sábado, 9 de fevereiro de 2019

Resenha do livro Santo Agostinho da coleção Filósofos em 90 minutos.


Santo Agostinho
De Paul Strathern. Coleção Filósofos em 90 minutos. Editora Jorge Zahar.

Introdução:

O livro começa falando um pouco sobre a situação da Filosofia no período após a morte de Aristóteles e a pobreza que acomete a mesma durante séculos que seguiram.

Conta-nos a história de Zenão, pai do Estoicismo, teoria que preconizava que ser sábio era renunciar a paixões da vida e se tornar virtuoso, ou seja, ter controle e firmeza diante das adversidades mantendo sempre um comportamento justo. Sêneca era um exemplo de Filósofo Estóico.

Vida e obra:

Nascido a 354, na cidade de Tagasta (nordeste da Argélia), era filho de pai alcólotra e mãe católica fervorosa que é responsável, mesmo que indiretamente pela influência no filho ao se apegar ao Cristianismo. Por boa parte da vida, Agostinho se penitenciava o tempo todo por ser um maníaco sexual. Procurava na figura de deus uma explicação por sua compulsão por sexo.

Foi pensando em explicar seu forte desejo por sexo que nosso Filósofo começa a estudar um Filósofo Persa chamado Maniqueu. Este declarava ser o Espírito Santo e acabou sendo crucificado por adoradores do fogo. Os adeptos do Maniqueísmo entendiam o mundo de forma dualista, que era produto do conflito entre o bem e o mal (luz ou trevas). Entendiam estes que a alma do homem consistia em luz enredada em trevas, da qual o homem devia buscar se libertar. Por um bom tempo Agostinho acreditou no Maniqueísmo. Entendia ele que algo nos fazia pecar e que deveríamos nos livrar de tais atitudes.

Agostinho então, vivendo em Cartago, onde se formara, recebe convite para dar aulas em Milão, mas antes disso vai para Roma buscar outro trabalho. Lá inicia estudos sobre Astronomia que o fariam contrariar o Maniqueísmo. Quando chega a Milão vai ouvir o Bispo Ambrósio e acaba por entender que o Cristianismo poderia lhe trazer um ideal e explicações que o Maniqueísmo jamais traria. Agostinho então começa a estudar outro Filósofo, o pai do Neo Platonismo, Plotino.

Plotino acrescenta as idéias de Platão na tentativa de explicar o autor com suas próprias posições, além de Pitágoras, Aristóteles e os Estoicos. Para Plotino a realidade maior era o Uno. Tudo emanava do Uno. O mal vinha de um objeto distante do Uno. O mal era a ausência do bem. Não era portanto necessária uma explicação dualista ou dicotômica de bem e mal tal qual pensavam os maniqueístas.

Num dia ocorre uma experiência pessoal com Agostinho que o faz se converter de fato ao Cristianismo. Neste mesmo período de sua vida, morre sua mãe, Mônica, que tempos depois seria canonizada pela Igreja.

Voltando a Plotino, ele acredita que para alcançar o Uno supremo, a realidade última, devemos olhar dentro de nós. Foi então que Agostinho tenta reconciliar a doutrina de Plotino com São Paulo, que era a reconciliação do Neo-platonismo com a Bíblia. Essa seria a grande façanha de Agostinho na Filosofia, uma vez que conciliou a tradição grega com o Cristianismo. Dessa maneira, os escritos da Filosofia Grega puderam ser salvos da fogueira da inquisição católica durante todo a idade média.

O pensamento de Plotino não aceitava que algo pudesse ser criado a partir do nada ou do menos, tal como em Gênesis na Bíblia. Aí aparece já a influência de Aristóteles. Com a proposta de unir o Neo-Platonismo com o Cristianismo, Agostinho explica que Deus existe fora do tempo e que este começou a partir da criação do mundo. Agostinho vê o tempo como subjetivo e está ligado a questão cultural de como o homem medieval enxergava o mundo. A realidade última, portanto o Uno, não está sujeito ao tempo. Ao flexibilizar a noção do tempo, Agostinho também relativiza toda a realidade. A única coisa que podemos ter certeza (e dessa forma não temos certeza de nada) é que existimos e pensamos. Tais afirmações estão em “Solilóquios” e vão influenciar Descartes futuramente.

Após ser empossado Bispo, virar juiz da cidade e Professor de Teologia, Agostinho inicia uma série de ataques contra seitas heterodoxas do Cristianismo como os ”Donatistas”, o “Pelagianismo” e outros. Está é uma típica atitude dos cristãos novos: tem que beijar a cruz com mais veemência do que os outros cristãos para demonstrar sua fé.

Em 410 D.C, portanto mais de oitocentos anos que um povo estrangeiro não invadia Roma, os Visigodos tomam a cidade e saqueiam-na. Os religiosos da época culpam o Imperador Teodósio por banir o culto a antigos deuses em favor do monoteísmo cristão. Diante disso, Agostinho lança “A cidade de deus”. Ele leva treze anos para terminar de escrever a obra. Já estamos portanto nos idos de 426 D.C e nosso autor já chega aos 72 anos de vida. Em 28 de agosto de 430 D.C morre Agostinho após os Bárbaros alcançarem os portões de sua cidade. Seu corpo é levado para Sardenha e lá fica até o Século VIII. Depois é levado para Pávia na Itália onde permanece até hoje.

Depois de Santo Agostinho:

Há uma discussão na História entre o começo da Idade Média em 456 D.C, quando o Imperador Rômulo Augusto, ainda menino é deposto e a metade Romana do Império é destruída. Por outro lado fala-se no começo da Idade das Trevas em 529 D.C no fechamento da Academia de Platão em Atenas a mando do Imperador Justiniano, marcando o início da escuridão. Por outro lado costuma-se também falar no início da Idade Média em 476 D.C, com a queda do Império Romano do Ocidente com sede em Roma, período que vai até 1453 com a queda do Império Bizantino ou Romano do Ocidente.

Mas deixemos de lado estes fatos e voltemos ao nosso Filósofo. Um pensador de grande repercussão na Europa pós Agostinho foi Boécio que faleceu cerca de 100 anos após a morte do santo. Ele escreveu a obra “Consolação da Filosofia” que foi o livro mais lido ou um dos mais lidos durante toda a Idade Média, após a Bíblia. A Filosofia deste Senhor era cópia do Platonismo e nada tinha do Neo-Platonismo e Plotino. A importância de Boécio, mesmo que acidental, foi manter o contato de uma elite letrada com as obras principais da Filosofia Grega. Outro Filósofo que recebe influência de Agostinho e faz uma fusão entre Filosofia e Teologia é João Escoto Erígena. Mas a grande influência do santo homem foi sobre Santo Anselmo que no Século XI fundou a Escolástica. Esta nada mais foi do que uma tentativa de construir um corpo Filosófico embasado no pensamento religioso. A Escolástica acabou se tornando uma ferramenta de opressão, pois quando se caia em contradição aos escritos sagrados, corria-se o risco em última instância, de ir parar na fogueira. Então a Filosofia se tornou um poderoso jogo de lógica e retórica baseado no dogmatismo religioso. Um novo instrumento de opressão. É como comparar a Dialética na Filosofia ao Xadrez, perdeu, morreu. O resultado desse uso opressor da Filosofia é que ela acabou sendo instrumento de repressão e controle da propaganda Cristã da Igreja.