segunda-feira, 27 de março de 2017

De forma resumida, alguns entendimentos sobre os conceitos de esquerda e direita na Ciência Política:


Os conceitos de esquerda e direita na Ciência Política:1

Introdução:

Inicialmente é importante definir que este pequeno artigo tenta se debruçar sobre os conceitos de esquerda e direita sem de forma alguma aprofundar os conceitos. Este pequeno texto é apenas uma base para discussão em sala de aula para estudantes do ensino médio e de cursinhos vestibulares e outros, para que tenham alguma noção destes conceitos.

Este artigo é também parte de um olhar estritamente político, sem entrar nas divisões que a economia também possui sobre as noções da esquerda e da direita. Este será um artigo para um próximo momento. Este singelo artigo é também uma complementação ao artigo anteriormente publicado no nosso blog sobre os “principais sistemas políticos e econômicos”. Ler a postagem anterior o fará entender melhor os dois textos.

História:

Os conceitos de esquerda e direita nascem durante a Revolução Francesa. Depois da tomada da bastilha em 14 de julho de 1789, dois grandes grupos dividem o Parlamento Francês: Os Girondinos e os Jacobinos.Outros grupos também tiveram presença dentro do parlamento francês pós revolução, mas essencialmente estes dois grupos representam papéis chave para compreender os dois conceitos.

Girondinos: Defendiam os grandes proprietários de terra, grandes comerciantes e os Senhores Feudais. Se sentavam nas cadeiras à direita no Parlamento.

Jacobinos: Defendiam os interesses e direitos dos trabalhadores, artesãos, pobres e miseráveis que eram maioria absoluta na França neste momento. Se sentavam nas cadeiras à esquerda no Parlamento.

Atualidade:

Os conceitos de esquerda e direita chegaram ao século XX e XXI com divisões e experiências inexistentes nos séculos anteriores. Suas práticas hoje também variam muito. Em muitas situações, existem negações do que houve no passado ou silêncio sobre os erros cometidos por ambos os campos. Os itens elencados abaixo para cada um dos dois campos, geram divergências enormes por ambos os lados. Mas nenhum deles pode negar tais práticas em suas histórias em quase todos os países do mundo.

Ideias e propostas do campo da Direita ou ideias defendidas pelas Direitas:

  1. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) políticas racistas.
  2. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) políticas de pena de morte.
  3. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) políticas de redução da maioridade penal.
  4. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) políticas de caráter preconceituoso como xenofobia, homofobia, machismo, sexismo, misoginia e outras.
  5. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) ações que visem maiores penas ao invés de educar os criminosos para reinserí-los na sociedade.
  6. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) a retirada de Direitos Trabalhistas, pois estes acreditam que essa proposta possa estimular a economia.
  7. Ocasionalmente podem defender as privatizações do Estado e o Estado Mínimo.
  8. Ocasionalmente podem defender as regulações ou não da atividade econômica.

Ideias e propostas do campo da Esquerda ou ideias defendidas pelas Esquerdas:

  1. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) o aborto.
  2. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) os direitos das mulheres.
  3. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) as minorias e seus direitos como os GLBTT.
  4. Ocasionalmente podem defender (ou defenderam) políticas de caráter preconceituoso como xenofobia, homofobia, machismo, sexismo, misoginia e outras.
  5. Ocasionalmente podem ter maior preocupação com o meio ambiente em relação as políticas da Direita. Mas essa regra pode variar muito.
  6. Ocasionalmente podem defender maiores gastos na prevenção, como na educação, enquanto a direita pensa na repressão.
  7. São contra o Estado Mínimo e defendem a centralização da economia nas mãos do Poder Público.
  8. Ocasionalmente podem defender a regulação da atividade econômica. Mas em muitos casos também desregularam a economia pelas mãos do Estado ou liberalizaram o comércio mais do que a direita.
Questões básicas:

Existem Partidos Políticos e movimentos sociais de centro esquerda, extrema esquerda, centro, centro direita e extrema direita no Brasil e em todos os países do mundo. Estas divisões se refletem em todas as Instituições da sociedade em todas as nações do mundo: das mais desenvolvidas as menos desenvolvidas.

As divisões dos campos em estudo:

Os conceitos de esquerda e direita também possuem suas sub-divisões. São elas:

Extrema Esquerda –> Ultra Revolucionário.
Esquerda -> Progressista.
Centro Esquerda -> Reformista.
Centro -> Meio Reformista e meio ajustador.
Centro Direita -> Ajustador.
Direita -> Conservador.
Extrema Direita -> Reacionário.

  • Extrema Esquerda –> Ultra Revolucionário: Luta para construir uma revolução social, uma sociedade mais justa que a atual. Pode ou não entrar nas eleições.
  • Esquerda -> Progressista: Luta pela revolução mas aceita disputar eleições e votar em Partidos Políticos.
  • Centro Esquerda -> Reformista: Só aceita mudanças na sociedade via eleições e mudanças brandas. Abandonou o discurso e as práticas da revolução.
  • Centro -> Meio Reformista e Ajustador: É o famoso “maria vai com as outras” ou “conforme o vento”. Pode também funcionar como grupo, movimento ou partido que vive por cargos e outros benefícios.
  • Centro Direita -> Ajustador: Tenta resolver um problema aqui e outro ali, mas não quer mudanças profundas e nem grandes reformas na sociedade e nos sistemas políticos e econômicos.
  • Direita -> Conservador: Deseja conservar as coisas como estão pois não quer perder privilégios. Pode também negociar mudanças, mas geralmente defendem os interesses da classe dirigente.
  • Extrema Direita -> Reacionário: Não aceita mudanças de forma alguma. É contra até mesmo o diálogo mais básico.

Considerações:

Todos estes conceitos de Esquerda e suas divisões, centro e direita e suas divisões, refletem uma sociedade dividida em classes sociais, inimigas e antagônicas nos seus interesses. Os indivíduos também refletem em seus comportamentos pessoais no dia a dia, tais tendências descritas na política: se uma pessoa é autoritária, mal educada ou desrespeitosa com as outras, tem grandes chances de assumir posições próximas da extrema direita. O contrário também é válido. Se uma pessoa é respeitosa com os demais, tem grandes possibilidades de ter valores próximos das esquerdas ou da direita moderada.

Revisando - Esquerda:

Os ideias e as práticas das esquerdas tendem geralmente a estar próximos das necessidades mais básicas da população mais pobre ou mais carente, geralmente em todos os países do mundo.

Revisando - Direita:

Os ideais e práticas das direitas (e suas divisões), geralmente tendem a apoiar políticas das elites nacionais e da classe dominante em todos os países do mundo.

Esta preferência por uns e por outros de ambos os campos da política, se traduz também, não num maquiavelismo maldoso e cego de que um possa ser o mocinho (bonzinho) e o outro o maldoso (vilão). Ambos os campos da política acreditam que a classe social ao qual estão mais ideologicamente ligados, tem a competência e a capacidade de transformar e melhorar a história humana. Portanto, não podemos julgá-los sob o prisma de bons e maus. Os dois campos tem muito estudo e análises científicas para embasar seu modo de ver o mundo e seus projetos para melhorá-lo.

Considerações finais:

Esta definição está presente no entendimento da maior parte dos Cientistas Sociais do Brasil e do mundo. Em alguns momentos, um ou outro partido, movimento, político e outros, podem se deslocar para um campo próximo, seja de esquerda ou direita. No Brasil, mas também em diversos países do mundo, muitos Partidos, políticos e movimentos tendem a assumir bandeiras e políticas que são contrários aos seus programas e Estatutos. Alguns sendo de Esquerda, assumem bandeiras da direita e vice-versa.

Essa troca dos programas tornou-se corriqueira na política mundial hoje. Exemplos não faltam: A esquerda na França, ano passado, propõe uma reforma trabalhista que retirava direitos dos trabalhadores. A esquerda no Brasil de 2003 até ano passado, em diversos momentos também fez o mesmo, seja Dilma retirando direitos no começo do segundo mandato e Lula aprovando uma reforma da previdência em 2003 que também fragilizava os pobres. Democratas nos EUA que espionam e quebram os direitos civis de modo tão ou mais direto que a direita. Trabalhistas na Inglaterra que enxugaram o Estado de bem estar social inglês e apoiam a política de extrema direita de Bush nos EUA indo a guerra no Iraque e Afeganistão. São muitos os exemplos.

Também é importante salientar que os ideias de esquerda e direita não estão mortos como muitos ultraliberais, pós-modernos e neoliberais insistem em afirmar. As diferenças de classe persistem e se aprofundaram em todo o mundo nos últimos 27 anos, desde a queda do muro de Berlim e do fim da URSS. Negar esta dualidade da realidade e suas diversas sub-divisões é negar a luta de classes, a exploração e até mesmo a mais valia. Mas esse é um debate e uma reflexão que devem continuar em outro texto.

1 Texto do professor Fernando Monteiro. Bacharel com licenciatura em Ciências Sociais pela PUC-SP com especialização em Filosofia pela UGF-SP e mestrado em Filosofia também pela PUC-SP.