sábado, 3 de dezembro de 2022

Resenha de "O curioso caso de Benjamin Button" de F. Scott Fitzgerald.

 

O curioso caso de Benjamin Button – F. Scott Fitzgerald:

Coleção Folha grandes nomes da Literatura.

Obra linda e magnífica, assim como o filme também. Cheia de ironias pelo autor, que me fizeram dar boas gargalhadas. Com toda certeza, a obra é convidativa para se conhecer outras publicações do escritor.

Trata-se da história de vida de uma pessoa que ao invés de nascer bebê, nasce um velho de mais de 70 anos de idade. O pai, um rico empresário no setor de botões e uniformes, quando chega ao hospital se depara com a estranheza do médico, das enfermeiras e outros (as) sobre o estado de seu filho recém nascido. A revolta do Sr. Button é visível por não ter recebido uma criança “normal”. A família também o rejeita: avôs e avós e toda a cidade.

Após tentar estudar em Harvard, ele é expulso pelo professor que o recebe e por alunos e alunas revoltados (as) por entenderem que se tratava de um farsante. Tempos depois, Benjamin conhece a Srta. Hildegarde, por quem se apaixona, casa e tem um filho.

Com o passar do tempo, porém, as coisas iam se invertendo. Enquanto a Sra Hildegarde envelhecia, Benjamin rejuvenescia. E essa diferença nos hormônios e corpos de ambos, trouxeram diferenças irreconciliáveis. Enquanto ele estava se tornando um fanfarrão de festas, ela estava no tempo de se acalmar e aproveitar a beleza da vida em casa.

Chega o momento em que Benjamin quer retornar ao exército. Se alista, mas pela cara de criança que possui, tem chamado seu filho para buscá-lo no quartel, o que o faz passar por grande vergonha. O filho, Roscoe, já lhe chamara a atenção diversas vezes antes por outros motivos. Pouco tempo depois, nasce o neto de Benjamin, filho de Roscoe, que assume os negócios da família.

A idade avança e nosso velho Benjamin agora é uma criança que brinca com os brinquedos de seu neto. A babá do neto, também era a cuidadora de Benjamin. Ou seria sua babá também?

Com o passar do tempo, nossa velha criança já não se lembrava de mais muita coisa. Não lembrava da última refeição, do rosto das pessoas. Já não enxergava bem também. Somente sentia frio, calor, fome, sede e chorava...

Considerações:

Outra questão menos importante é: todos nós, de alguma forma, na velhice, voltamos a ser crianças. Voltamos a ser dependentes em alguma medida de outras pessoas, dos mais jovens muito provavelmente. Voltamos a ser dependentes de cuidados médicos, hospitalares, profissionais, entre outros. Voltamos a depender dos cuidados dos familiares que devem saber que um dia também serão velhos e serão dependentes de outros (as). A maturidade e a experiência da velhice, nos é reconfortante pela memória. É essa lembrança e experiência que nos diferencia dos jovens: passamos pelos erros que eles passaram. Erramos e podemos ajudar para que estes não errem. Mas somos ouvidos?

O livro também trata de preconceito, da vida difícil que as pessoas “rejeitadas” ou consideradas “anormais” vivem. Pode se entender aqui a difícil vida por que passa praticamente todas as minorias em todo o mundo: mulheres, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, trans gêneros, judeus, palestinos, negros, favelados, etc... todos sabem o que Button passa a vida toda nas suas próprias peles.

A obra é muito bonita, pois nos faz tentar entender o que é a vida. Nos ajuda a pensar em qual é a maior característica de estar vivo, do que é viver, das características de cada uma das fases que vivemos. O que nos define como humanos? Essa é outra pergunta que me veio a cabeça ao término do livro. A lembrança é a maior marca da vida. É a memória, a única coisa que levamos conosco até o nosso fim... e não por completo, mas provavelmente as coisas mais belas e importantes por que passamos. O que nos define como humanos é a capacidade de entender, interpretar, pensar e ter boas lembranças sobre nossas próprias memórias. A memória é o que temos de mais sagrado, de mais pessoal, de mais íntimo. É o registro do que fomos e somos, do que fizemos e deixamos de fazer. O que somos sem nossas memórias? Existimos ainda sem a memória? Talvez não. Talvez sejamos apenas como vegetais que não podem refletir e lembrar sobre nada do que passou em suas vidas. Viver a vida sem reflexão, é como não viver. É como vegetar. Existem humanos que são vegetais pois não lembram, não refletem, não pensam sobre si e sobre os outros. Como diria Sócrates, Adorno e tantos outros filósofos, cada um a seu modo, uma vida não refletida, não vale a pena ser vivida.