Aristóteles
– Metafísica.
Esta
resenha está lida pela tradução do espanhol. São 14 livros
reunidos num único volume. A obra reúne todos os escritos de
Aristóteles agrupados por seu aluno numa única e densa produção,
tratando de todos os assuntos após a obra “Física” do autor.
Livro
I:
Capítulo
I:
Lembranças
de uma mesma coisa, representam uma experiência. A Ciência vem da
experiência e a arte nasce do homem. A experiência, por sua vez, se
assemelha a ciência e a arte. É interessante ver no autor essa
semelhança entre ciência e arte. Pg. 42.
A
experiência é o conhecimento das coisas particulares e a arte das
coisas gerais. Pg. 43.
Pouco
adiante ele fala da necessidade de respeitabilidade aos mestres de
obras, diretores e outros cargos de chefia do que somente aos
operários. O que se entende é que saber prático não é o mais
importante pois este é dependente do saber teórico. Pg. 43 e 44.
O
autor volta a tocar no assunto da racionalidade sobre os sentidos.
Pg. 44.
Isto
acaba por refletir uma contradição em sua obra. A grande
discordância de Aristóteles com Platão foi referente a importância
que seu mestre dava ao mundo das idéias e ao Idealismo sobre o
materialismo.
Quando
o autor nos fala que arte é ciência e quem somente quem tem arte
pode ensinar, por isso dos mestres e chefes de obras serem superiores
aos operários, este se esquece que para que isso ocorra é porque
existe uma diferença social. Aí reside segundo Marx a contradição
de Aristóteles.
Ao
comparar Filosofia com Ciência, pois esta seria o estudo das causas
primeiras, há uma comparação com a Metafísica e ao conceito de
deus pois este é o motor primeiro do universo. Pg. 44 e 45.
Ao
tentar definir um objeto da Filosofia, o autor praticamente se obriga
a entendê-la, praticá-la e defini-la como passível de um objeto de
estudo.
Capítulo
II:
Aristóteles
inicia este capítulo tentando definir o que é o Filósofo.
Percebe-se aí uma necessidade de mando ou de comando sobre a
coletividade por parte do sábio ou seja, do Filósofo pois este é
conhecedor da verdade e os outros não. Pg. 45.
Adiante
ele retoma a questão de se focar um objeto para a ciência e do
porque a ciência das causas primeiras será a Filosofia. Pg. 46.
Adorno
em “Dialética” beberá desta água. Numa passagem, Aristóteles
fala da liberdade da Filosofia. Pg 47.
Posteriormente
ele assume que a Filosofia é patrimônio de deus. Pg. 48.
Capítulo
III:
Se a
Filosofia é a Ciência da causa primeira, ele divide as causas em
quatro grandes tipos:
1-Essencial:
É o próprio objeto em si.
2-Material:
De que substância ele é feito.
3-Eficiente
ou do Movimento: O objeto é estático ou não? Seus movimentos são
voluntários?
4-Causa
Final: Um resumo ou conclusão das outras causas e do ser.
Aristóteles
discute por boa parte sobre Tales, fundador da Filosofia da Physis ou
da Física ou ainda, da Natureza. Defende Anaxágoras de Clazómenas
quando fala sobre um ser inteligível criador do mundo e do Universo.
Capítulo
IV:
Fala
de Hesíodo e a importância do amor. Como Professor de Anaxágoras
também lhe influenciou nessa discussão. Já Empédocles trará a
importância da amizade como princípio do bem e a discórdia como
princípio do mal. Tal questão influenciará o próprio Aristóteles
na sua definição do que vem a ser justiça: é a sociedade de
amigos que somente o são por serem iguais. Pg. 54.
Empédocles
é também o único a enxergar os 4 elementos básicos.
O
autor passa também pelos atomistas, Leucipo e Demócrito e a teoria
do cheio e do vazio. Num mesmo tempo, um corpo pode conter o cheio e
o vazio. São as células e os espaços entre as mesmas. São estas
diferenças que são as causas de todas as coisas. Nesta argumentação
dos atomistas, podemos de certo modo entender a existência da física
quântica.
Capítulo
V:
Aristóteles
fala dos Pitagóricos e de sua capacidade de tentar interpretar a
realidade em números. Por conseguirem inserir as cores, os números,
as notas musicais, letras e símbolos em números, acreditavam que no
céu haveriam números e que a harmonia pairava no ambiente. Eles são
responsáveis por criar o décimo algarismo, chamado antictón ou
antichthone que era representado pela esfera da Lua.
O
autor nos fala de Alcmeón de Crotona. Aluno de Pirágoras que cria
uma forma diferente de enxergar a realidade, próximo do que os
atomistas imaginavam: a teoria dos contrários. Pg. 58.
Capítulo
VI:
Aristóteles
tenta explicar a influência de Pitágoras e de seus alunos, em
especial Cratilo, que foi aluno de Heráclito, na formulação da
Filosofia de Platão. Também fala de Sócrates como responsável
pela formação moral de Platão.
A
influência dos Pitagóricos sobre Platão parece ter sido forte,
segundo o nosso autor. Platão, ao dividir o conhecimento em Mundo
das Idéias e das Sombras, inseriu um terceiro elemento neutro e que
não se encaixava em nenhum dos dois: os números e os elementos da
matemática. Pg. 62.
Capítulo
VII:
O
autor volta a fazer uma rememoração dos capítulos anteriores e da
história da Filosofia e dos Pré-Socráticos. Faz a devida divisão
na história da Filosofia quando os primeiros se importaram mais com
a questão da matéria e do movimento do que com o intelecto do
homem, do ser em si e de sua essência.
Capítulo
VIII:
Logo
no começo do capítulo ele faz uma crítica aos Filósofos que são
essencialmente materialistas e que desprezam a existência dos seres
incorpóreos. Pg. 65.
Ele
critica os antigos Filósofos da Physis julgando algumas de suas
análises como equivocadas por entenderem uma Ontologia baseados em
princípios ou substâncias únicas, indeterminadas.
A
questão dos números constituindo o Universo, discussão criada por
Pitágoras e seus discípulos aparece em Platão e no filme Matrix.
Todas as coisas ou objetos que compõem a realidade no filme, as
telas verdes em números e letras numa espécie de código de
computadores (binário ou hexadecimal), são a forma clara e aberta
da fonte do computador Matrix reconstruindo a realidade ao seu modo.
Capítulo
IX:
No
capítulo anterior, Aristóteles irá fazer uma crítica aos
Filósofos e a própria Filosofia Materialista. Neste capítulo ele
criticará a Filosofia Idealista.
Ele
começa abordando a questão Platônica sobre o número de idéias
que deve haver representando cada um dos objetos e as infindáveis
variáveis destes mesmos objetos; seus sinônimos, antônimos e de
quanto seria impossível a mente humana lembrar e ter acesso a todas
estas informações. Pela crítica do autor seria algo impraticável
(ainda mais nos dias de hoje). Pg. 70.
Ao
retratar um objeto que é o dobro do outro, isto poderia trazer um
processo de potenciação da matéria (objeto) e portanto da idéia
que ele represente. Isto seria impossível de ser contraído ou
aprendido pela mente humana.
Neste
capítulo, o autor dá início ao prenúncio da crítica que fará a
Teoria das Idéias de Platão por conter no mundo das idéias a
essência das coisas. Pg. 72.
E
continua nosso autor de modo satírico: Pg. 73 – 2º anotação.
Números
somados, subtraídos, divididos, multiplicados, enfim, números
sempre podem constituir outros de si mesmo. E as idéias? Como somar
um elefante com um gato? Ou diminuir uma árvore num carro? Pg. 74.
Enquanto
Parmênides fala da imutabilidade da natureza e dos corpos,
Aristóteles vai questionar esta estática como o fim do movimento
também das idéias (por representação ou causa dos objetos e do
mundo sensível) e o fim da natureza. Pg. 76.
Ele
finaliza o capítulo com uma crítica ao inatismo do saber e da
Ciência nos homens. Pg. 78.
Capítulo
X:
Ele
finaliza este primeiro livro fazendo uma conclusão do que é certo
ou errado na Filosofia da Physis e nas obras de outros autores.
Critica Empédocles ao fazer sua explicação Ontológica e
Metafísica dos princípios e substâncias e objetos.
Livro
II:
Capítulo
I:
Começa
este segundo livro discutindo a questão da verdade e da
impossibilidade de uma certeza completa e da própria incerteza. Pg.
81.
Fazer
Ciência não é nada fácil. Os seres que são verdadeiros carregam
consigo a causa de sua verdade. O fogo é verdadeiro porque carrega
com ele mesmo a produção do próprio calor. Em outras palavras,
Aristóteles quer nos dizer que a verdade está no objeto em si, na
matéria em si. Sua essência está presente nele mesmo e não no
mundo das idéias tal qual Platão desejava. Todas as coisas possuem
uma causa. As causas nunca serão infinitas. Sempre haverá uma Causa
Primeira, que para o autor é o motor primeiro ou deus. Ou seja, para
o autor não existe infinito para menos ou para mais, tanto para o
micro quanto para o macro. Pg. 85.
A
Ciência, de um modo geral, necessita ter ao menos um método para
cada uma das Ciências. O que se aplica, por exemplo, na Física, não
se aplica na Matemática (segundo o autor). Pg. 86 e 87.
Isto
aparentemente quer dar a entender que as Ciências devem desenvolver
seus próprios métodos e caminhos (apesar de ter algo em comum), que
aparentemente o autor nos dá a entender que deva ser a Filosofia.
Este impulso ao crescimento e desenvolvimento das Ciências se
tornará mais profundo a partir de Descartes.
Ao
que parece, este capítulo também serve para se introduzir uma
discussão maior do que é o método da ciência e seus objetos.
Livro
III:
Capítulo
I:
Aristóteles
abre uma série de questões sobre os objetos de estudo da Filosofia,
seu método, se ele deve ser único ou não, se deve haver um por
Ciência ou vários, deve estudar apenas os conteúdos sensíveis ou
também os inteligíveis, enfim, as perguntas e dúvidas elencadas
pelo autor são muitas, as possibilidades de respondê-las também.
Capítulo
II:
O
autor retoma algumas das mesmas perguntas anteriormente feitas e
outras muito importantes para o universo da Física e do saber. Há
uma questão que chama bastante a atenção. Pg. 93.
Parece,
pelas dicas do tradutor, que o Livro IV guarda tais respostas. Outra
questão citada é a de que se a Ciência é a Teoria dos Contrários
ou não? Pg. 93.
Ele
conclui que a Metafísica, ciência das causas primeiras, como a mais
importante de todas elas. Aparentemente inserindo todas em um grau
hierárquico de importância. Pg. 94.
Outra
questão levantada por Aristóteles é a de que se os princípios
demonstrativos de uma Ciência pertencem a uma única delas ou a
várias delas? Pg. 95.
No
Livro IV, aparentemente se tem mais respostas.
Existe
uma Ciência para toda essência ou são várias? O autor acredita
que não é provável que exista uma só Ciência para cada
substância. De qualquer modo, esta é uma questão que também
retorna mais adiante.
Posteriormente
o autor questiona a existência de seres intermediários que Platão
propõe entre o mundo sensível e o inteligível, sendo os
intermediários os números e outros elementos da Matemática.
Aristóteles ironiza tal tese de Platão vindo da influência dos
Pitagóricos. Pg. 97.
O
Estagirista também nega que os seres intermediários estariam
ligados tanto aos sensíveis quanto aos inteligíveis. Eles fazem
parte de um processo único caso existam. Pg. 98.
Esta
passagem nos remete a obra de Kant em Crítica da Razão Pura.
Capítulo
III:
Outras
considerações e perguntas são realizadas sobre a questão dos
gêneros como ementas e princípios. Os gêneros podem ser princípios
das definições de cada ser, assim como os princípios de cada
espécie. Pg. 99. 2º anotação.
Aristóteles
também acredita não ser possível se referir a todos os seres por
um único gênero: ainda bem.
Capítulo
IV:
É
possível fazer Ciência a partir do indeterminado ou do geral e não
se baseando no particular? Pg. 102.
A
substância que constitui o homem é única ou são várias? O autor
acredita que são várias pelo fato dos homens serem diferentes. Pg.
103.
Adiante
ele reafirma dizendo que o princípio de todos os seres não pode ser
único.
Outras
questões apontadas: o ser e a unidade: são substâncias dos seres?
Quem é o ser e a unidade? Empédocles afirmou que o ser é a amizade
e esta é a unidade de todas as coisas.
Capítulo
V:
Aristóteles
inicia o capítulo com outra pergunta: Pg. 109.
Aristóteles
nos surpreende. Diz que os antigos acreditavam que os corpos eram
compostos de substâncias. Estavam certos. Por outro lado, estes
mesmos antigos acreditavam que o fogo, terra, água e ar, também
eram substâncias como o corpo. Aristóteles os contraria dizendo que
estes não são substâncias, mas sim modificações. Pg. 110.
Provavelmente
este nome se dá pelo fato de tais matérias serem ou estarem em
constante definição, alteração ou movimento.
Capítulo
VI:
No
começo, dá-se a entender que Aristóteles, fazendo uma crítica ao
método Platônico, considera que os objetos sensíveis e os objetos
da matemática (intermediários), são constituídos de alguma
substância, as idéias não. Ou seja, não existem outros seres fora
dos sensíveis e intermediários. Pg. 112.
A
Ciência não pode se debruçar sobre questões pessoais ou
particulares de cada ser. Ciência se faz do geral e não do
particular. Pg. 113.
Tal
afirmação não contraria o método de investigação científica do
autor que acredita que a verdade pode ser buscada na particularidade
e não no todo.
Livro
IV:
Capítulo
I:
É a
justificativa da existência e da necessidade da Metafísica:
conhecer o ser enquanto ser.
Capítulo
II:
Aristóteles
vai sustentar a tese de uma Ciência única para cuidar dos objetos
sensíveis. Pg. 116.
As
Ciências se dividirão. Uma delas cuidará de estudar das espécies,
identidades, semelhanças e contrariedades nos mesmos. A Filosofia
deverá se dividir em várias outras Ciências. Pg. 117.
E o
autor continua logo adiante reafirmando. Pg. 118.
Ele
está lançando as bases para a fundamentação da Metafísica. Pg.
120.
Ao
propor que a Filosofia deve pesquisar sob a supervisão da Metafísica
tudo o que seja das idéias e dos sentidos, da prática e da teoria,
das substâncias e dos modos, o autor abre de uma forma muito ampla
os campos e objetos de pesquisa da “Ciência primeira”. Pg. 121.
Capítulo
III:
Inicia
este capítulo falando da Física e de sua proximidade com a
Filosofia. Pg. 122.
Retoma
a discussão sobre a impossibilidade de falha na teoria dos
contrários. Porém, pelo que se sabe, o autor colocará de modo
contrário a mesma nos livros posteriores. Pg. 123.
Capítulo
IV:
Finalmente
esclarece sua crítica sobre a Teoria dos contrários discordando da
mesma. Pg. 124.
Outra
questão levantada é a questão do enquadramento dos objetos em
palavras, ou seja, dar significado ao que era insignificável, é uma
forma que o homem encontra para domar a natureza, o próprio homem, o
território, enfim, o mundo. Este significar ao que era um “anomos”,
é uma das maneiras da ciência dominar o homem ou auxiliá-lo a
dominação de todos e das coisas. Pg. 125.
Ele
mantém seu argumento crítico a Teoria dos Contrários. Pg. 126.
Ao
que se parece, apesar de tanto criticar os Sofistas (inclusive em
algumas páginas anteriores), Aristóteles se utiliza de artimanhas
para contrariar o que é incontrariável: A Teoria dos Contrários.
Pg. 128.