quinta-feira, 28 de maio de 2009

Morre um intelectual, sapateiro e anarquista...

Morre um intelectual, sapateiro e anarquista...

Aos 14 dias de maio de 2009, falece um guerreiro. Morre o escritor, historiador, sapateiro, intelectual e anarquista, Edgar Rodrigues. Pai de mais de 70 livros publicados em língua portuguesa no Brasil e em Portugal sobre a história do anarquismo e do movimento operário nestes países, Edgar ou Antônio Francisco Correia, ultrapassou grandes homens clássicos do anarquismo em número de publicações, tais como Proudhon, Bakunin ou Kropotkin.

Ficam aqui as nossas sinceras homenagens a este bravo companheiro que lutou durante toda sua vida por uma sociedade mais justa e melhor ao povo trabalhador.

Saúde e anarcosindicalismo!

Fernando Monteiro.

Abaixo transcrevo mensagem de solidariedade do movimento de reconstrução da Confederação Operária Brasileira - COB-AIT.

A DESPEDIDA DE EDGAR RODRIGUES (ANTÔNIO FRANCISCO CORREIA) SE DEU AOS 88 ANOS DE IDADE.

Seu corpo foi cremado, as suas cinzas jogadas ao mar. Tudo se deu conforme vontade expressa em testamento, com extrema simplicidade e poesia, como sempre foi sua vida.

RJ – Crematório do Cemitério do Caju, 11 hs, do dia 16 de maio de 2009. Era o cronograma alterado, de um dia para outro, para atender a vontade de Edgar Rodrigues que faleceu no final da noite do dia 14/05.


Sem que ninguém combinasse nada, a partir das 9 h começaram a chegar ao local, os mais íntimos, os velhos camaradas históricos de sua militância no movimento libertário da cidade, do país, fomos levar um último adeus e prestar apoio e solidariedade à família. Cerca de 50 pessoas participaram dessa despedida. Nós todos pegos da amarga surpresa, apesar de seu quadro clínico delicado, e, que se agravara no último ano, nos últimos meses, nos últimos dias.

A partir das 11, com a abertura do salão, se deu o momento intimo de cada um, a plena emoção dominava todos. Uma bandeira vermelha-preta, da C.O.B./A.I.T., trazida pela FORGS, cobriu seu corpo. Foi lida uma poesia em homenagem a Edgar e sua história de lutas em dois continentes, de autoria de um militante da FOSP. Tudo mostrava a gravidade do momento.

Na despedida de seus familiares, camaradas e amigos, no momento em que se fechava o caixão e este era conduzido ao incinerador foi tocada, em solo de gaita de boca, ‘A Internacional’.
Todos sabiam: sua luta não morreria com ele, mas ele vive na luta pela idéia, que não era dele quando ele a abraçou. Mas que na luta viva em defesa do anarcosindicalismo, do anarquismo sem adjetivos – como ele sempre frisava. Essa luta só terminará com a vitória dos oprimidos!
Sua memória não se perderá. Será a alavanca para a Revolução Social.

EDGAR VOCÊ VIVE EM NOSSA LUTA!

C.O.B./A.C.A.T.- A.I.T.
http://cobait.cnt.es
cobforgs@yahoo.com.br
fospcobait@yahoo.co.uk

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Ideologia do Anarquismo

A Ideologia do Anarquismo.
Rudolf Rocker.


Livreto traduzido por Pablo Ortellado como parte da obra Anarquismo e Anarcosindicalismo de Rocker, publicada em 1946. Com prefácio de João Doe feito em março de 1996, traz a atualidade da obra de Rocker.

O livro retoma outro texto de Rocker sobre a História do Anarquismo e suas raízes, o Liberalismo e o Socialismo. Traz os conflitos históricos de parcela do movimento socialista que assume posicionamentos políticos próximos da teocracia e do cesarismo para não chamarmos de absolutista. Retorna com a crítica de Bakunin ao Marxismo:

“A Ditadura do proletariado, que algumas almas ingênuas acreditam ser um estágio inevitável de transição ao socialismo real, transformou-se hoje em um assustador despotismo e em um novo imperialismo que não deve nada a tirania dos Estados fascistas. A luz da experiência histórica, a afirmação de que o Estado deve continuar a existir até que a sociedade não esteja mais dividida em classes hostis parece uma piada sem graça”.

E continua sua crítica ao bolchevismo:

“O desenvolvimento da burocracia bolchevique na Rússia, sob a suposta Ditadura do Proletariado – que nunca foi mais do que uma Ditadura de um pequeno grupo sobre o proletariado e o conjunto do povo russo – é apenas um novo exemplo de uma velha experiência histórica que tem se repetido inúmeras vezes”.

Logo adiante finaliza:

“A igualdade econômica sozinha não é libertação social. É isso precisamente o que todas as escolas do socialismo autoritário nunca entenderam (...) Em outras palavras, o socialismo será livre ou simplesmente não o será”.

Rocker volta ao contexto histórico para provar também que a existência do Estado é um mal que atrapalha e destrói a economia de um país ou de um continente. Conta a história da Espanha, que antes da subida da burocracia eclesiástica da Igreja Católica ao poder do Estado, o país foi quase que inteiramente desindustrializado, o campo destruído e os serviços praticamente paralisados. Relembra também Kropotkin ao comparar o Estado e as Instituições Sociais como órgãos dentro de um corpo que só se justificam pela necessidade das classes mais abastadas de controlar o restante da coletividade. Porém ao menor sinal da coletividade de que o Estado produz o mal, o próprio organismo tende a destruí-lo ou retirá-lo.

Defende o anarquismo diferenciando-o do marxismo novamente por creditá-lo ao desenvolvimento histórico natural do homem e das forças sociais na vida e não por obrigatoriedade de fases históricas que se sobrepõem. Para Rocker, o que aparenta é que não necessariamente as fases se completam ou estão linearmente iguais na cronologia dos acontecimentos históricos. Em outras palavras, uma sociedade pode guardar dentro de seus modos de produção a escravidão enquanto outra pode conviver sob um regime comunista ou feudal. Ao mesmo tempo que os homens podem avançar socialmente construindo estruturas sócio-políticas e econômicas mais avançadas do que as anteriores sem necessariamente seguir o andamento da fase histórica. Por exemplo, os povos podem construir a anarquia, sem necessariamente ter que passar pelas Reformas do Socialismo Estatal para depois chegar a sociedade sem classes e sem o Estado. Proposta esta que os marxistas não crêem ser possível.

“A arte de educar o homem nunca foi a arte de educá-los e levá-los a novas formas de modelar suas vidas. A sombria compulsão tem ao seu comando apenas exercícios sem vida, que sufocam qualquer iniciativa vital desde o nascimento e que tem como resultado apenas súditos, não homens livres (...) A liberação do homem da exploração econômica e da opressão intelectual, social e política, que encontra sua maior expressão na filosofia do anarquismo, é o primeiro pré-requisito para a evolução de uma cultura social superior e de uma nova humanidade”.

Para finalizar, a crítica que Chaplin faria alguns anos depois e que Rocker desde já emitia:

“Quem está constantemente lutando para forçar tudo numa ordem mecânica, finalmente se torna, ele mesmo, uma máquina, e perde todos os sentimentos humanos”.

Ao que Carlitos nos diria:

“Não sóis Máquina! Homem é o que sóis!”.

Rocker com certeza se orgulharia de sua obra.

Rocker, Rudolf. A Ideologia do Anarquismo. 2005, Editora Faísca Publicações Libertárias.