sexta-feira, 24 de abril de 2009

O caminho

O Caminho: Até o Socialismo sem Estado. Em cada passo a realidade da meta.
Luce Fabbri, Editora Achiamé, 1952.

Com prefácio de Margareth Rago, inserindo algumas pinceladas sobre a obra, a Socióloga nos traz uma pequena idéia de tão crítica é a obra de Luce. Filha de Luigi Fabbri, famoso militante anarquista da Itália, combateu o fascismo ao lado de Malatesta e tantos outros companheiros da USI-AIT até onde foi possível. A autora é Italiana, nascida em Roma em 1808 e exilada para o Uruguai em 1929, fugindo ao lado do pai das violentas perseguições do fascismo.

Seu livro é uma dura crítica ao Marxismo e a Ditadura do Proletariado implementada na Rússia e nos demais países sob a influência do Partido Comunista.

Vai a raiz da história do anarquismo, nos exemplos históricos das Revoluções Liberais burguesas e a influência do Liberalismo ao início dos Movimentos Socialistas que pudemos chamar de pai assim como o Liberalismo por sua vez seria a mãe da anarquia. Cita Bakunin em alguns momentos para efetuar a crítica ao marxismo. Acredita na existência de três Socialismos: a Social Democracia que acredita na construção parlamentar deste sistema; o stalinismo e suas diferentes matizes ou o socialismo do ano 3000 e o socialismo contra o Estado ou o libertário, o anarquismo.

Luce também é excelente quando faz a crítica ao consenso de que no capitalismo existe respeito ao indivíduo e a liberdade, quando diz que na verdade o capitalismo é o sistema mais anti-individualista que possa existir. É o sistema da aniquilação do ser. A mesma crítica ácida, ela desfere ao Socialismo Marxista, que preza pela igualdade sem esquecer que jamais haverá igualdade sem que haja liberdade.

“Na realidade o Capitalismo jamais foi individualista e não se chega ao Socialismo através da estatização”.
[1]

E continua:

“Tanto o Liberalismo quanto o Socialismo tem sido falseados, desviados pela fome de poder: os liberais não vacilaram em fazer escravos aos homens, apoderando-se de seu pão, os socialistas tendem hoje para a tirania política através da estatização da propriedade. A luta entre o falso liberalismo (bloco ocidental) e o falso socialismo (bloco oriental) é uma luta no vazio, que contudo, ameaça envolver a tudo e a todos, comprometendo a adesão em um sentido e no outro de todos os que verdadeiramente desejam um mundo mais justo e mais livre.

“A história de hoje repete, com a terrível lição dos fatos, o que os anarquistas sempre têm dito: que quem quer o socialismo deve não conquistar, e sim destruir o Estado”.
[2]

Luce descreve 5 grande fatos históricos e políticos que podem gerar complicações sobre os rumos do movimento anarquista:

1-As novas formas de se distribuir o concentrado poder das empresas capitalistas podem se tornar fortes opositoras ao movimento de destruição do Estado e do Capitalismo. Aparentemente o que se entende é que vender ações da empresa para que seus trabalhadores e a própria sociedade invistam sobre a produção da mesma, pode acabar se tornando um tiro no pé do movimento sindical e libertário como um todo. Pois seria uma forma de se “comprar” mais facilmente a resistência e a luta dos trabalhadores contra o capital.

2-Se a influência do marxismo nos diz que a liberdade deve vir como conseqüência dos avanços e reformas do Socialismo para se chegar ao Comunismo, ou seja como segunda fase da evolução histórica e ai sim conviver com a plena liberdade, Luce é clara a respeito da importância para nós deste conceito:

“Hoje, que esta degeneração autoritária se chama totalitarismo, nós também devemos pôr um acento mais forte sobre a inseparabilidade, para nós óbvia, entre a liberdade e o socialismo”.
[3]

3-O socialismo não é herdeiro natural do fim da sociedade capitalista como pensam os marxistas. A autora chega a afirmar que existe um processo de fortalecimento dos Estados Nacionais e principalmente de um totalitarismo crescente. Ela cita três exemplos desta argumentação:

a) O nascimento do nazi-fascismo.
b) O crescimento do Stalisnismo.
c) O que podemos chamar de nacional desenvolvimentismo e novas políticas de aumento da presença do Estado na economia dos respectivos países.

Também é crítica aos marxistas como defensores das burguesias nacionais de suas nações e cita como exemplo a defesa de Stálin por parte da classe dirigente em toda a União Soviética sobre exigências comuns da população mais pobre, a tentativas de conciliação com a burguesia espanhola em plena guerra civil por parte do Partido Comunista Espanhol (de orientação stalinista), a defesa do clero e da monarquia do Partido Comunista Italiano diante do avanço do fascismo. Poderíamos citar outros exemplos como o do PCB que aceitou as políticas de controle e enquadramento do movimento sindical vindas da Ditadura fascista de Getúlio Vargas, da ocasião diante do golpe de 64 que não foi capaz de abrir a boca para reclamar ou de chamar uma única greve contra os militares, entre outros exemplos históricos de políticas de conciliação de classes com a burguesia nacional não só no Brasil mas em todas outras nações a mando do PCURSS.

4-Devemos estar preparados para denunciar o totalitarismo e combatê-lo com todas as armas que tivermos. O verdadeiro socialismo (libertário) deve estar em prontidão para a construção da sociedade libertária.

5- O stalinismo visa agrupar a classe trabalhadora mundial em torno do imperialismo russo sobre as demais nações do mundo. É um imperialismo que deve ser combatido tanto quanto o imperialismo estadonidense ou yanque. Para que consiga crescer e expandir suas fronteiras, o stalinismo evocará o fantasma do nacionalismo e colocará em guerra irmãos trabalhadores de diferentes países para que se matem pela “causa da classe trabalhadora”. Devemos estar atentos a essa situação, a resposta da classe trabalhadora diante do combate as guerras é o internacionalismo proletário. A luta contra as guerras é uma luta revolucionária e não uma luta pacifista.

“Toda nacionalização é no fundo militarização!”
[4]

Luce finaliza:

“Nossa missão de militantes, que no fundo é educativa mesmo quando se desdobra através de uma atividade revolucionária, se assemelha (como dizia Sócrates, com relação a sua forma de ensinar) à da parteira: ajuda a nascer”.

Ao término, também cita os exemplos que o proletariado mundial construiu na Comuna de Paris, durante aa Revolução Russa, mesmo que esmagada pelo Estado, pela Revolução Espanhola e pelas comunidades autogeridas na Palestina e que podemos também descrever as comunidades autogeridas dos Kibutz em Israel e na Palestina. Enfim, experiências diversas que podem e devem servir de exemplo para o movimento anarquista mundial.


[1] Pg. 31. Fabbri, Luce. O Caminho: Até o Socialismo sem Estado. Em cada passo a realidade da meta. Editora Achiamé, 1952.
[2] Idem. Pgs. 35 e 36.
[3] Idem. Pg. 45.
[4] Idem. Pg. 64.