusão é que mesmo se o prazer se expressa na felicidade extrema do ser, este deve ser evitado pois desse modo estamos distantes do meio termo, do equilíbrio e da temperança. Portanto devemos nos reprimir e sermos calmos, pacientes, temperados, enfim, virtuosos.

Livro VIII

Entramos no Capítulo oito e iniciamos a discussão acerca da amizade e do que vem a ser a mesma.

“A amizade também parece manter as cidades unidas, e dir-se-ia que os legisladores preocupam-se mais com a amizade do que com a justiça, pois buscam assegurar acima de tudo a unanimidade, que parece assemelhar-se a amizade, ao mesmo tempo que repelem ao facciosismo, que é o maior inimigo das cidades. Quando os homens são amigos não necessitam de justiça, ao passo que mesmo os justos necessitam também da amizade; e considera-se que a mais autêntica forma de justiça é uma espécie de amizade”.19

A Justiça e os Políticos precisam da amizade entre as pessoas, pois assim se evitam as facções.

O autor inicia uma discussão nos trazendo a idéia de que somente o que é útil ou agradável deve ser amado.20 Acredito pessoalmente que existe um grande equívoco, principalmente nos dias de hoje a respeito do que o autor nos diz. Vou citar alguns exemplos, do que hoje em dia é considerado útil, portanto para o autor deve ser amado e do que não é. Ao primeiro exemplo direi que o automóvel é um bem útil para diversos usos em nossa sociedade, portanto pela lógica Aristotélica, deve ser amado. Porém, como podemos amar ou idolatrar uma máquina que é responsável pela destruição do planeta e por ter um fetiche que deslumbra a sociedade que deseja tê-lo a todo custo, não levando em conta que sua fabricação envolve uma grande quantidade de matéria prima e de produção de lixo de várias espécies. A pergunta que fazemos é: devemos amar os automóveis? Sobre a segunda questão que nos envolve o autor, o que não deve ser útil, não deve ou não precisa ser amado. Pois bem, se fossemos levar em conta o que não é útil em nossa sociedade, para imensa maioria dos jovens de nossa sociedade, estudar é algo completamente inútil, portanto não deve ser amado. A questão que levanto é: o que aconteceria com a Filosofia caso estes dois exemplos de utilidade e amizade do velho autor Grego fossem postos em prática?

Continuando a questão política da amizade, o autor cita um provérbio, “os amigos têm bens em comum”, e somado ao discurso de que a verdadeira sociedade de amigos deve ser aquela em que os homens estão unidos como numa associação. Tal passagem nos faz crer que é somente a verdadeira sociedade comunista que conseguirá realizar e concretizar a verdadeira sociedade de amigos. Enquanto houver diferenças de classes ou a existência das Classes Sociais, não se materializará a sociedade comunista.

“E as imposições da Justiça também parecem aumentar com a intensidade da amizade, o que significa que a amizade e a justiça existem entre as mesmas pessoas e têm uma extensão igual”.21 É interessante tal passagem pois nos faz entender que quanto mais amigável é uma sociedade, ou seja, quanto mais unida ela é, menos necessidade de Leis para organizá-la e que o contrário também vale, pois quanto menos unida e mais conflituosa é uma determinada sociedade, mais as Leis precisam estar presentes e serem severas para por em ordem aquilo que a amizade deveria fazê-lo. Isto também é reflexo do que se originou chamar nos século XIX de Luta de Classes e somente o acirramento deste conflito criará a sociedade dos amigos ou mais amigável. Assim pensaram e pensão diversos autores a respeito do tema.

Em passagem posterior, Aristóteles faz críticas a Democracia chamando a de desvio da Timocracia, pois o Governo do povo é a degeneração da Timocracia e a menos mal das três espécies de perversão das formas de governo. A Monarquia degenera em Tirania e a Aristocracia em Oligarquia. Típica opinião de um homem, intelectual de seu tempo.

Noutra passagem, diz que os filhos não podem ser escravos dos pais como fazem os Persas, mas os Senhores de Escravos Cristãos podem ser donos de escravos e traficantes de escravos sem problema algum.22 Nesta passagem Aristóteles mostra-se completamente contraditório quando fala da Monarquia. Os Cristãos Ocidentais podem ter seus escravos e até aí tudo bem. Porém, os Persas, bárbaros degenerados, que escravizam os próprios filhos, não o podem fazer pois isso é tirania. Como diz o ditado popular, pimenta no olho dos outros é refresco.

E logo adiante, talvez para explicar o que disse acima, nosso autor dá a entender que existem escravos que não merecem o título de homens, mas sim de ferramentas para o trabalho braçal. “O escravo é uma ferramenta viva e a ferramenta é um escravo inanimado”.23

Livro IX

Inicia fazendo uma discussão acerca do amor e da forma correta de se amar as pessoas. “Esses incidentes ocorrem quando o amante ama o amado visando o prazer, e o amado ama o amante visando à utilidade, e nenhum dos dois possui as qualidades que deles se espera. Se o prazer e a utilidade são os objetivos da amizade, esta se desfaz quando os dois não obtêm as coisas que constituíam os motivos de seu amor; nenhum deles amava o outro por si mesmo, mas apenas as suas qualidades, e estas não eram duradouras, e é por isso que essas amizades são também transitórias. Mas a amizade que se baseia no caráter das pessoas, como já dissemos, é duradoura, porque neste caso as pessoas se amam pelo que são”.24 Portanto, o amor monogâmico deve ter a amizade como base, e esta deve estar amparada no amor e principalmente no caráter das pessoas.

Aristóteles também volta a criticar os Sofistas, aliás, algo corriqueiro em suas obras e em diversos capítulos deste livro.

Existe uma passagem em sua obra que deixa claro qual o tamanho da influência desta obra no método de Descartes de fazer Ciência: “A existência é um bem para o homem virtuoso, e cada um deseja para si o que é bom, enquanto ninguém desejaria possuir o mundo inteiro se para tanto lhe fosse preciso tornar-se uma outra pessoa (em relação a isso, só Deus já tem a posse do Bem). Um homem dessa espécie só deseja ter o que é bom com a condição de continuar sendo o que é; e o elemento que pensa parece ser o próprio indivíduo, ou sê-lo mais do que qualquer outro dos elementos que o formam”.25 Penso, logo, meu ser está ligado ou fadado a existir. O ato de pensar me faz vivo e presente aqui e agora e é isso que nos traz a faculdade de nos diferenciarmos do restante dos animais. Pensar é viver e existir, penso, logo, existo.

Mudando de assunto e voltando a questão do capítulo anterior, na discussão da amizade, a homogeneidade entre as pessoas, facilita a governabilidade para o Estado. Quanto mais parecidas forem todas, mais fácil será para o Estado tomar as decisões certas para governar um povo. “A conformidade de opinião parece, então, ser a amizade política, e de fato ela geralmente é assim considerada, pois se relaciona com coisas de nosso interesse e que tem influência em nossa vida”.26 Para os positivistas, em especial Auguste Comte e Durkheim, a conformidade de opiniões é importante para manter a ordem e o necessário progresso e desenvolvimento da Indústria e do Capitalismo. Parece que nosso autor grego já influenciava bastante os Sociólogos do Século XIX e XX.

Portanto, ao sermos bons homens, praticando sempre mais e melhor o bem, estamos dentro da teoria do Ato-Potência criada pelo autor. Ser um homem bom é Potência. Tornar-se melhor ainda praticando sempre o bem, é Ato.

Entende-se de certa forma porque um homem que trabalha muito e é muito apegado a seus bens, torna-se avarento, pois de acordo com o autor, damos muito valor as coisas que conquistamos com muito suor e esforço. Entende-se assim o comportamento de certas pessoas em nossa sociedade para com as coisas que possui.

Voltando a discussão das relações amorosas e também da amizade, Aristóteles acredita que a relação de um casal ou de amigos, deve sempre ser debatida e discutida exaustivamente para que a mesma (a relação) não se torne conformada entre ambos e acabe parecendo muito mais um comportamento de gado pastando no campo. “Ela necessita, portanto, ter consciência igualmente da existência de seu amigo, e isso se verificará se viverem juntos e compartilharem suas discussões e pensamentos; parece ser este o significado de convivência no caso dos homens, e não, como no caso do gado, pastar juntos no mesmo lugar”.27 Portanto, para o ser humano ser feliz, é preciso ter amigos virtuosos. Disso, até Epicuro concordaria.

Livro X

Este capítulo retorna a discussão do prazer. Aos jovens, só se educa pelos extremos: ou o prazer ou o sofrimento. Como se os jovens fossem massa de rebanho para serem educados desta maneira. Assim inicia o autor seus comentários a respeito da educação dos jovens.

O prazer seria o bem e o sofrimento seria o mal. Assim pensam a maioria dos homens, não enxergando que em ambos pode haver coisas boas e coisas ruins. Enxergar o meio termo entre ambos é difícil. “Parece claro, então, que nem o prazer é o bem, nem todo prazer é desejável, e que alguns prazeres são efetivamente desejáveis por si mesmos, distinguindo-se eles dos outros em espécie ou quanto a suas fontes”.28

De fato, o que podemos entender nisso tudo é que a finalidade da natureza humana é buscar a felicidade. Porém, a forma como devemos encontrar a felicidade é que faz com que haja discordâncias quanto a afirmação acima.

“A felicidade, portanto, não está na recreação; e seria mesmo estranho que a recreação fosse a finalidade última da vida, e um homem devesse esforçar-se e suportar dificuldades durante toda a vida simplesmente para divertir-se”.29 E logo no parágrafo seguinte: “Pensa-se que a vida feliz é conforme a virtude. Então, uma vida virtuosa exige esforço e não consiste em divertimento”. Tais argumentações do autor lançaram base para o Cristianismo e suas crenças, que argumentam que a vida terrestre deve ser recheada de dificuldades, durezas, asperezas do cotidiano e que uma vida futura, nos céus, junto a deus, os anjos e os santos, seria a vida eterna para fazer justiça às injustiças sofridas por essa pobre alma que tanto sofre na Terra. Essa argumentação caiu como uma luva para os interesses da Igreja, principalmente durante a Idade Média, quando a difícil condição de vida do povo, acreditando em tais argumentos Aristotélicos, não entrava em choque com as Instituições do Poder da época e mantinha-se cordeiro, paciente, tolerante, continente, do jeito que nosso Filósofo grego de Estagira queria: um povo virtuoso.

Um pouco adiante, diz que a vida divina é aquela levada em conformidade com a reta razão. O homem é a razão e pautar a vida por ela é ser mais feliz. Acredita o autor que o homem feliz não precisa ser necessariamente rico. Os homens felizes são aqueles sem apego aos bens materiais, são pessoas temperadas, calmas e que praticam ações nobres. O Filósofo é a pessoa mais feliz e a mais querida entre os Deuses porque o Filósofo pratica a sabedoria e exerce o saber no cotidiano.

Um pouco adiante, trata a obra da finalidade das Leis e, este objetivo dever ser o de buscar as virtudes ou tentar provocar nos homens a busca pelas boas ações sempre educando o povo. O Estado deve criar Leis que disciplinem a moral e o comportamento de crianças e jovens, ou seja, o Estado deve intervir nestes detalhes da educação do ser. O Estado também deve legislar a respeito da educação do povo de modo a torná-lo melhor.

Também numa determinada passagem, deixa claro o autor que a Educação e a Medicina Privadas são de melhor qualidade do que a pública. Pois a Pública tende a ser generalista, para toda a população, enquanto a privada tende a ser para os específicos ou os particulares. Ou seja, deve haver uma Educação para preparar os melhores e para atender suas saúdes também. É a sociedade da Meritocracia que visa formar Filósofos Reis ou Guardiões das Leis e do Estado. Por isso da necessidade de diferenciação entre os serviços. No fundo, ele é coerente com a Aristocracia que defende.

Finaliza confirmando que é do Universal que se realizam as Ciências e se um homem pretende ser Cientista, deve estudar o Universal para chegar ao Particular.

Governar é a arte da Política. É o que podemos entender neste término de obra. Haverá diferença entre as artes e a Política? Para ele, os políticos deveriam ensinar política, mas a boa política. “Ora, as Leis são, por assim dizer, as “obras de arte” da política; como, então, é possível aprender com pessoas inexperientes a ser legislador ou julgar quais sejam as melhores?”.30 As Leis são, portanto as obras de arte da política.

O autor nos finaliza dizendo que depois de estudarmos todas estas questões, estaremos prontos para analisarmos qual a melhor constituição para um determinado povo, como deve se estruturar cada uma delas e quais as Leis e costumes devem ser criados para fortalecê-los para que estas Leis sejam as melhores possíveis. Entende-se aí a razão e a necessidade do porque se estudar política. Para construirmos uma sociedade melhor a todos.

Considerações Finais:

Sem sombra de dúvida, Aristóteles é um Filósofo completamente moralista e um Aristocrata de seu tempo. Assim como Platão em “A República”, Aristóteles consegue definir em mínimos detalhes o que deve ser feito ou não para criar essa sociedade onde os melhores vençam e sejam os que governam. Uma sociedade que preserva os ideais da meritocracia.

Na visão libertária sobre a educação de uma criança ou jovem, não pode haver disciplina de cima para baixo ou do Estado para com as pessoas e as crianças e os jovens. Elas devem e podem se disciplinar sozinhas. A questão é o tempo que levarão para fazer isso. Algumas demorarão toda a vida para fazê-lo, mas o farão sem traumas e serão pessoas felizes e realizadas por isso. Outras, podem fazê-lo já aos 17 anos, quando terminam a Escola e entram no Exército aos 18. A grande pergunta que os nossos Educadores, o Estado, Professores e a Sociedade nunca fazem é: qual é o objetivo da nossa educação? Se a resposta a esta pergunta é simplesmente servir ao Estado, as Leis e ao desenvolvimento do Capitalismo e das sociedades humanas, excluiremos por definitivo o ser humano e sua realização pessoal de vida deste processo. O homem neste modelo educacional nada mais é do que peça substituível de mão de obra barata e descartável para o Capital. Agora, se o objetivo de todo o processo educacional é libertar o homem, então não há necessidade de imposição de disciplinas, regras, ordens, moral e outros meios de castração do ser. A Escola será livre ou não será Escola! Será mais um dos tantos presídios do Estado ou do Capital espalhados por todos os cantos do mundo. Tais como as fábricas, as empresas, as universidades, os colégios, as igrejas, as próprias Escolas. Estas serão todas instituições do aprisionamento do saber e do ser e não locais de libertação do homem. É assim que vê o mundo nosso caro Filósofo amigo, Aristóteles.
1 Pg. 17.
2 Pg. 26.
3 Pg. 49.
4 Pg. 55.
5 Pg. 72.
6 Pg. 80.
7 Pg. 80.
8 Pg. 81.
9 Pg. 90.
10 Pg. 106.
11 Pg. 110.
12 Pg. 131.
13 Pg. 133.
14 Pg. 134.
15 Pg. 139.
16 Pg. 140.
17 Pg. 140.
18 Pg. 155.
19 Pg. 173.
20 Pg. 174.
21 Pg. 185.
22 Pg. 187.
23 Pg. 189.
24 Pg. 195.
25 Pg. 201.
26 Pg. 204.
27 Pg. 212.
28 Pg. 221.
29 Pg. 228.
30 Pg. 238.

Aristóteles: pequeno resumo de seus métodos.

Abaixo um material desenvolvido por mim sobre os métodos Aristotélicos para a verdade. Usado em sala de aula.


Aristóteles – 384 A.C. a 322 A.C

Nascido na cidade de Estagira, com cerca de 18 anos, chega a Academia de Platão em Atenas onde inicia seus estudos formalmente. A visão objetivista ou finalista neste autor é a grande influência para Darwin no desenvolvimento do Evolucionismo e na Teoria das Espécies. Aristóteles foi influenciado por Anáxagoras de Clazômenas, que acreditava que o Universo era formado pelo arquétipo “Nous” que do grego seria o espírito ou mente ou a inteligência. Anáxagoras acreditava que Nous germinaria cada uma das sementes e que estas resultariam nas matérias presentes no nosso Universo e que estas dariam origem ao “Mundo das Sombras” (apesar de Aristóteles não trabalhar com essa dicotomia entre os dois “Mundos”). Portanto para este Filósofo Pré-Socrático, cada uma das sementes que criaria a matéria tinha sua função no desenvolvimento do mundo e do Universo. Aristóteles segue a mesma técnica e raciocínio, sempre designando a seus objetos de estudo objetivos próprios em seus meios. Este modo de se enxergar a realidade, baseado em finalidades próprias (ou objetivos próprios) de cada ser ou objeto, é baseado na idéia de que é a finalidade dos seres que determinam o que eles são ou viriam a ser.

Tanto Anáxagoras quanto Empédocles de Agrigento são considerados Filósofos Evolucionistas, ao contrário de Aristóteles, que não aceita Leis Gerais da História ou da Biologia e sim acredita na Particularidade que todo ser e objeto a ser estudado traz de informações importantes de si mesmo. É importante não confundir particularidade com opinião pessoal e relativismo da opinião pessoal. Ao se buscar a verdade no particular, ao invés de buscar no todo, Aristóteles acreditava que podia colher informações das espécies ou objetos estudados, retirando da parte (ao invés do todo) as conclusões que precisa.

A existência de Causa para a vida do objeto ou do ser está ligada a sua finalidade. Ou seja, a causa está ligada ao fim (função ou objetivo) do objeto ou do ser em questão. A Causa para Aristóteles é tudo aquilo que contribui para a realidade de um ser. São 4 os tipos de causa para nosso autor: material, formal, final e eficiente. A Causa Material tratava da substância que compunha um determinado material. A Causa Formal é a que define um objeto ou ser. A Causa Final é aquilo que resulta o ser ou o objeto e a Eficiente, é o agente que cria os objetos, o homem e o resultado de seu trabalho.

Aristóteles fez a catalogação de muitas espécies da flora e da fauna. O modo da divisão dos animais até hoje é plenamente utilizado pela Biologia. Esta índole classificatória está presente em toda sua obra. Aristóteles também foi responsável pela organização, crítica e análise de quase dois Séculos de Filosofia Grega que o antecederam, dos Pré-Socráticos, aos Sofistas, Sócrates, Platão e da Filosofia Oriental. Sua obra é responsável pela criação da primeira Enciclopédia na história do mundo Ocidental.

O método de Aristóteles é definido pela divisibilidade, ou seja, para se chegar a verdade, ele pretendia que o objeto a ser estudado pudesse ser dividido em quantas partes fosse necessário para obter deste o conhecimento que se pudesse extrair do mesmo. Podemos dizer que o método de Sócrates foi a Maiêutica, de Platão, a Dialética ou a arte do diálogo e do convencimento presente em muitas de suas obras (influencia direta de Sócrates). Em Aristóteles, sua principal ferramenta era a Lógica ou Analítica como era chamado por ele.

Apesar da grandiosidade de sua sabedoria, Aristóteles, assim como Platão e Sócrates (estes dois últimos, ao defenderem a Instituição da escravidão), não conseguiram como homens de suas épocas saltar diante dos preconceitos e do injusto sistema social que os cercava. Aristóteles não concordava com a fusão da Civilização Oriental e Grega, tal como queria o Rei Alexandre, o Grande, príncipe da Macedônia. Chamava os diversos povos Orientais de Bárbaros, algo não muito diferente do que a grande mídia e o Cristianismo fizeram e fazem até os dias de hoje.

Porém toda a obra de Aristóteles está fortemente amparada no estudo das culturas dos povos e de suas respectivas histórias. Tal comportamento, irá influenciar profundamente a obra do Sociólogo Max Weber, um dos três grandes clássicos da Sociologia, cerca de 23 séculos depois.

Para Aristóteles, o método Platônico da Dialética é propenso a cair em relativismos, o que era inaceitável para este. A proposta de que a busca pelo conhecimento deveria acessar o “Mundo das Idéias” para retornar ao homem no “Mundo das Sombras”, realizando um movimento de repetição contínua ou de auto-alimentação, portanto Dialético, abria margem para flexibilidades que na Ciência ou como método sem falhas para a investigação Filosófica, estaria fadado a problemas. Aristóteles rejeita a idéia de transcendência da alma proposta por Platão e de uma duplicação da realidade do “mundo sensível” no “mundo das idéias” considerando a desnecessária. Para ele, a única realidade válida é a do mundo concreto feito por seres únicos. Portanto, a dialética de Platão seria reduzida a condição de exercício Filosófico mental, de acordo com Aristóteles, ferramenta ou método não adequado para se chegar a verdade. Baseando-se neste raciocínio sobre a Dialética de Platão, é que Aristóteles desenvolve a Lógica ou Analítica, proposta do mesmo de método para se chegar a conclusão ou verdade.

Numa coisa, quanto a questão do método, os três clássicos da Filosofia Grega concordavam: Ciência só pode existir do Universal e não do individual. Ou seja, a verdade universal e científica é voltada para todos, é coletiva, não pode variar de acordo com a opinião de um e de outro.

Resenha de "A República". Platão.


A República – Platão
Por Fernando Monteiro1.

Livro I:

A obra é um diálogo imaginário entre Sócrates e amigos que se passa na casa de Céfalo, pai de Polemarco e outros. Presentes também eram Glauco e Adimanto, filhos de Aríston, pai de Platão e seus dois irmãos respectivamente.

Iniciam então os presentes uma conversa do que seria então a Justiça, a Injustiça e outros comportamentos acerca dos dois temas. A discussão acerca do que é a Justiça se trava com Trasímaco quando o mesmo defende que a justiça é prática dos tolos e que a injustiça, ação dos espertos. É conveniente ao mais forte se utilizar da força e da injustiça, assim como é justo que os fracos executem as ações ordenadas pelos poderosos contra si mesmos. Da mesma forma, e aí Trasímaco cai em contradição, é também justo que o fraco cometa atos prejudiciais aos poderosos e governantes. Trasímaco então explica que é cômodo ao governante utilizar da força contra o fraco e que isto seria justo. A meu ver, Trasímaco faz mais uma constatação da realidade do que propriamente afirmar uma defesa em torno das injustiças. Talvez, o texto esteja sendo escrito nos momentos de fúria de Platão e suas discordâncias aos Sofistas, já que Trasímaco era Sofista.

A discussão sobre vício e virtude também se coloca na obra. Aparentemente a discussão em torno da Justiça e Injustiça devem se esgotar para se ter uma idéia de que não se chegará a tal sociedade justa, sonhada nesta obra “A República”, se não houver mudanças educacionais e culturais na sociedade e na formação dos futuros governantes.

O Idealismo na Filosofia de Platão está presente em toda a obra. Se é a educação e a cultura que transformará e tornará justa a sociedade, está aí demonstrado que acredita nosso autor e seu Professor, Sócrates, na “força das idéias”.

Livro II:

Ao iniciar o segundo livro, Glauco começa um diálogo com Sócrates defendendo as preocupações e alguns argumentos de Trasímaco de modo a dar continuidade ao debate, pois Trasímaco havia ido embora.

Num dos raciocínios elaborados por Glauco, ele cita a estória de Giges, um pastor que descobre um anel que caso colocado no dedo, tem o poder de fazer invisível aquele que o usa e retorna a visibilidade ao retirar o anel do dedo. Tal estória nos remete ao clássico “O Senhor dos Anéis”.

Dando continuidade aos debates do livro, Sócrates inicia uma discussão a respeito de Deus, seu papel na sociedade e sua função. Numa passagem da obra tem se a impressão de que o “inferno” dos cristãos para os Gregos seria o Hades. Hades é a região subterrânea onde ficava a mansão dos mortos. É para lá que vão as pessoas que não são justas ou corretas na vida na terra.

Sócrates reinicia então a discussão acerca da Justiça com seus pares, já revoltados por não se chegar a conclusão alguma.

Livro III:

Se inicia discutindo o que deve ou não ser contado as crianças pelos narradores de fábulas, principalmente quando o assunto abordado forem os grandes homens da história, guerreiros ou ilustres personalidades. A impressão que se tem é a de que há uma grande censura sobre tal assunto e que também há uma personificação ou forte culto às grandes lideranças do passado, o que automaticamente me lembra os preparativos para os regimes despóticos, por mais que não sejam estes os interesses de Platão.

Ao se discutir tais assuntos, sobre o que entra ou não no processo educacional das crianças que serão no futuro os Guardiões da Sociedade ou os Governantes do Estado, percebe-se uma posição um tanto moralista e tradicionalista senão um forte conservadorismo em Platão.

Em certas passagens, existe até a defesa do uso da mentira para que fatos que depreciem a imagem destas ilustres personalidades sejam abafados ou censurados. Não nos parece haver aí uma grande contradição? Construir a sociedade justa (que teoricamente deveria se eregir sobre a realidade e a verdade) embasado na mentira?

Neste terceiro livro, ao iniciar um diálogo com Ilíada de Homero, a todo tempo existe um ataque aos diversos argumentos e passagens da obra que façam citações dos diálogos dos Deuses entre si ou com os homens. As argumentações, como dissemos a pouco, tem caráter moralista em relação a possíveis ações (ou não) de deus sobre o homem.

A censura também aparece nas diversas artes: oratória, música, literatura (infantil e adulta) e ainda nas poesias. Sócrates também se debruça sobre a importância da associação entre atividade esportiva e boa alimentação. Defende a ginástica para educar o corpo e a Filosofia para educar a alma.

Também deseja que deve ser proibido aos guardiões se embriagarem, o que por suposto nos faz pensar que tal proibição deva se estender sobre outros tipos de drogas.

Para nosso narrador, a característica principal de nosso Juiz (o Guardião) deve ser a idade avançada pois acumula conhecimento com a vida e com as práticas de seus ensinamentos e treinamentos. Sócrates também fala das moradias dos Guardiões e do seu modo de vida: devem viver em locais simples como tendas ou barracas semelhantes a dos militares. Também devem ter uma vida simples e humilde, distanciando-se de objetos de valor, jóias e outros. Não devem possuir em toda sua vida, bens móveis e imóveis e jamais tocar ou morar em locais que contenham utensílios de ouro ou metais preciosos afim de não poluírem suas almas, honestidades e talvez suas inocências. Os bens dos Guardiões devem resumir-se apenas a objetos de primeira necessidade. Tudo isso para garantir que a justiça seja preservada na Pólis.

Livro IV:

Para Sócrates, a cidade justa, não deve ter riquezas e nem ser rica. Acredita o narrador que seria um chamariz para a cobiça de outros povos e um convite a invasão, ao saqueio e a guerra.

Geograficamente e politicamente falando, a Pólis deve ter um limite na sua expansão: até onde ela conseguir se manter unida, não definindo com exatidão o que queria dizer a respeito da expressão unida.

É considerado como o Guardião perfeito, aquele que se importava com a segurança da cidade e com sua vigilância. A cidade que escolhe tais tipos de Governantes é tida como ponderada e sábia.

Já a preocupação com a ponderação ou a temperança, devem ser a do domínio do prazer e dos desejos. A mim, pessoalmente mais se parece com uma grande repressão a muitos desejos da vida. Nos lembra junto a auto-punição, a controle de ferro sobre a sociedade.

Voltando a organização política do Estado, o Guardião será ao mesmo tempo o Poder Judiciário e o Poder Executivo.

Numa passagem da obra pouco adiante, Sócrates deixa claro que a ascensão ou queda dos membros das classes sociais não deveriam ocorrer pois isso seria a ruína da sociedade. Notamos nessa argumentação, um comportamento muito elitista, de não deixar misturar os componentes de uma classe a outra.

Para ele, Justiça = Saúde = Virtude. Injustiça = Doença = Vício.

Livro V:

Inicia discutindo um pouco da cidade ideal e da Constituição ideal (também chamado de sistema de governo ou sistema político).

Em seguida entra na discussão das mulheres, em que acredita que as mesmas podem ser Guardiãs e devem ter o mesmo acesso aos estudos que os homens. Estudam juntos tanto no Ginásio quanto na Magistratura, algo demonizado pela Igreja Católica após o início da Idade das Trevas até o princípio do Século XX.

Também há uma passagem na obra que demonstra a inutilidade (para o autor) dos aleijados. Para Platão, estes devem ser isolados da Sociedade.

Mudando de assunto e voltando para a questão dos Guardiões e seu processo educacional. Estes devem ser intocáveis. Eles deveriam ser sustentados pelo povo. Não teriam salários e nem regalias. Além disso, os mais velhos tem o direito de comandar os mais novos. Numa passagem, em função do treinamento, as crianças devem ser enviadas a Guerra de modo a assistir os conflitos e sempre na companhia de um adulto para resguardar os pequenos. O objetivo de tal atividade deve ser o de ensinar a arte da guerra as crianças.

Este livro também deixa claro que o soldado que desertar, deve descer de classe social a qual pertença, ou seja, jamais será soldado. Aquele que for capturado, deve ser entregue ao Exército inimigo para que seja prêmio dos mesmos. É bom lembrar que, para os Gregos, assim como para Platão, a escravidão é um regime aceitável.

Não deve haver guerra entre os Gregos pois estes não devem ser inimigos. Caso ocorra, não deve ocorrer sedição ou discórdia.

Ao término do capítulo, há a explicação do amigo da sabedoria: o Filósofo.

Livro VI:

Bons atributos para um Filósofo que se pretenda Guardião do Estado: ser comedido e ter temperança. Também para Platão, as cidades que não forem governadas por Filósofos estão fadadas ao fracasso. Além do que, para ele, o Guardião não deve de maneira alguma possuir outro trabalho ou atividade. Poucos são os verdadeiros Filósofos e muito poucos são os aptos a serem os Guardiões.

Também para Platão, os Sofistas não são e não deveriam ser considerados Filósofos. Este trecho faz parte das discordâncias aos Sofistas, orquestrada pelos três grandes filósofos da Grécia antiga: Sócrates, Platão e Aristóteles.

Para Platão, o Governo dos Filósofos deve ser perfeito e se assemelhar a um Governo de Deus, pois o mesmo convive com coisas divinas. Para ele, não haverá ordem nas Pólis enquanto os Guardiões não forem estabelecidos como Governantes.

Neste Livro, define-se as Sabedorias da Alma: Justiça, Temperança, Coragem e Sabedoria. O justo e o belo devem sempre estar junto do bem afim de terem uma boa constituição.

Neste mesmo capítulo, inicia-se a discussão acerca do que é Sensível e Inteligível. Platão cita um exemplo, ao vermos o Sol, ele é visível, portanto, nós tomamos conhecimento do mesmo através de nossos sentidos. Portanto, o Sol é Sensível e a idéia de bem que o Sol nos traz é Inteligível. Aquilo que nasce da razão, que é portanto um conhecimento imutável, objetivo e impessoal, é Inteligível. Aquilo que nós presenciamos através de nossos sentidos (audição, visão, olfato, tato, paladar), é subjetivo, que é mutável, que é pessoal, é Sensível.

Livro VII:

Neste Livro, reside uma das mais belas passagens da obra de Platão, o Mito das Cavernas. Conta a estória que Platão teria escrito a mesma como protesto pela morte de Sócrates que fora obrigado a tomar o veneno cicuta. Platão tenta comparar os juízes, governantes e o povo de Atenas aos prisioneiros da caverna, que não tiveram sabedoria para lidar com o conhecimento e altruísmo de Sócrates.

A história narra a vida de vários homens acorrentados e presos dentro de uma caverna, virados durante toda sua vida de frente para a parede, de tal modo que não conseguissem virar suas cabeças para o lado, mas somente olhar para frente. Ao fundo destes prisioneiros, ficavam os guardas da caverna que tinham suas sombras projetadas, refletidas sobre as paredes, pelas luzes que entravam de fora da caverna e expandiam suas imagens. O único som que conheciam estes prisioneiros era a dos guardas e dos seus murmúrios. Num belo dia, um destes prisioneiros consegue se soltar e sem ser notado pelos guardas, consegue sair para fora da caverna onde tem um grande choque com a realidade e com a forte luz do sol que quase cegava sua vista. Além disso, o som do mundo do lado de fora da caverna e todas as imagens que pode ver, lhe deu outra visão das coisas. Ao retornar para o interior da caverna e tentar convencer os demais prisioneiros de que aquilo que eles viam nas paredes nada mais era do que os vultos das pessoas e de que havia um mundo diferente do lado de fora, fora ironizado pelos colegas que disseram que a subida para fora havia lhe feito mal e que a claridade podia ter lhe cegado os olhos e que portanto, não valeria a pena subir para fora da mesma.

A estória é importante para mostrar o quanto é difícil para o homem deixar de lado seus costumes e tradições ou colocá-las em dúvida para conhecerem uma nova realidade ou um mundo novo. Também é considerada como um retrato da situação do homem em toda sua história e seu processo de alienação social em todas as sociedades humanas. Ela também é uma tentativa de se mostrar que ao estar dentro da caverna, o homem apenas possui o Conhecimento Sensível (apenas os sentidos dizem ao mesmo o que é realidade ou não) e que portanto ao sair da Caverna, é o Conhecimento Inteligível que está posto a sua nova realidade. Neste caso, o ato de sair da caverna para ver e sentir o sol, significa buscar a luz ou buscar o bem. O Sol nos lembra o significado do bem. É uma tentativa de se emergir da realidade alienante e alienadora para um mundo das verdades.

Para Platão, o conhecimento é inato ao homem. Não é necessário ensiná-lo. Ao cego não adianta querer dar-lhe a visão. Da mesma forma, o homem não se educa, ele já é educado, precisa apenas sair do seu processo de ignorância das coisas e do mundo para conhecer a verdade. O processo educacional ao qual defende Platão na obra é uma eterna tentativa de retirar o indivíduo do senso comum para o “Mundo das Idéias”.

É também durante a formação dos Guardiões que Platão chega a cogitar que estes devam ficam cerca de 15 anos dentro das cavernas como forma de se testar se a escuridão irá retirar a razão dos mesmos. Caso passem por este último teste, devem estes governar a cidade. O autor chega a propor que os cidadãos devam passar no total, por um período de estudo de 50 anos. Os que conseguissem se manter durante todos esses anos, seriam os futuros Filósofos Reis da Cidade.

Livro VIII:

Neste capítulo, Platão enumera as principais formas de Constituição (ou formas de governo). São elas na ordem da melhor para a pior: A Aristocracia, Oligarquia, Democracia e Tirania.

Assim como existem as boas formas de governo, existem as formas do comportamento humano que se associam com os sistemas de governo. Para Platão, o bom e justo cidadão se associa a Aristocracia. O saqueador dos cofres públicos e avarento com suas riquezas, se associa com a Timocracia, o Oligarca se mantém ignorante e sob má educação, enquanto o indivíduo que vive na Democracia é propenso a gastos com grandes paixões e o descontrole com o dinheiro.

Já para o autor, a Tirania nasce da Democracia pois é neste regime que há uma forte busca pela Liberdade. É desta busca desenfreada pela Liberdade que leva uns a desejarem o poder mais do que outros, o que faz com que a Democracia seja golpeada e levada a Tirania, levando a mesma a escravatura. É também a corrupção (Platão não usa o termo corrupção) no comando do Estado que leva a Democracia a ruína. Finaliza afirmando ter certeza que o único regime que leva a Tirania é a Democracia.

Livro IX:

O indivíduo é o micro-cosmo do Estado e este por sua vez, o macro-cosmo do indivíduo. Partindo deste suposto, Platão divide a cidade em três partes ou três corpos: o interesseiro, o ambicioso e o filósofo. Se existem três corpos, deve haver também os respectivos desejos e seus poderes.

Para o interesseiro, o que vale é o dinheiro. Para o ambicioso, são as frivolidades da vida e a luxúria. Para o Filósofo, a reflexão e o raciocínio. Durante todo nono livro, a discussão em torno das qualidades ou defeitos da alma em relação aos três corpos e seus respectivos sistemas políticos é constante.

Platão finaliza sinalizando que o Conhecimento Inteligível preenche o vazio da alma e que razão é sinônimo de respeito a Lei e a Ordem.

Livro X:

Platão, na figura de Sócrates, retoma a discussão da necessidade da Censura a poesias envolvendo tragédias e outros temas que pudessem mal educar os cidadãos da nova Pólis. Em especial existe uma censura as obras de Homero. Acredita o autor que quando poesias e estórias contando derrotas ou pormenorizando os Deuses ou grandes guerreiros chegam as mãos do povo, este se contagia com seu conteúdo e seria prejudicial a vida na Pólis.

O autor entra na discussão acerca da arte e seu envolvimento com a realidade. Pode a arte imitar a vida? Para Sócrates e Platão, não. Além de estar longe da verdade, a arte pode apenas retratar uma parte da realidade, apenas o lado que presenciar o pintor ou o poeta ou o músico. Dá o exemplo do olhar para a cama: o artista (no caso o pintor), pode retratar apenas um dos lados da mesma. A arte é Sensível, a verdade é Inteligível. Por mais que se pretenda, a arte está longe da verdade.

A preocupação em censurar parte da poesia lírica ou das epopéias, está amparada na idéia de que as mesmas tendem a levar o homem a governar a cidade entre o prazer e a dor no lugar da Lei e da Razão. Por isso, diante da tragédia (seja pessoal ou não), o Guardião e os Cidadãos devem primar pela temperança que se assemelha ao racionalismo ao invés do desespero que está próximo a irracionalidade.

Platão entra na discussão da eternidade da alma e de sua imortalidade. O término da obra se assemelha muito com as estórias do Cristianismo que já estamos cansados de ouvir. Do céu, do que ocorre por lá, entre outros detalhes, resguardadas as devidas diferenças e proporções. Toda a argumentação do Cristianismo em torno das recompensas depois da morte, ou de que a vida na Terra é difícil, por isso da possibilidade de uma melhor escolha para a alma caso quisesse voltar ao planeta, entre outras estórias. A influência dos Gregos sobre os Cristãos, ao término da leitura desta obra é nítida e uma certeza praticamente histórica.
1 Bacharel em Ciências Sociais com Licenciatura pela PUC-SP.