Os Problemas da Filosofia – Bertrand Russell. Editora
Biblioteca de Filosofia Contemporânea. Edições 70.
Nascido em 1872 e falecido em 1970, foi um dos Filósofos do século
XX que mais produziram. São mais de dois mil artigos e setenta
livros publicados. Esta obra em particular foi publicada em 1912,
portanto, antes das duas grandes guerras mundiais.
A tradução é de Desidério Murcho, professor da Universidade
Federal de Ouro Preto. É o próprio professor quem faz o prefácio
de mais de setenta páginas. A obra toda se divide em 15 pequenos
artigos.
Inicialmente se tem a impressão de ser uma obra introdutória a
Filosofia. E também o é. Mas ela também guarda nas entrelinhas, um
pouco do pensamento do autor sobre a Filosofia. Russell é filósofo
da área de analítica, ou seja, lógica. Provavelmente ligada a sua
formação na área de Ciências Exatas.
Como um dos principais nomes da Filosofia Analítica, é importante
ressaltarmos que a mesma, entende a Filosofia como a análise lógica
da linguagem ou do discurso. Ela se divide basicamente em dois
campos: o Positivismo Lógico e a Filosofia Lingüística. Russell e
Wittgenstein são os principais nomes do Positivismo Lógico. Para os
Filósofos Analíticos o objeto da Filosofia é a Linguagem e o
Método da Filosofia é a Análise Lógica.
Diferem portanto tais Filósofos de outros que não desejam que a
Filosofia tenha objeto específico de estudo e nem um único método.
I – Aparência e realidade:
Ele inicia este capítulo com a seguinte pergunta? ”Haverá algum
conhecimento no mundo que seja tão certo que nenhum homem razoável
possa dele duvidar?” Ele tenta responder a questão que se desdobra
em outras perguntas. A primeira resposta que alguns de nós pode ter
sobre esta pergunta é que não existem conhecimentos cem por cento
seguros ou com total certeza de segurança.
Então, o autor tenta fazer uma análise pelas diversas formas que
possamos enxergar uma mesa e os diferentes olhares que podemos ter da
mesma. Demonstra logo de cara as diferentes visões que podemos ter
da realidade, ou seja, as diferenças entre “aparência” e
“realidade”.
Ele nos indaga então sobre se podemos ter certeza de que a mesa
existe realmente e se existe, ela condiz com a forma como os nossos
sentidos nos apresentam a mesma? Ele está colocando em dúvida a
existência da própria matéria. Para isso, irá citar o pastor
Berkeley e Leibniz, dois grandes Filósofos expoentes da Filosofia
Idealista.
“Assim, torna-se evidente que a mesa real, se existe, não é o
mesmo de que temos experiência imediata pela visão ou pelo tacto ou
pela audição. A mesa real, se existe, não é de modo algum
imediatamente conhecida por nós, tendo antes de ser uma inferência
do que é imediatamente conhecido.” 1
O autor está tentado nos dizer que existe uma intermediação entre
os sentidos e aquilo que entendemos ou enxergamos do mesmo objeto ao
qual analisamos. Ou seja, não dá para termos certeza daquilo que os
sentidos nos trazem, se é verdadeiro ou não. No fundo, é uma
Filosofia de caráter Idealista a do nosso autor, com forte presença
do relativismo.
Ele irá citar Berkeley para defender sua tese, de que a matéria
nada mais é do que uma coleção de idéias e a Leibniz por dizer
que a matéria é uma coleção de mentes. Para Berkeley, a mesa que
acima falamos, é uma idéia na mente de deus, assim como todas as
matérias. Se uma matéria não pode ser pensada, significa que não
pode existir. Para Leibniz, a matéria seria como uma coleção de
almas e a Ciência nos diz que a matéria é como uma coleção de
cargas elétricas em constante movimento violento.
II – A existência da matéria:
Afirma o autor sobre o limite da Filosofia Idealista, ao dizer:
“Assim, se não podemos ter a certeza da existência
independente de objetos, ficaremos sozinhos num deserto – pode ser
que todo o mundo exterior nada seja senão um sonho, e que só nós
existamos.” 2
Retoma Descartes e seu “método da dúvida sistemática”, quando
o autor afirma que somente devemos acreditar naquilo que possamos por
seguidas vezes duvidar e tentar esclarecer ou entender e somente
depois de termos certeza de que não há mais o que desacreditar, é
que devemos aceitar como verdade.
Russell irá então nos questionar se, já que devemos duvidar das
potencialidades dos sentidos e de suas clarezas, já que devemos ter
um método de dúvida recorrente a respeito de um dado objeto, para
crer nele a verdade, poderíamos então pensar em objetos públicos e
neutros que pudessem nos levar a verdade? O autor pensou nos sonhos.
Mas em seguida descartou tal possibilidade por entendê-lo como
pessoal e intransponível. Mas mesmo assim, o autor acredita num
objeto que seja de senso comum aos homens para que cheguem a razão
de alguma forma. Serão as forças ocultas e paranormais da mente?
Ele não cita exemplos.
“Assim, o fato de diferentes pessoas terem dados dos sentidos
similares, e de uma pessoa em um dado lugar, em momentos diferentes
ter dados dos sentidos similares, é que nos faz supor que além dos
dados dos sentidos há um objeto público permanente que subjaz ou
causa os dados dos sentidos de várias pessoas em vários momentos.”
3
Russell finaliza nos dizendo de uma hierarquia dos sentidos,
provavelmente já dita anteriormente por Aristóteles e Kant. Tal
organização seria importante pois ajudaria os homens a
compreenderem melhor o mundo que os cerca e a organizarem melhor o
aprendizado e de como ele pode se dar.
O autor discorda daqueles que pensam a Filosofia como uma Ciência da
Physis, tal como os antigos e muitos outros, mas acha que ela pode se
dar ao trabalho de ter a função de desempenhar o papel de
organizadora do conhecimento humano. Portanto, Russel está nos
falando de função para a Filosofia e de qual seria a mesma.
Provavelmente há influência de Aristóteles na sua obra, no sentido
de um conjunto de métodos ou uma índole classificatória, que
elenca valores, cataloga o saber e o identifica de várias formas.
III – A natureza da matéria:
Ele inicia este capítulo dando como certo a teoria de que existe um
objeto público que faz os homens de alguma forma sentirem ou terem
resposta dos objetos a que se dediquem ou debrucem.
Russell vai entrar na argumentação de que a conclusão a que chega
a Ciência de um determinado objeto, pode ser diferente da conclusão
que pode chegar uma pessoa comum sobre o mesmo objeto. É o que ele
chama de espaço público e espaço privado. Sendo o primeiro, o da
Ciência e o segundo o do indivíduo. Ciência se faz do geral e não
do particular. O particular nos é importante para levantar pista do
que ocorre, mas não pode servir de base para a afirmação
Científica.
Se o olhar que a Ciência descreve ao objeto se diferencia do olhar
que o indivíduo faz do mesmo, isto nos leva a pensar se existe
concordância ou correspondência dotada de total razão ou verdade
entre os “objetos físicos” em si e os “dados sensitivos” do
corpo humano.
IV – Idealismo:
Ele inicia este capítulo tentando fazer uma defesa da existência do
pensamento Idealista em diferenciação do Materialista. Diz que é
muito mais fácil o senso comum defender a existência da matéria do
que supor que a matéria depende das idéias (na sua opinião).
Russell retorna a Berkeley e ao argumento do autor de que tudo o que
existe no mundo, tem sua existência pré-definida por que precisa se
mostrar ao outro. E ao deixar de se mostrar, portanto, pela lógica,
deixaria de existir, isto só não ocorreria pois deus estaria a
olhar para este objeto ininterruptamente. Berkeley dá o exemplo de
uma árvore para deixar mais claro o que quer dizer. A árvore só
teria sua existência garantida (pois os homens ao deixarem de
apreciá-la morreria), por que deus estaria continuamente observando
e apreciando a mesma.
Por outro lado, ao anunciar que uma das iniciativas mais sérias de
se iniciar o pensamento Idealista foram com o bispo Berkeley, Russell
dá as costas a todo o passado Grego do pensamento Ideal. Dá as
costas a Parmênides que deve ser considerado o pai desta forma de se
presumir o mundo e a Platão que organiza sua Teoria do Conhecimento
no “Mundo das Idéias” e das “Sombras” que também é base
para a Teoria de Berkeley.
O bispo acreditará que a cor de um determinado objeto estará na
mente que o observa e não no próprio objeto. Isto dá embasamento
para a Teoria do Inatismo das Idéias ou da reminiscência, de que
todo homem carrega consigo o conhecimento, tal como Sócrates
definiria. Eles não precisam aprender, apenas se lembrar, pois a
alma é portadora de tal saber. Tal argumento do Bispo, para Russell
é equivocado, pois existe uma confusão no antigo inglês entre
“coisa apreendida e o acto de apreensão”. 4
Hoje se sabe que a coisa em si ou o objeto analisado carrega sua cor
como característica de sua matéria.
Berkeley irá afirmar também que se não podemos visualizar algo,
significa que este algo não existe. Russell irá discordar dessa
tese do bispo argumentado em torno da “Teoria do Conhecimento
por Contato e por Descrição”.
V - Conhecimento por Contato e Conhecimento por Descrição:
O “conhecimento de contato”, também chamado de
“conhecimento de coisas” é mais simples do que o
“conhecimento por descrição” pois não está em contato com a
verdade. O “conhecimento por contato” é menos profundo e não
consegue saber ou explorar a essência de um objeto. É um
conhecimento superficial que não me permite aprofundar mais
informações sobre o objeto que se deseja.
Já o “conhecimento por descrição” é considerado como
que amparado na verdade. Nós temos como saber algo a mais ou melhor
detalhado deste tipo de objeto através deste tipo de conhecimento. A
impressão que se tem é a de que o “conhecimento por descrição”
é baseado com maior segurança em um maior número de sentidos que
nos possam dar maior margem de segurança no conhecimento que
recebemos do mesmo. “A importância principal do conhecimento
por descrição é que podemos ir além dos limites da nossa
experiência privada.” 5
Russell também nos fala do “contato por introspecção” como
sendo aquele em que temos o contato dos dados sensoriais e por
conseqüência temos consciência dos dados que recebemos.
Diferentemente dos animais que recebem os dados mas não conseguem
refletir sobre os mesmos. Somos dotados de autoconsciência pois
sabemos por exemplo quando estamos com fome e temos ciência do que
isso significa.
O autor irá trabalhar também a “teoria das descrições
definidas” e a “teoria das descrições ambíguas”.
Uma definindo questões específicas ao ser ou ao indivíduo e a
outra tratando de descrições gerais do homem e de sua natureza,
respectivamente, “descrições definidas” e “definições
ambíguas”. Russell parece se assemelhar a classificação que
Aristóteles havia definido a mais de dois mil anos atrás quando fez
a divisão entre essência e existência, matéria e corpo, entre
outras definições.
Ele também irá falar sobre a “Teoria Descritivista dos Nomes
Próprios”. É a “descrição definida de nome próprio”
que leva o ser a relacionar o indivíduo com o nome que se está
ligando ao mesmo.
“Temos de atribuir algum significado às palavras que usamos,
para que possamos falar significativamente e não proferir mero
ruído; e o significado que atribuímos às nossas palavras tem de
ser algo com o qual estamos em contato.” 6
A teoria por descrição e prescrição poderia ser melhor trabalhada
na Filosofia da Ética e da Filosofia Política. Pois tais questões
podem envolver juízos de valor, o que significa que fica difícil
conceber posições como verdade ou mentira diante de determinadas
afirmações.
VI – Sobre a indução:
Russell
inicia esta parte com uma pergunta nos dando a entender que nem todo
o conhecimento é criado ou desenvolvido pelo contato com nossos
sentidos ou pela experiência. ”Que coisas há no universo, cuja
existência é conhecida por nós devido a termos contato com elas?”
7
O autor está tentado nos dizer que não existe verdade absoluta ou
certeza com grau máximo de confiança. A própria forma como
desenvolvemos a ciência é sempre um modelo de confiança de que os
testes que serão gerados amanhã, não desrespeitaram as regras em
jogo hoje.
“Há algum número de casos de alguma lei cumprida no passado
que constitua indício de que será cumprida no futuro?” 8
E ele continua adiante:
“Observe que todas estas expectativas são apenas prováveis;
por isso, não temos de procurar uma prova de que têm que ser
cumpridas, mas apenas uma razão em favor da perspectiva de que é
plausível que sejam cumpridas.” 9
Ele nos dá o exemplo que Hume havia utilizado séculos atrás em
“Investigações acerca da natureza humana”, de qual a certeza
que teríamos de que o sol nascerá logo amanhã cedo? Não temos
nenhuma razão para que isto aconteça. O que sabemos é que de
acordo com o passar do tempo, temos verificado esta regularidade e
nunca nos perguntamos se esta seria uma lei possível de ser quebrada
ou não. Mas existe a possibilidade que seja e a questão da
probabilidade é colocada então no lugar da certeza. Um outro corpo
celeste pode se chocar contra a Terra e tirar o planeta da órbita
que ele faz a milhares de anos. Daí haveria o fim da regularidade
que estamos acostumados. A Ciência se baseia no mesmo princípio.
Ela não tem certeza absoluta se dois itens, A e B estarão juntos
amanhã ou em suas próximas ocorrências somente por que nas
ocorrências anteriores eles estiverem juntos.
“Temos portanto de distinguir o fato de as uniformidades do
passado causarem expectativas quanto ao futuro, da questão de saber
se há algum fundamento razoável para dar peso a tais expectativas
depois de a questão de sua validade ter sido levantada.” 10
Isto nos faz pensar na Teoria da Relatividade de Einstein, que havia
sido publicada alguns anos depois da primeira edição desta obra de
Russel e do qual ele faz um prefácio especial para citar sua
importância e corrigir outras questões. Por que dar tanto peso as
expectativas das regras ou Leis gerais da Ciência se elas são
passíveis de serem quebradas de uma hora para outra?
“Nunca se pode chegar realmente a certeza porque sabemos que,
apesar de repetições freqüentes, há por vezes uma falha no fim,
como no caso da galinha a que se torce o pescoço. Assim, tudo o que
devemos procurar é a probabilidade.” 11
Ou seja, por mais regularidade, tradição e renome que uma
determinada regra ou Lei da Ciência tenha, nunca será possível que
esta seja considerada de total confiança. Sempre haverá dúvida
diante do amanhã.
VII – O nosso conhecimento de princípios gerais:
A lógica nos faz supor que qualquer princípio amparado inicialmente
por uma base verdadeira, nos trará a continuidade de seu raciocínio
como verdadeiro. Dito de outro modo, se 2 + 2 = 4 + 2 = 6 + 2 = 8,
sabemos que na sequência, sucessivamente será 10 por que o início
da sequência se mostrou verdadeiro e a continuidade da mesma também
o fará do mesmo modo.
“Por outras palavras, qualquer coisa implicada por uma
proposição verdadeira é verdadeira, ou seja, o que for que se
segue de uma proposição verdadeira é verdadeiro.” 12
Estes são chamados de “princípios lógicos auto-evidentes”.
Russell retorna com a discussão da teoria do inatismo. Defende que
os filósofos racionalistas tinham razão ao defender tal posição
no passado pois hoje se sabe que parte do conhecimento do homem nasce
com o mesmo e que o restante vai se construindo com o processo
cognitivo. Porém, os racionalistas não falavam sobre parte ou algum
conhecimento tal como o autor declara. Falavam sobre todo ele ou a
totalidade do conhecimento do ser nascer com o mesmo.
Logo adiante, porém, Russel irá defender a tese de que o
conhecimento gerado a priori tem menos confiabilidade ou certeza do
que aquele gerado pela experiência. Ele também falará da outra
possibilidade de conhecimento que podemos gerar dentro do âmbito
apriorístico, além da lógica, que é o conhecimento ético.
Falando de métodos científicos de análise tanto empíricos quanto
racionais, Russell chega a questão dos métodos indutivos e
dedutivos:
“É por isso que há real utilidade no processo de dedução,
que vai do geral para o geral ou do geral para o particular, tal como
no processo de indução, que vai do particular para o particular ou
do particular para o geral.” 13
Explicamos com exemplos:
No método dedutivo: do geral para o geral pode ser o método
de Marx quando afirma que “é da quantidade que se tira a
qualidade”; do geral para o particular, esgotadas as
possibilidades, escolheu-se um item ou regra que se aplica a parte;
No método indutivo: do particular para o particular é o
mesmo que não sair do lugar ou não se comprometer ou ser
conservador; do particular para o geral ocorre quando se tira
conclusão sobre algumas espécies e torna a partir daí uma lei
válida para todos (as).
VIII – Como o conhecimento a priori é possível?
Russell inicia este oitavo capítulo fazendo uma discussão que nos
remete a Kant e se é possível obtermos conhecimento de modo
apriorístico. Ele vai tratar da existência do conhecimento
analítico e sintético.
O conhecimento analítico é todo aquele em que quando se analisa o
predicado ligado ao sujeito, ou seja, quando se analisa aquela
qualidade que se está tentando ligá-la ao objeto, percebe-se que é
possível conhecer o sujeito pelo predicado, ou seja, pela sua
qualidade. De acordo com o dicionário: Ele se decompõe de um todo
em suas partes constituintes. Vai do composto ao simples, parte dos
efeitos às causas. Parte da conseqüência para chegar ao princípio.
Já no conhecimento sintético, não é possível conhecer o sujeito
pela qualidade ou, o predicado do objeto, pois o predicado não está
ligado ao mesmo. Por exemplo, como posso dizer que uma bola de sinuca
está no canto da mesa perto da caçapa sem ao menos eu tê-la
rebatido para aquele lado? De acordo com o dicionário: ele reúne os
elementos simples para formar o composto, parte do princípio para
chegar às conseqüências, portanto parte da causa para chegar ao
efeito; ele também é generalista. A pergunta que faço é: o
conhecimento sintético precisa da experiência para existir?
Russell irá tratar do método de Hume ao defender que não é
possível haver conexão a priori entre causa e efeito, ou seja,
sintético. Não se pode saber o local onde uma bola de bilhar irá
parar sem esperar a jogada finalizar. Kant irá dizer que na
matemática pura, 7 + 5 = 12. Isto significa que de forma
apriorística, foi possível se descobrir a verdade, pela
experiência, de modo sintético. Isto levou Kant a considerar que é
possível se chegar a verdade através do conhecimento sintético de
modo apriorístico.
Kant demonstrou esse raciocínio ao dizer que não éramos capazes de
conhecer a essência dos objetos (as coisas em si) somente pela
experiência e pelos contatos de nossos sentidos.
“Kant considera que o objeto físico, a que chama “a coisa em
si”, é essencialmente incognoscível; o que pode ser conhecido é
o objeto tal como temos na experiência, a que Kant chama “o
fenômeno”.” 14
A cor, dureza, cheiro, entre outros resultados dos sentidos, estão
nos objetos em si. Mas isso não basta para conhecermos suas
essências. Necessitamos do auxílio da racionalidade para
elaborarmos conclusões mais sofisticadas e com maior grau de certeza
sobre o que os sentidos nos trazem a frente. Dessa forma, Kant quebra
a velha dicotomia na Filosofia entre empiristas e racionalistas.
O autor finaliza o capítulo tentando argumentar em defesa do modelo
Idealista quando diz que a teoria dos contrários não se baseia
apenas no pensamento. Ela não é apenas apriorística, mas está
amparada em experiências que a mente pode ter observado. De toda
forma, ela também é uma afirmação do que diria Kant, de que ambas
faculdades do corpo humano, intelecto e os sentidos, precisam uns dos
outros para viver.
IX – O mundo dos universais:
Russell tratará neste capítulo sobre a questão da existência ou
não de idéias universais. Este conflito de idéias entre particular
e universal, foi conhecido na Filosofia pela discussão entre
“monismo” que foi defendida por Espinosa e “mônada” ou
“monadismo” que teve Leibniz como defensor. A primeira diz que o
Universo é formado por uma só coisa e a segunda, nega tal
possibilidade dizendo que o Universo foi formado por um conjunto de
coisas. Este conflito se espalhou na Filosofia e adentrou as outras
Ciências que nasceram dela. Por exemplo, na área da Psicologia e do
aprendizado, o caráter conflitivo entre racionalismo e empirismo
quebrado por Kant, tem influência do “monismo” de Espinosa. As
discussões dentro da Química e da antiga Ontologia de que seriam
um, ou, mais de um, os elementos formadores da matéria, também
seriam base dessa discussão, entre diversas outras.
Da mesma forma que temos através do contato de nossos sentidos com o
mundo concreto e os objetos, o fenômeno, que portanto, é de caráter
particular e único de cada ser, para Russell também temos um
caráter universal onde muitas idéias, sensações podem ser
compartilhadas entre muitas pessoas. Portanto, se existem questões
de caráter particular, também existem as de caráter universal. E é
isso que ele quer provar neste capítulo. É o que ele chama de
“Teoria Realista dos Universais”. Ele inicia falando da
dialética Platônica em torno dos dois mundos, das idéias e das
sombras, onde todos os objetos no mundo concreto estariam
representados em formas no mundo das idéias.
Russell irá trabalhar com um exemplo que imaginamos quando estamos
com a mente vazia: lembramos automaticamente de uma folha branca ou
de uma eterna brancura. Hume e outros filósofos trabalharam com tais
exemplos. Hume imaginou deus sendo representado por um homem muito
inteligente, elevado a múltipla potência, daí sim teríamos a
idéia de deus por sua onisciência. Porém Russell ao tratar do tema
folha branca ou brancura está tentando nos dizer que esta imagem que
temos não é uma mente vazia mas a imagem que temos de uma mente sem
pensar em nada. Portanto, o conceito de brancura (ou universalidade,
pois é o que pensamos praticamente todo juntos ao tratar do tema) é
criado artificialmente ou culturalmente inserido em nossas mentes,
mas ele não existe dessa maneira.
O autor irá dizer que existe uma realidade para o universal que não
é a mesma realidade que o Mundo das Sombras ou das Idéias de
Platão.
“Assim, os pensamentos e os sentires, as mentes e os objetos
físicos existem. Mas os universais não existem neste sentido;
diremos que subsistem ou tem de ser, sendo que ser se opõe a
existência por ser atemporal. O mundo dos universais,
consequentemente, pode também ser descrito como o mundo do ser. O
mundo do ser é imutável, rígido, exato, encantador para o
matemático, o lógico, o edificador de sistemas metafísicos e quem
gosta mais da perfeição do que da vida.” 15
Esta explicação nos remete de certo modo ao que Platão
identificava de terceira categoria de seres, que estavam entre o
Mundo das Sombras e das Idéias. São os objetos da matemática e os
números. Para o grego, tais objetos não podiam se inserir nem em um
ou outro dos mundos, estariam num mundo a parte. Quando Russell nos
trata desta questão dos Universais, o que me remete automaticamente
a mente é esta terceira categoria de seres ou objetos. Tal
influência em Platão deriva de seus estudos em matemática através
de Pitágoras e de seus discípulos.
X – O nosso conhecimento dos Universais:
Ele inicia dividindo o conhecimento de Universais. Estes são os por
contato e os por descrição como já havíamos visto em capítulo
anterior.
Em cada caso dos dois abaixo, existem 2 tipos: um imediato e outro
derivado.
1 - Conhecimento de Coisas: Chamado também de Conhecimento
por Contato. Onde temos as coisas conhecidas que são as particulares
e as Universais:
1.a - Particulares: Temos contatos com os dados dos sentidos e
provavelmente com nós mesmos.
1.b - Universais: Qualidades sensíveis, relações de espaço
e tempo e questões abstratas que podem ser sentidas por muitas ou
todas as pessoas.
2 - Conhecimento de Verdades: Também pode ser chamado de
conhecimento intuitivo e suas verdades conhecidas podem ser as
verdades auto-evidentes. Consiste em tudo o que podemos deduzir de
verdades pelo uso (auto-evidente) da dedução.
A questão do conflito entre o método universal e particular se dá
pelo seguinte fato. Suponhamos que eu faça a afirmação: toda bola
é redonda. Sabemos que se eu me referir as bolas de futebol, estarei
provavelmente certo a respeito da questão. Mas como no meu
enunciado, eu não me referi a qual tipo de bola era e, abrangi todas
as bolas, qualquer um que pegar uma bola de rugby provará que eu
estou errado em minha afirmação. Isto quer dizer o seguinte: todas
as leis da Ciência são construídas sobre afirmações universais.
Provar a verdade de afirmações universais é extremamente difícil
e trabalhoso. Por isso do método científico ser tão duro e rígido.
Agora, mostrar que a afirmação é errada, é a coisa mais simples
desse mundo. Leis gerais são difíceis de serem aceitas por isso,
pois precisam passar por uma grande quantidade de testes e provas
para serem aceitas como verdadeiras.
XI – Sobre o Conhecimento intuitivo:
Neste capítulo, ele inicia tentando fazer uma espécie de teste de
validade para o método racional, sempre efetuando uma nova análise
para verificar se a anterior é correta. O Professor Desidério
Murcho da UFOP diz que se trata do método fundacionalista de Russel.
Porém, diz o Professor que nossas crenças podem se amparar em rede
e não necessariamente umas sobre as outras.
Russell propõe dois tipos de verdades auto-evidentes (lembrando que
tais verdades são aquelas que se iniciam em preposições
verdadeiras e dão continuidade e sequência verdadeiras). A primeira
é aquela que racionaliza os dados recebidos pelos sentidos sem no
entanto analisá-las. A segunda surge quando o objeto que os sentidos
recebem é complexo, o que exige análise imediata. Existe uma
terceira classe de juízos intuitivos que são os de memória. Para
Russell é fundamental possuirmos este juízo pois é ele quem nos dá
a diferenciação de presente, passado e futuro. É ele quem nos diz
se o que comemos ontem foi realmente no dia de ontem. Este juízo, de
acordo com o autor, pode variar pela confiabilidade da memória do
indivíduo ou não. Estes são chamados de graus de auto-evidência,
quando se sabe até onde podemos confiar nas informações recebidas
de nossa memória.
Para Russell, toda vez que se tem dúvida sobre o grau de
auto-evidência da memória, deve-se sempre escolher a informação
que mais acreditamos ser real e leal a realidade ou aos
acontecimentos. Como comprovar com total certeza que minhas
lembranças são as reais e não as de outras pessoas? Nestes casos,
a Filosofia da História pode ajudar-nos a descobrir melhor tais
questões que podem ser outros diversos braços da Filosofia.
XII – Verdade e Falsidade:
Russell trabalha neste capítulo a questão de como se definir
verdade e falsidade sem cair no problema de quais crenças são
verdadeiras e quais são falsas. Inicia falando em três regras
básicas:
1-A teoria da verdade tem de permitir englobar ou admitir a teoria de
seu oposto, a falsidade. Provavelmente o que Russell quer dizer é
que a Teoria do Contato não admite este recurso subjetivo mas o que
ele chama por verdade, sim.
2-Para que existam crenças, deve haver um mundo das idéias e não
somente um mundo da matéria. A verdade e a falsidade estão para si
como crenças. Pelo que se entende, tais conceitos são relativos a
racionalidade humana, não sendo possíveis de se existir sem as
mesmas.
3-Porém, a verdade e a falsidade dependem sempre de uma crença, ou
seja, de algo externo a elas mesmas para existir. Ou seja, elas
dependem das relações externas das crenças com coisas ao seu redor
ou fora delas.
O autor refuta a tese de que uma das características da verdade seja
a coerência. A própria Filosofia concilia diversas explicações
com uma ou mais explicações do que seja a verdade. Portanto para o
autor, a coerência não é resposta correta para a certificação de
verdade. Outra forma de se entender ou provar a verdade seria a
teoria das contradições. Uma coisa é uma coisa e não outra coisa.
“Assim, uma crença é verdadeira quando há um fato
correspondente, e é falsa quando não há qualquer fato
correspondente.” 16
Em todo caso, é sempre difícil comprovar a existência de questões
que são difíceis de se analisar dando pareceres tão precisos tais
como angústia, deus, duendes, et’s, entre outros.
XIII – Conhecimento, erro e opinião provável:
Podemos saber que algo é verdadeiro ou acontece por vezes que já o
sabemos que seja verdadeiro? É com esta pergunta que Russell inicia
o décimo terceiro capítulo. Ele vai discutir aqui as verdades da
forma como já a conhecemos e os métodos que utilizamos para
identificá-los.
“Assim, é claro que uma crença verdadeira não é conhecimento
quando é deduzida de uma crença falsa.” 17
Neste raciocínio ele volta a questão das bases verdadeiras que
fundamentam sequências de dados que serão verdadeiras. Se a
preposição é verdadeira, a continuidade será verdadeira também.
Para Russel, não é possível definir com precisão o que é o
conhecimento.
“Nesta questão dificilmente é possível alcançar qualquer
resultado preciso: todo o nosso conhecimento de verdades está
infectado com algum grau de dúvida, e uma teoria que ignorasse este
fato, estaria claramente errada.” 18
Existem portanto, duas maneiras das quais um fato pode ser conhecido:
1-Por meio de um juízo, se verifica que as partes de um todo (este
juízo) estão relacionadas.
Este está relacionado a um modelo muito mais racional.
2-Por meio do contato com o próprio fato.
Este está relacionado a um modelo muito mais empírico.
Todas estas duas formas de se entender um fato, estão relacionadas
sempre com o indivíduo. Aparentemente não são universais pois
dependem de juízos individuais para existirem.
“Ao que acreditamos firmemente, se for verdade, chama-se
conhecimento, desde que seja intuitivo ou inferido (lógica ou
psicologicamente) de conhecimento intuitivo do qual se segue
logicamente. Ao que acreditamos firmemente, senão é verdadeiro,
chama-se erro. Ao que acreditamos firmemente se não é conhecimento
nem erro, e também ao que acreditamos hesitantemente porque é algo
que não tem o mais alto grau de alto-evidência, nem deriva disso,
pode chamar-se opinião provável.” 19
Russell mostra que a construção do conhecimento não se dá
por bases exatas e com certezas de verdadeiras. Mesmo inferida lógica
ou psicologicamente, existe a possibilidade de erro. Se tal juízo
não é verdadeiro, apesar da crença nele, podemos chamá-lo de
erro. Elas podem variar. Variando, são opiniões
prováveis.
XIV – Os limites do conhecimento filosófico:
Russell tratará de efetuar uma crítica a Filosofia feita a moda
metafísica, ou seja, apriorística. Iniciará uma análise pela obra
de Hegel, também criticando a mesma de entender o universo e a
existência de modo tão harmonioso.
Não acredita que o futuro da Ciência e da Filosofia se dê mais
daqui em diante do modo essencialmente teórico e sem contato com a
experiência tal como ocorria no passado.
Ele também vai trabalhar a questão da tese que imagina que o tempo
e o espaço são infinitamente indivisíveis. Tratará da discussão
contrária também falando do registro daqueles que entendem a
questão de modo contrário, não sendo possível haver infinitude
entre espaço e tempo tanto no macro quanto no micro.
Por outro lado, ao questionar as possibilidades da Filosofia
Idealista, ele defende as chances da Filosofia Analítica (lógica),
apesar de não concordar que a Lógica seja apenas mais um
instrumento das idéias (ou da Filosofia Idealista) por acreditar que
ela se baseia em experiências ou na teoria dos contrários. Porém
afirma que a Lógica tem dado exemplos e estudos mais profundos sobre
a questão do espaço e do tempo do que a experiência, ou seja, a
Filosofia Materialista e Empírica.
“A tentativa de legislar sobre o universo por meio de princípios
a priori sucumbiu; a lógica, em vez de ser, como anteriormente, o
obstáculo às possibilidades, tornou-se a grande libertadora da
imaginação, apresentando inúmeras alternativas que estão fechadas
ao senso comum irrefletido, e deixando à experiência a tarefa de
decidir; quando a decisão é possível, entre os muitos mundos que a
lógica nos oferece para escolher.” 20
Desse modo, para o autor, a superioridade da Filosofia Lógica é
destacável as outras Escolas ou áreas da Filosofia.
Russel também nos fala de dois gêneros do conhecimento empírico de
verdades:
1-Puro: Nos traz informações da existência e do contato com os
objetos e a matéria.
2-A priori puro: Nos dá ligações sobre conceitos (ou contatos)
universais e nos permite pensar sobre aquilo que os sentidos possam
nos trazer ou proporcionar.
Ele finaliza argumentando sobre a importância da crítica da
Filosofia para a Ciência e para a construção do conhecimento. No
entanto, Russell admite algum tipo ou grau de erro como risco próprio
da Filosofia. Mas crê que é possível gerenciar o risco ou o erro.
XV – O valor da Filosofia:
Neste último capítulo, Russell irá questionar a idéia que se tem
dos “homens práticos”. Para a Filosofia, tais indivíduos eram
aqueles que sempre se importaram com a questão da matéria para
iluminar a vida. Sempre se importaram com as condições de consumo
ou de posse como suficientes para fazer o ser feliz. Para estes, um
planeta de consumidores é tudo o que basta para o homem ser feliz
para a eternidade. Tais homens costumam se distanciar do valor que os
estudos e raciocínios abstratos, ideais, filosóficos possam trazer
ao indivíduo e a sociedade como um todo. Sua praticidade está
presente em todas as decisões políticas. Mesmo aquelas em que algo
de ruim possa ser feito ao Meio Ambiente e as gerações futuras. O
que importa é o imediatismo dos resultados do aqui e agora e,
portanto, das práticas instantâneas e sem o uso do pensar.
Demonstrar o valor da Filosofia para estes indivíduos é tarefa
árdua ou impossível para o nosso autor pois estes estão
acostumados com um saber ou um cotidiano de atitudes que evitam ou
menosprezam o pensar diante das coisas mais simples e importantes da
vida. Se tudo na vida funciona “a toque de caixa”, como convencer
uma pessoa dessas a se interessar pela Filosofia e demonstrar o valor
da mesma para tal ser?
A Filosofia, talvez perca o seu valor para as pessoas “práticas”
pois, mal algumas áreas e estudos da Filosofia conseguem respostas
profundas e com maior exatidão, do que os que antes recebia, eles se
tornam Ciência, distanciando-se assim da “amiga da sabedoria”.
“Aquelas questões que são já susceptíveis de respostas
definitivas são colocadas nas ciências, ao passo que só permanecem
para formar o resíduo a que se chama Filosofia aquelas a que,
actualmente, nenhuma resposta definitiva se pode dar.” 21
Aparentemente, por mais perguntas que os Filósofos façam sobre a
natureza das coisas, do mundo, dos homens e do universo, a Filosofia
não conseguirá buscar respostas com certeza absoluta, de acordo com
Russell.
O autor também fala do esforço da Teologia para fazer com que as
respostas que esta encontra, sejam consideradas parte do conhecimento
Filosófico. Russell descrê desta posição dando a entender que a
Filosofia Cristã, como qualquer outra, não pode definir seus
conhecimentos pré-estabelecidos como verdade absoluta.
A esta condição o autor nos diz:
“A Filosofia, apesar de não poder dizer-nos com certeza qual é
a resposta verdadeira às dúvidas que levanta, é capaz de sugerir
muitas possibilidades que alargam os nossos pensamentos e os libertam
da tirania do costume.” 22
Russell também irá defender um alargamento do conhecimento humano
distanciando-se dos dogmatismos vigentes. A construção do saber nos
homens é uma forma de fazê-los se conhecer melhor.
Ele finaliza argumentando que, o grande valor da Filosofia são as
questões que ela pode abordar e as reflexões que podemos girar em
torno dela e, não as respostas que devemos chegar, sendo ou não
verdadeiras. O que importa é o caminho e não somente a chegada.
É interessante ver num Filósofo Analítico Positivista como Russel,
este papel de dar liberdade a Filosofia sem ter que comprometê-la
com outra área do saber ou com a objetividade excessiva e explícita
típica dos Positivistas de todas as ordens. Ao invés disso, Russell
defende nesta obra que a Filosofia tem sua maior riqueza nas buscas e
nas dúvidas que irá construir do que propriamente nas respostas que
poderá trazer quando o pensamento positivista pensa justamente em
conclusões aceitas cientificamente ou respostas que possam trazer
conclusões satisfatórias.
Todas as vezes que os diversos saberes da história humana
tornaram-se suficientemente independentes da Filosofia, eles
arrumaram suas malas e partiram em busca de respostas mais exatas ou
aceitáveis para a construção da sociedade que ansiava a dominação
capitalista. Assim foi com a Psicologia, Sociologia, Física,
Química, Política e outras. Nem por isso a Filosofia se perdeu ou
deixou de existir.
Considerações:
Logo no primeiro capítulo, quando Russell faz a pergunta: ”Haverá
algum conhecimento no mundo que seja tão certo que nenhum homem
razoável possa dele duvidar?” e sua resposta se torna negativa, ou
seja, nenhum conhecimento no mundo pode ter 100% de certeza, ele está
também defendendo, mesmo que não na totalidade, o relativismo. Ao
defender tal posição, que por mais que o autor diga no prefácio da
obra, que não havia tido tempo para ler as recentes descobertas de
Einstein sobre a “Teoria da Relatividade”, sua obra está
permeada dela.
Em capítulos posteriores ele também falará da necessidade de
termos o mecanismo da dúvida e que isto é sadio para qualquer
método científico para se chegar a verdade. Assim, no capítulo
XII, o autor deixará claro que uma Teoria da Verdade deve assumir o
pressuposto da dúvida.
Ao mesmo tempo, tal posição se torna um paradoxo, um contra-senso
dentro do Positivismo. Este provavelmente é o primeiro autor do
Positivismo (ainda mais Lógico) que defende possíveis exceções a
regra da verdade única, absoluta, indivisível, objetiva do
pensamento Positivista. No capítulo VI isto também fica visível.
Já no segundo capítulo, Russell vai defender a idéia de que a
Filosofia tenha uma função. Contrariamente a outros Filósofos que
discordam de tal tese. O autor crê que a Filosofia deve ser a
organizadora do conhecimento humano. Acredito que esta opinião
esteja muito mais ligada a influência de Aristóteles sobre o autor
por também ter feito grande obra de classificação do conhecimento
dos homens até aquele momento.
O autor também defenderá a Teoria do Inatismo ou da Reminiscência
argumentando que os Filósofos Idealistas tinham razão em falar a
respeito de um conhecimento já particular de todos os homens e que
eles nasceriam com tais saberes falando que a Ciência já dizia algo
a respeito. Provavelmente Russel está a nos dizer sobre as pulsões
humanas. Mas estas não são certeza de serem conhecimento, mas
apenas instinto animal de nossa espécie. Russell também argumentará
sobre a validade do Inatismo diante de parte do saber do homem. Isto
também não é válido pois Platão, Sócrates e outros não falavam
em parte do conhecimento como vindo desde o nascimento, mas ele todo.
1
Op. Cit. Pg. 73.
2
Op. Cit. Pg. 79.
3
Op. Cit. Pg. 83.
4
Op. Cit. Pg. 103.
5
Op. Cit. Pg. 118.
6
Op. Cit. Pg. 118.
7
Op. Cit. Pg. 119.
8
Op. Cit. Pg. 121.
9
Op. Cit. Pg. 121.
10
Op. Cit. Pg. 122.
11
Op. Cit. Pg. 124.
12
Op. Cit. Pg. 131.
13
Op. Cit. Pg. 138.
14
Op. Cit. Pg. 145.
15
Op. Cit. Pg. 159.
16
Op. Cit. Pg. 189.
17
Op. Cit. Pg. 192.
18
Op. Cit. Pg. 195.
19
Op. Cit. Pg. 199.
20
Op. Cit. Pg. 208.
21
Op. Cit. Pg. 215.
22
Op. Cit. Pg. 217.