Santo
Agostinho
De
Paul Strathern. Coleção Filósofos em 90 minutos. Editora Jorge
Zahar.
Introdução:
O
livro começa falando um pouco sobre a situação da Filosofia no
período após a morte de Aristóteles e a pobreza que acomete a
mesma durante séculos que seguiram.
Conta-nos
a história de Zenão, pai do Estoicismo, teoria que preconizava que
ser sábio era renunciar a paixões da vida e se tornar virtuoso, ou
seja, ter controle e firmeza diante das adversidades mantendo sempre
um comportamento justo. Sêneca era um exemplo de Filósofo Estóico.
Vida
e obra:
Nascido
a 354, na cidade de Tagasta (nordeste da Argélia), era filho de pai
alcólotra e mãe católica fervorosa que é responsável, mesmo que
indiretamente pela influência no filho ao se apegar ao Cristianismo.
Por boa parte da vida, Agostinho se penitenciava o tempo todo por ser
um maníaco sexual. Procurava na figura de deus uma explicação por
sua compulsão por sexo.
Foi
pensando em explicar seu forte desejo por sexo que nosso Filósofo
começa a estudar um Filósofo Persa chamado Maniqueu. Este declarava
ser o Espírito Santo e acabou sendo crucificado por adoradores do
fogo. Os adeptos do Maniqueísmo entendiam o mundo de forma dualista,
que era produto do conflito entre o bem e o mal (luz ou trevas).
Entendiam estes que a alma do homem consistia em luz enredada em
trevas, da qual o homem devia buscar se libertar. Por um bom tempo
Agostinho acreditou no Maniqueísmo. Entendia ele que algo nos fazia
pecar e que deveríamos nos livrar de tais atitudes.
Agostinho
então, vivendo em Cartago, onde se formara, recebe convite para dar
aulas em Milão, mas antes disso vai para Roma buscar outro trabalho.
Lá inicia estudos sobre Astronomia que o fariam contrariar o
Maniqueísmo. Quando chega a Milão vai ouvir o Bispo Ambrósio e
acaba por entender que o Cristianismo poderia lhe trazer um ideal e
explicações que o Maniqueísmo jamais traria. Agostinho então
começa a estudar outro Filósofo, o pai do Neo Platonismo, Plotino.
Plotino
acrescenta as idéias de Platão na tentativa de explicar o autor com
suas próprias posições, além de Pitágoras, Aristóteles e os
Estoicos. Para Plotino a realidade maior era o Uno. Tudo emanava do
Uno. O mal vinha de um objeto distante do Uno. O mal era a ausência
do bem. Não era portanto necessária uma explicação dualista ou
dicotômica de bem e mal tal qual pensavam os maniqueístas.
Num
dia ocorre uma experiência pessoal com Agostinho que o faz se
converter de fato ao Cristianismo. Neste mesmo período de sua vida,
morre sua mãe, Mônica, que tempos depois seria canonizada pela
Igreja.
Voltando
a Plotino, ele acredita que para alcançar o Uno supremo, a realidade
última, devemos olhar dentro de nós. Foi então que Agostinho tenta
reconciliar a doutrina de Plotino com São Paulo, que era a
reconciliação do Neo-platonismo com a Bíblia. Essa seria a grande
façanha de Agostinho na Filosofia, uma vez que conciliou a tradição
grega com o Cristianismo. Dessa maneira, os escritos da Filosofia
Grega puderam ser salvos da fogueira da inquisição católica
durante todo a idade média.
O
pensamento de Plotino não aceitava que algo pudesse ser criado a
partir do nada ou do menos, tal como em Gênesis na Bíblia. Aí
aparece já a influência de Aristóteles. Com a proposta de unir o
Neo-Platonismo com o Cristianismo, Agostinho explica que Deus existe
fora do tempo e que este começou a partir da criação do mundo.
Agostinho vê o tempo como subjetivo e está ligado a questão
cultural de como o homem medieval enxergava o mundo. A realidade
última, portanto o Uno, não está sujeito ao tempo. Ao flexibilizar
a noção do tempo, Agostinho também relativiza toda a realidade. A
única coisa que podemos ter certeza (e dessa forma não temos
certeza de nada) é que existimos e pensamos. Tais afirmações estão
em “Solilóquios” e vão influenciar Descartes futuramente.
Após
ser empossado Bispo, virar juiz da cidade e Professor de Teologia,
Agostinho inicia uma série de ataques contra seitas heterodoxas do
Cristianismo como os ”Donatistas”, o “Pelagianismo” e outros.
Está é uma típica atitude dos cristãos novos: tem que beijar a
cruz com mais veemência do que os outros cristãos para demonstrar
sua fé.
Em
410 D.C, portanto mais de oitocentos anos que um povo estrangeiro não
invadia Roma, os Visigodos tomam a cidade e saqueiam-na. Os
religiosos da época culpam o Imperador Teodósio por banir o culto a
antigos deuses em favor do monoteísmo cristão. Diante disso,
Agostinho lança “A cidade de deus”. Ele leva treze anos para
terminar de escrever a obra. Já estamos portanto nos idos de 426 D.C
e nosso autor já chega aos 72 anos de vida. Em 28 de agosto de 430
D.C morre Agostinho após os Bárbaros alcançarem os portões de sua
cidade. Seu corpo é levado para Sardenha e lá fica até o Século
VIII. Depois é levado para Pávia na Itália onde permanece até
hoje.
Depois
de Santo Agostinho:
Há
uma discussão na História entre o começo da Idade Média em 456
D.C, quando o Imperador Rômulo Augusto, ainda menino é deposto e a
metade Romana do Império é destruída. Por outro lado fala-se no
começo da Idade das Trevas em 529 D.C no fechamento da Academia de
Platão em Atenas a mando do Imperador Justiniano, marcando o início
da escuridão. Por outro lado costuma-se também falar no início da
Idade Média em 476 D.C, com a queda do Império Romano do Ocidente
com sede em Roma, período que vai até 1453 com a queda do Império
Bizantino ou Romano do Ocidente.
Mas
deixemos de lado estes fatos e voltemos ao nosso Filósofo. Um
pensador de grande repercussão na Europa pós Agostinho foi Boécio
que faleceu cerca de 100 anos após a morte do santo. Ele escreveu a
obra “Consolação da Filosofia” que foi o livro mais lido ou um
dos mais lidos durante toda a Idade Média, após a Bíblia. A
Filosofia deste Senhor era cópia do Platonismo e nada tinha do
Neo-Platonismo e Plotino. A importância de Boécio, mesmo que
acidental, foi manter o contato de uma elite letrada com as obras
principais da Filosofia Grega. Outro Filósofo que recebe influência
de Agostinho e faz uma fusão entre Filosofia e Teologia é João
Escoto Erígena. Mas a grande influência do santo homem foi sobre
Santo Anselmo que no Século XI fundou a Escolástica. Esta nada mais
foi do que uma tentativa de construir um corpo Filosófico embasado
no pensamento religioso. A Escolástica acabou se tornando uma
ferramenta de opressão, pois quando se caia em contradição aos
escritos sagrados, corria-se o risco em última instância, de ir
parar na fogueira. Então a Filosofia se tornou um poderoso jogo de
lógica e retórica baseado no dogmatismo religioso. Um novo
instrumento de opressão. É como comparar a Dialética na Filosofia
ao Xadrez, perdeu, morreu. O resultado desse uso opressor da
Filosofia é que ela acabou sendo instrumento de repressão e
controle da propaganda Cristã da Igreja.