sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Resenha de Metafísica de Aristóteles.

Esta é uma resenha do Livro I ao Livro IV da obra "Metafísica" de Aristóteles. Infelizmente não consegui finalizar a leitura da mesma. Porém, acredito que já seja uma introdução aos ensinamentos do Filósofo. Bons estudos!


Aristóteles – Metafísica.

Esta resenha está lida pela tradução do espanhol. São 14 livros reunidos num único volume. A obra reúne todos os escritos de Aristóteles agrupados por seu aluno numa única e densa produção, tratando de todos os assuntos após a obra “Física” do autor.

Livro I:

Capítulo I:

Lembranças de uma mesma coisa, representam uma experiência. A Ciência vem da experiência e a arte nasce do homem. A experiência, por sua vez, se assemelha a ciência e a arte. É interessante ver no autor essa semelhança entre ciência e arte. Pg. 42.

A experiência é o conhecimento das coisas particulares e a arte das coisas gerais. Pg. 43.

Pouco adiante ele fala da necessidade de respeitabilidade aos mestres de obras, diretores e outros cargos de chefia do que somente aos operários. O que se entende é que saber prático não é o mais importante pois este é dependente do saber teórico. Pg. 43 e 44.

O autor volta a tocar no assunto da racionalidade sobre os sentidos. Pg. 44.

Isto acaba por refletir uma contradição em sua obra. A grande discordância de Aristóteles com Platão foi referente a importância que seu mestre dava ao mundo das idéias e ao Idealismo sobre o materialismo.

Quando o autor nos fala que arte é ciência e quem somente quem tem arte pode ensinar, por isso dos mestres e chefes de obras serem superiores aos operários, este se esquece que para que isso ocorra é porque existe uma diferença social. Aí reside segundo Marx a contradição de Aristóteles.

Ao comparar Filosofia com Ciência, pois esta seria o estudo das causas primeiras, há uma comparação com a Metafísica e ao conceito de deus pois este é o motor primeiro do universo. Pg. 44 e 45.

Ao tentar definir um objeto da Filosofia, o autor praticamente se obriga a entendê-la, praticá-la e defini-la como passível de um objeto de estudo.

Capítulo II:

Aristóteles inicia este capítulo tentando definir o que é o Filósofo. Percebe-se aí uma necessidade de mando ou de comando sobre a coletividade por parte do sábio ou seja, do Filósofo pois este é conhecedor da verdade e os outros não. Pg. 45.

Adiante ele retoma a questão de se focar um objeto para a ciência e do porque a ciência das causas primeiras será a Filosofia. Pg. 46.

Adorno em “Dialética” beberá desta água. Numa passagem, Aristóteles fala da liberdade da Filosofia. Pg 47.

Posteriormente ele assume que a Filosofia é patrimônio de deus. Pg. 48.

Capítulo III:

Se a Filosofia é a Ciência da causa primeira, ele divide as causas em quatro grandes tipos:
1-Essencial: É o próprio objeto em si.
2-Material: De que substância ele é feito.
3-Eficiente ou do Movimento: O objeto é estático ou não? Seus movimentos são voluntários?
4-Causa Final: Um resumo ou conclusão das outras causas e do ser.
Aristóteles discute por boa parte sobre Tales, fundador da Filosofia da Physis ou da Física ou ainda, da Natureza. Defende Anaxágoras de Clazómenas quando fala sobre um ser inteligível criador do mundo e do Universo.

Capítulo IV:

Fala de Hesíodo e a importância do amor. Como Professor de Anaxágoras também lhe influenciou nessa discussão. Já Empédocles trará a importância da amizade como princípio do bem e a discórdia como princípio do mal. Tal questão influenciará o próprio Aristóteles na sua definição do que vem a ser justiça: é a sociedade de amigos que somente o são por serem iguais. Pg. 54.

Empédocles é também o único a enxergar os 4 elementos básicos.

O autor passa também pelos atomistas, Leucipo e Demócrito e a teoria do cheio e do vazio. Num mesmo tempo, um corpo pode conter o cheio e o vazio. São as células e os espaços entre as mesmas. São estas diferenças que são as causas de todas as coisas. Nesta argumentação dos atomistas, podemos de certo modo entender a existência da física quântica.

Capítulo V:

Aristóteles fala dos Pitagóricos e de sua capacidade de tentar interpretar a realidade em números. Por conseguirem inserir as cores, os números, as notas musicais, letras e símbolos em números, acreditavam que no céu haveriam números e que a harmonia pairava no ambiente. Eles são responsáveis por criar o décimo algarismo, chamado antictón ou antichthone que era representado pela esfera da Lua.

O autor nos fala de Alcmeón de Crotona. Aluno de Pirágoras que cria uma forma diferente de enxergar a realidade, próximo do que os atomistas imaginavam: a teoria dos contrários. Pg. 58.

Capítulo VI:

Aristóteles tenta explicar a influência de Pitágoras e de seus alunos, em especial Cratilo, que foi aluno de Heráclito, na formulação da Filosofia de Platão. Também fala de Sócrates como responsável pela formação moral de Platão.

A influência dos Pitagóricos sobre Platão parece ter sido forte, segundo o nosso autor. Platão, ao dividir o conhecimento em Mundo das Idéias e das Sombras, inseriu um terceiro elemento neutro e que não se encaixava em nenhum dos dois: os números e os elementos da matemática. Pg. 62.

Capítulo VII:

O autor volta a fazer uma rememoração dos capítulos anteriores e da história da Filosofia e dos Pré-Socráticos. Faz a devida divisão na história da Filosofia quando os primeiros se importaram mais com a questão da matéria e do movimento do que com o intelecto do homem, do ser em si e de sua essência.

Capítulo VIII:

Logo no começo do capítulo ele faz uma crítica aos Filósofos que são essencialmente materialistas e que desprezam a existência dos seres incorpóreos. Pg. 65.

Ele critica os antigos Filósofos da Physis julgando algumas de suas análises como equivocadas por entenderem uma Ontologia baseados em princípios ou substâncias únicas, indeterminadas.

A questão dos números constituindo o Universo, discussão criada por Pitágoras e seus discípulos aparece em Platão e no filme Matrix. Todas as coisas ou objetos que compõem a realidade no filme, as telas verdes em números e letras numa espécie de código de computadores (binário ou hexadecimal), são a forma clara e aberta da fonte do computador Matrix reconstruindo a realidade ao seu modo.

Capítulo IX:

No capítulo anterior, Aristóteles irá fazer uma crítica aos Filósofos e a própria Filosofia Materialista. Neste capítulo ele criticará a Filosofia Idealista.

Ele começa abordando a questão Platônica sobre o número de idéias que deve haver representando cada um dos objetos e as infindáveis variáveis destes mesmos objetos; seus sinônimos, antônimos e de quanto seria impossível a mente humana lembrar e ter acesso a todas estas informações. Pela crítica do autor seria algo impraticável (ainda mais nos dias de hoje). Pg. 70.

Ao retratar um objeto que é o dobro do outro, isto poderia trazer um processo de potenciação da matéria (objeto) e portanto da idéia que ele represente. Isto seria impossível de ser contraído ou aprendido pela mente humana.

Neste capítulo, o autor dá início ao prenúncio da crítica que fará a Teoria das Idéias de Platão por conter no mundo das idéias a essência das coisas. Pg. 72.

E continua nosso autor de modo satírico: Pg. 73 – 2º anotação.
Números somados, subtraídos, divididos, multiplicados, enfim, números sempre podem constituir outros de si mesmo. E as idéias? Como somar um elefante com um gato? Ou diminuir uma árvore num carro? Pg. 74.

Enquanto Parmênides fala da imutabilidade da natureza e dos corpos, Aristóteles vai questionar esta estática como o fim do movimento também das idéias (por representação ou causa dos objetos e do mundo sensível) e o fim da natureza. Pg. 76.

Ele finaliza o capítulo com uma crítica ao inatismo do saber e da Ciência nos homens. Pg. 78.

Capítulo X:

Ele finaliza este primeiro livro fazendo uma conclusão do que é certo ou errado na Filosofia da Physis e nas obras de outros autores. Critica Empédocles ao fazer sua explicação Ontológica e Metafísica dos princípios e substâncias e objetos.

Livro II:
Capítulo I:

Começa este segundo livro discutindo a questão da verdade e da impossibilidade de uma certeza completa e da própria incerteza. Pg. 81.

Fazer Ciência não é nada fácil. Os seres que são verdadeiros carregam consigo a causa de sua verdade. O fogo é verdadeiro porque carrega com ele mesmo a produção do próprio calor. Em outras palavras, Aristóteles quer nos dizer que a verdade está no objeto em si, na matéria em si. Sua essência está presente nele mesmo e não no mundo das idéias tal qual Platão desejava. Todas as coisas possuem uma causa. As causas nunca serão infinitas. Sempre haverá uma Causa Primeira, que para o autor é o motor primeiro ou deus. Ou seja, para o autor não existe infinito para menos ou para mais, tanto para o micro quanto para o macro. Pg. 85.

A Ciência, de um modo geral, necessita ter ao menos um método para cada uma das Ciências. O que se aplica, por exemplo, na Física, não se aplica na Matemática (segundo o autor). Pg. 86 e 87.

Isto aparentemente quer dar a entender que as Ciências devem desenvolver seus próprios métodos e caminhos (apesar de ter algo em comum), que aparentemente o autor nos dá a entender que deva ser a Filosofia. Este impulso ao crescimento e desenvolvimento das Ciências se tornará mais profundo a partir de Descartes.

Ao que parece, este capítulo também serve para se introduzir uma discussão maior do que é o método da ciência e seus objetos.

Livro III:
Capítulo I:

Aristóteles abre uma série de questões sobre os objetos de estudo da Filosofia, seu método, se ele deve ser único ou não, se deve haver um por Ciência ou vários, deve estudar apenas os conteúdos sensíveis ou também os inteligíveis, enfim, as perguntas e dúvidas elencadas pelo autor são muitas, as possibilidades de respondê-las também.

Capítulo II:

O autor retoma algumas das mesmas perguntas anteriormente feitas e outras muito importantes para o universo da Física e do saber. Há uma questão que chama bastante a atenção. Pg. 93.

Parece, pelas dicas do tradutor, que o Livro IV guarda tais respostas. Outra questão citada é a de que se a Ciência é a Teoria dos Contrários ou não? Pg. 93.
Ele conclui que a Metafísica, ciência das causas primeiras, como a mais importante de todas elas. Aparentemente inserindo todas em um grau hierárquico de importância. Pg. 94.

Outra questão levantada por Aristóteles é a de que se os princípios demonstrativos de uma Ciência pertencem a uma única delas ou a várias delas? Pg. 95.

No Livro IV, aparentemente se tem mais respostas.

Existe uma Ciência para toda essência ou são várias? O autor acredita que não é provável que exista uma só Ciência para cada substância. De qualquer modo, esta é uma questão que também retorna mais adiante.

Posteriormente o autor questiona a existência de seres intermediários que Platão propõe entre o mundo sensível e o inteligível, sendo os intermediários os números e outros elementos da Matemática. Aristóteles ironiza tal tese de Platão vindo da influência dos Pitagóricos. Pg. 97.

O Estagirista também nega que os seres intermediários estariam ligados tanto aos sensíveis quanto aos inteligíveis. Eles fazem parte de um processo único caso existam. Pg. 98.

Esta passagem nos remete a obra de Kant em Crítica da Razão Pura.

Capítulo III:

Outras considerações e perguntas são realizadas sobre a questão dos gêneros como ementas e princípios. Os gêneros podem ser princípios das definições de cada ser, assim como os princípios de cada espécie. Pg. 99. 2º anotação.

Aristóteles também acredita não ser possível se referir a todos os seres por um único gênero: ainda bem.

Capítulo IV:

É possível fazer Ciência a partir do indeterminado ou do geral e não se baseando no particular? Pg. 102.

A substância que constitui o homem é única ou são várias? O autor acredita que são várias pelo fato dos homens serem diferentes. Pg. 103.

Adiante ele reafirma dizendo que o princípio de todos os seres não pode ser único.

Outras questões apontadas: o ser e a unidade: são substâncias dos seres? Quem é o ser e a unidade? Empédocles afirmou que o ser é a amizade e esta é a unidade de todas as coisas.
Capítulo V:

Aristóteles inicia o capítulo com outra pergunta: Pg. 109.
Aristóteles nos surpreende. Diz que os antigos acreditavam que os corpos eram compostos de substâncias. Estavam certos. Por outro lado, estes mesmos antigos acreditavam que o fogo, terra, água e ar, também eram substâncias como o corpo. Aristóteles os contraria dizendo que estes não são substâncias, mas sim modificações. Pg. 110.

Provavelmente este nome se dá pelo fato de tais matérias serem ou estarem em constante definição, alteração ou movimento.

Capítulo VI:

No começo, dá-se a entender que Aristóteles, fazendo uma crítica ao método Platônico, considera que os objetos sensíveis e os objetos da matemática (intermediários), são constituídos de alguma substância, as idéias não. Ou seja, não existem outros seres fora dos sensíveis e intermediários. Pg. 112.

A Ciência não pode se debruçar sobre questões pessoais ou particulares de cada ser. Ciência se faz do geral e não do particular. Pg. 113.

Tal afirmação não contraria o método de investigação científica do autor que acredita que a verdade pode ser buscada na particularidade e não no todo.

Livro IV:
Capítulo I:

É a justificativa da existência e da necessidade da Metafísica: conhecer o ser enquanto ser.

Capítulo II:

Aristóteles vai sustentar a tese de uma Ciência única para cuidar dos objetos sensíveis. Pg. 116.
As Ciências se dividirão. Uma delas cuidará de estudar das espécies, identidades, semelhanças e contrariedades nos mesmos. A Filosofia deverá se dividir em várias outras Ciências. Pg. 117.

E o autor continua logo adiante reafirmando. Pg. 118.

Ele está lançando as bases para a fundamentação da Metafísica. Pg. 120.

Ao propor que a Filosofia deve pesquisar sob a supervisão da Metafísica tudo o que seja das idéias e dos sentidos, da prática e da teoria, das substâncias e dos modos, o autor abre de uma forma muito ampla os campos e objetos de pesquisa da “Ciência primeira”. Pg. 121.

Capítulo III:

Inicia este capítulo falando da Física e de sua proximidade com a Filosofia. Pg. 122.

Retoma a discussão sobre a impossibilidade de falha na teoria dos contrários. Porém, pelo que se sabe, o autor colocará de modo contrário a mesma nos livros posteriores. Pg. 123.

Capítulo IV:

Finalmente esclarece sua crítica sobre a Teoria dos contrários discordando da mesma. Pg. 124.

Outra questão levantada é a questão do enquadramento dos objetos em palavras, ou seja, dar significado ao que era insignificável, é uma forma que o homem encontra para domar a natureza, o próprio homem, o território, enfim, o mundo. Este significar ao que era um “anomos”, é uma das maneiras da ciência dominar o homem ou auxiliá-lo a dominação de todos e das coisas. Pg. 125.

Ele mantém seu argumento crítico a Teoria dos Contrários. Pg. 126.

Ao que se parece, apesar de tanto criticar os Sofistas (inclusive em algumas páginas anteriores), Aristóteles se utiliza de artimanhas para contrariar o que é incontrariável: A Teoria dos Contrários. Pg. 128.