sexta-feira, 24 de abril de 2009

GREVES DO PASSADO E SEUS EXEMPLOS PARA O FUTURO: OS 90 ANOS DA PRIMEIRA GREVE GERAL E REVOLUCIONÁRIA NO RIO DE JANEIRO!

GREVES DO PASSADO E SEUS EXEMPLOS PARA O FUTURO: OS 90 ANOS DA PRIMEIRA GREVE GERAL E REVOLUCIONÁRIA NO RIO DE JANEIRO!

Introdução:

A importância dos eventos do passado, sejam nas nossas vidas particulares ou na nossa sociedade são extremamente sadios para nos orientar a evitarmos erros que cometemos tanto individualmente como coletivamente. E é neste cenário que se insere a pouco estudada Greve Geral de novembro de 1918 na então Capital Federal do Brasil, a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro.

Conjuntura Sócio-Econômica e Política:

Em meados de 1917, mais especificamente em julho, os paulistas haviam construído o evento que ficou conhecido em toda a história do movimento sindical brasileiro, como a maior greve com mobilização de massas ocorrida em toda a história do pais se levarmos em conta o critério de participação da população além da classe operária, diretamente envolvida.

Esta Greve Geral de São Paulo sem sombra de dúvida serviu de exemplo para o operariado carioca construir o seu forte movimento grevista no ano seguinte. Também para agitar os ânimos da população, alguns meses antes, havia ocorrida a famosa revolta da vacina, que fez com que a população da cidade se armasse contra as ordens do Estado. Mesmo que hoje possamos olhar o episódio com certo lirismo, haviam sérios motivos para que a população carente da cidade desconfiasse da “boa vontade” do poder público em imunizar os pobres, já que era de conhecimento do povo que o Estado somente se lembrava dos mesmos nos recolhimentos de impostos ou na perseguição morros acima, de malandros, ladrões de galinha, sambistas ou os boêmios de plantão – realidade não muito diferente dos nossos dias. Enfim, havia motivos de sobra para que o povo se revoltasse contra as ordens de vacinação em massa.

Também paralela a esta crise, ocorreu em diversas partes do território brasileiro além da Europa, a famosa gripe espanhola que fez com que boa parte da população (principalmente a mais carente) fosse dizimada aos montes criando um estado de descontrole e pânico total entre o povo.

Diante deste caldeirão de desgraças, o operariado Brasileiro ainda sofria com a alta do custo de vida, que afetava praticamente toda a população. Os comícios de denúncia da penúria por que passavam os trabalhadores eram constantes e as greves e paralisações com intuito de melhores salários também eram comuns.

A Revolução Russa de Outubro de 1917:

Neste mesmo tempo em que ocorriam todas as atividades acima, na Rússia era realizada a Revolução Socialista de outubro de 17. Antes, a revolução de fevereiro na Rússia também havia fortalecido o papel e as decisões dos Soviets, Comitês ou Conselhos de Operários presentes em todas as Fábricas e no Campo. Os Soviets promoviam diretamente a expropriação das máquinas e dos equipamentos para a produção e gerenciavam a economia do país praticamente sem intervenção do Estado – pelo menos a princípio da revolução.

Não é de se estranhar que a experiência na Rússia também tenha influenciado os ânimos dos trabalhadores brasileiros a tentarem a sua própria revolução. E foi assim que o operariado carioca tentou.

A organização Operária:

A classe trabalhadora na época era organizada pelos anarcosindicalistas desde fins do século XIX. Estes são responsáveis pela fundação do movimento sindical brasileiro e promoviam agitações, manifestações, greves e paralisações afim de tentar melhorar a difícil situação do povo. Durante os anos de 1906 e 1913, foram realizados na capital do país os dois maiores Congressos Operários Brasileiros a época, que criaram a COB – Confederação Operária Brasileira e deliberaram uma série de lutas e estratégias para o movimento dos trabalhadores.

No Estado do Rio de Janeiro, os trabalhadores estavam organizados pela FORJ – Federação Operária do Rio de Janeiro, filiada a COB e de orientação anarcosindical assim como a FOSP – Federação Operária de São Paulo e tantas outras Federações locais e Estaduais no país.

Diante da forte repressão por parte da polícia contra a FORJ e o fechamento desta pela polícia a mando do Governo em agosto de 1917, depois de uma fortíssima onda de greves generalizadas pela cidade do Rio de Janeiro e em seus arredores, os trabalhadores resolvem fundar a UGT do Rio de Janeiro – União Geral dos Trabalhadores – RJ no mês de março de 1918. Em seus Estatutos, no Capítulo V, Artigo 19º, continha passagem de apoiar a reorganização do operariado brasileiro reativando a Confederação Operária Brasileira – COB. Esta foi uma tentativa de se escapar das repressões e das prisões por que passava a organização operária no Rio e em outras cidades do Estado sem se desistir da luta de objetivos revolucionários.

No dia 17 de setembro de 1918, mais um organismo sindical é fundado para o apoio a luta dos trabalhadores. É a União dos Empregados em Tinturarias – UET.

Preparativos da Greve:

A crise de fome agravou ainda mais a presença da gripe espanhola que varreu do mapa milhares e milhares de cariocas diante da má situação de higiene por que vivia a população carente da cidade. Diante do quadro assustador, a revolta perante a população aumentava de uma forma estrondosa: fome, doenças, mortes, ausência de condições mínimas de higiene, péssimos salários, castigos no trabalho, multas, crianças e mulheres mal tratadas e acidentadas quando não mortas por más condições de segurança no trabalho, alto custo de vida nos alimentos, aluguéis, etc, etc, etc, enfim, estavam dados todos os ingredientes para fomentar a revolta popular.

Paralelo a tudo isso, a organização dos anarcosindicalistas presentes nos preparativos da greve e nas diversas ações sindicais e populares iam educando os trabalhadores a tomarem atitudes mais radicais diante de suas duras realidades. Os comícios públicos contra a carestia da vida tornaram-se desde 1917 atividades cotidianas nos bairros, no centro da cidade e nas portas de fábrica.

O dia “D”:

No dia 18 de novembro de 1918, operários têxteis na cidade do Rio, Petrópolis, Niterói e Magé paralisaram a produção por volta das 15 horas da tarde. Outras categorias de trabalhadores da Indústria, serviços e comércio aderem a greve. A idéia inicial dos trabalhadores era a de atacar a Intendência de Guerra no Campo de São Cristóvão, se apossar das armas num primeiro ato. Partiriam então para a sede do Exército na capital e tomariam as armas contando com a confraternização dos soldados. Em seguida a idéia era a de dinamitar o prédio da Prefeitura, em seguida o Palácio da Polícia e o Quartel General da Brigada Policial. Na outra ponta da cidade, operários já em greve, na região da Gávea e do Jardim Botânico atacariam o Palácio do Catete (sede da Presidência da República, matariam os sentinelas e soldados que ali estivessem) e em seguida assumiriam a Câmara dos Deputados prendendo todos os Deputados presentes e proclamando o Conselho de Operários e Soldados.

Nesta proposta inicial de concentração dos operários no Campo de São Cristóvão, algumas ações começaram a falhar. Nas reuniões preparatórias da Insurreição Anarquista do Rio de Janeiro, havia um militar, Jorge Elias Ajus, tenente do Exercito, infiltrado nas reuniões dos sindicalistas, que repassou todo o plano acima mencionado as autoridades. Duas horas antes de iniciado o plano, ou seja, as 14 horas da tarde do dia 18 de novembro de 1918, várias lideranças anarquistas em diversas regiões da cidade haviam sido presas, entre eles José Oiticica, Astrojildo Pereira, Manoel Campos e vários outros.

Mesmo com o sumiço destas lideranças, os anarquistas continuaram o processo. Entraram em greve geral, saíram em passeata até o Campo de São Cristóvão e lá iniciaram uma aglomeração de centenas de operários armados. Como a polícia já sabia do que se tratava e do propósito do movimento, mandou a cavalaria dispersar a aglomeração. É aí que se inicia o conflito com tiroteios e a polícia se entrincheirando dentro da delegacia. Como as comunicações já haviam sido cortados, os policiais ficaram praticamente isolados e os revoltosos puderam tomar a Delegacia de São Cristóvão e se apossar das armas e uniformes que ali estavam. Depois, dinamitaram o prédio da Delegacia. Com o passar das horas, o Exército que já sabia das atividades, passo a passo, chega em grande escala a Delegacia de São Cristóvão e de lá expulsa a população que já ocupava a mesma. Não satisfeitos, os anarquistas rumam ao posto da Brigada Policial e dinamitam a sirene do posto e atiram outra dinamite sobre a sede da Brigada que explode sem causar muitos estragos. Diante da forte repressão que se abate sobre o movimento, pois as forças do Estado já estavam cientes da insurreição, coube aos operários mais combativos evitar tragédias maiores e reforçarem o movimento grevista nas fábricas que continuaria por vários dias depois.

Conclusão:

A insurreição de 18 de novembro serviu também para expor as cruéis condições de vida por que passava a classe trabalhadora no país. O custo de vida altíssimo, salários baixíssimos, más condições de trabalho, jornadas de mais de 14 a 18 horas diárias, exploração de crianças de até 6 anos de idade e maus tratos constantes as mesmas, mulheres que ganhavam menos e ainda eram muitas vezes abusadas por seus patrões, doenças, fome, enfim, um verdadeiro caldeirão de injustiças sociais rondavam a vida da classe trabalhadora.

A insurreição também serviu para forçar com que os empresários se organizassem melhor e empreendessem canais de negociação entre os trabalhadores e o Governo.

Para as diversas esferas do Governo, ocorreu uma grande pressão para que providências fossem tomadas afim de se aprovar um Código do Trabalho na Câmara dos Deputados. Já que um ano e meio antes, havia ocorrido a Greve Geral na cidade de São Paulo e no Rio de Janeiro e agora, ocorria tal levante popular.

Na consciência dos trabalhadores, ocorre o mais importante ganho desta insurreição, um movimento de massas disposto a derrubar o Estado e o Capitalismo estruturado no movimento sindical avança na sua organização e na sindicalização dos trabalhadores brasileiros.

Bibliografia Básica:

Addor, Carlos Augusto. A insurreição anarquista no Rio de Janeiro. 2º Edição revista e atualizada. Rio de Janeiro, Editora Achiamé. 2002.