segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Ideologia do Anarquismo

A Ideologia do Anarquismo.
Rudolf Rocker.


Livreto traduzido por Pablo Ortellado como parte da obra Anarquismo e Anarcosindicalismo de Rocker, publicada em 1946. Com prefácio de João Doe feito em março de 1996, traz a atualidade da obra de Rocker.

O livro retoma outro texto de Rocker sobre a História do Anarquismo e suas raízes, o Liberalismo e o Socialismo. Traz os conflitos históricos de parcela do movimento socialista que assume posicionamentos políticos próximos da teocracia e do cesarismo para não chamarmos de absolutista. Retorna com a crítica de Bakunin ao Marxismo:

“A Ditadura do proletariado, que algumas almas ingênuas acreditam ser um estágio inevitável de transição ao socialismo real, transformou-se hoje em um assustador despotismo e em um novo imperialismo que não deve nada a tirania dos Estados fascistas. A luz da experiência histórica, a afirmação de que o Estado deve continuar a existir até que a sociedade não esteja mais dividida em classes hostis parece uma piada sem graça”.

E continua sua crítica ao bolchevismo:

“O desenvolvimento da burocracia bolchevique na Rússia, sob a suposta Ditadura do Proletariado – que nunca foi mais do que uma Ditadura de um pequeno grupo sobre o proletariado e o conjunto do povo russo – é apenas um novo exemplo de uma velha experiência histórica que tem se repetido inúmeras vezes”.

Logo adiante finaliza:

“A igualdade econômica sozinha não é libertação social. É isso precisamente o que todas as escolas do socialismo autoritário nunca entenderam (...) Em outras palavras, o socialismo será livre ou simplesmente não o será”.

Rocker volta ao contexto histórico para provar também que a existência do Estado é um mal que atrapalha e destrói a economia de um país ou de um continente. Conta a história da Espanha, que antes da subida da burocracia eclesiástica da Igreja Católica ao poder do Estado, o país foi quase que inteiramente desindustrializado, o campo destruído e os serviços praticamente paralisados. Relembra também Kropotkin ao comparar o Estado e as Instituições Sociais como órgãos dentro de um corpo que só se justificam pela necessidade das classes mais abastadas de controlar o restante da coletividade. Porém ao menor sinal da coletividade de que o Estado produz o mal, o próprio organismo tende a destruí-lo ou retirá-lo.

Defende o anarquismo diferenciando-o do marxismo novamente por creditá-lo ao desenvolvimento histórico natural do homem e das forças sociais na vida e não por obrigatoriedade de fases históricas que se sobrepõem. Para Rocker, o que aparenta é que não necessariamente as fases se completam ou estão linearmente iguais na cronologia dos acontecimentos históricos. Em outras palavras, uma sociedade pode guardar dentro de seus modos de produção a escravidão enquanto outra pode conviver sob um regime comunista ou feudal. Ao mesmo tempo que os homens podem avançar socialmente construindo estruturas sócio-políticas e econômicas mais avançadas do que as anteriores sem necessariamente seguir o andamento da fase histórica. Por exemplo, os povos podem construir a anarquia, sem necessariamente ter que passar pelas Reformas do Socialismo Estatal para depois chegar a sociedade sem classes e sem o Estado. Proposta esta que os marxistas não crêem ser possível.

“A arte de educar o homem nunca foi a arte de educá-los e levá-los a novas formas de modelar suas vidas. A sombria compulsão tem ao seu comando apenas exercícios sem vida, que sufocam qualquer iniciativa vital desde o nascimento e que tem como resultado apenas súditos, não homens livres (...) A liberação do homem da exploração econômica e da opressão intelectual, social e política, que encontra sua maior expressão na filosofia do anarquismo, é o primeiro pré-requisito para a evolução de uma cultura social superior e de uma nova humanidade”.

Para finalizar, a crítica que Chaplin faria alguns anos depois e que Rocker desde já emitia:

“Quem está constantemente lutando para forçar tudo numa ordem mecânica, finalmente se torna, ele mesmo, uma máquina, e perde todos os sentimentos humanos”.

Ao que Carlitos nos diria:

“Não sóis Máquina! Homem é o que sóis!”.

Rocker com certeza se orgulharia de sua obra.

Rocker, Rudolf. A Ideologia do Anarquismo. 2005, Editora Faísca Publicações Libertárias.