sexta-feira, 5 de junho de 2009

Bakunin, fundador do sindicalismo revolucionário.

Bakunin, fundador do sindicalismo revolucionário[1].
Gaston Leval.

Introdução: Prof. Samis.

Na introdução do livro, feita pelo Professor Alexandre Samis, é descrito com alguns detalhes, períodos marcantes em que a discussão da greve geral se fez fortemente presente em lugar das discussões político partidárias como queriam as Seções da Alemanha na Primeira Internacional e outras. Samis cita o exemplo do Congresso de Basiléia de 1869 da AIT, onde as discussões entre autoritários e anti-autoritários ficaram mais nítidas. De acordo ainda com o autor, a influência bakuninista teria influenciado fortemente o anarquismo francês, Suíço e Belga tendo estado presente nos Congressos de Bruxelas 1874, Berna 1876, Verviers em 1877 e no de Gand.

As posições em defesa da Greve Geral como parteira da sociedade libertária também estavam presentes no jornal da Seção Belga da AIT, L’internacionale em 1869. No Congresso regional da mesma Seção Belga em 1873, também foi possível presenciar as discussões em torno da greve geral.

Em 1872, no Congresso da AIT em Haia, na Holanda, a tese dos partidários de Marx havia se sobreposto as decisões pró-greve geral. É importante lembrar que neste Congresso Marx praticamente dá um golpe nos anarquistas e expulsa da AIT (com apoio de seus colaboradores e das Seções que o apoiavam) todos as organizações próximas ao bakuninismo e aos anarquistas. Um ano depois, Marx transfere o Secretariado da AIT para Nova Iorque, isolando-o e levando o mesmo a dissolução final. Sem sombra de dúvida um golpe contra os anti-autoritários e a própria existência da AIT que para Marx, não podia se transformar em uma Associação Bakuninista Internacional. Seria sem sombra de dúvida a morte de seus ideais autoritários. Porém o Professor Samis não toca neste aspecto histórico.

Nota Preliminar: Gaston Leval.

Aqui, o autor da obra defende a idéia de que é Bakunin o grande pai do Sindicalismo Revolucionário.

Anarquistas e Sindicalismo:

Aqui o autor defende a idéia de que os anarquistas entraram pra valer nas entidades sindicais francesas defendendo desde a idéia da revolução violenta até as ações de caráter direto tais como sabotagens, boicotes, label, greve geral de advertência, paralisações e outras atividades.

James Guillaume, anarquista francês, escreveria em 1905 que a CGT francesa era a continuação da Primeira Internacional.

Pré Sindicalismo:

Em 7 de fevereiro de 1865, Bakunin envia carta a Marx confirmando recebimento de um exemplar de Mensagem Inaugural da AIT. Bakunin estava na Itália divulgando as idéias da Internacional e suas propostas tentando a todo custo filiar Sindicatos a Associação. Criticava Mazini e Garibaldi por suas concepções burguesas da realidade e da revolução social.

Tateios:

Em setembro de 1868, no Congresso da Liga da Paz e da Liberdade, organização Suíça que englobaria uma heterogeneidade de entidades de trabalhadores, Bakunin e seus camaradas perdem no voto as propostas de apoio ao Socialismo Revolucionário e adesão a AIT. De imediato, fundam a Aliança Internacional da Democracia Socialista. Seus Estatutos, de acordo com o autor, serão mais específicos em alguns pontos do que o Estatuto da AIT, que necessitava ser um pouco mais genérico pois estava escrito por trabalhadores menos especializados do que os Estatutos da Aliança. Esta se filiará a AIT pouco depois de sua fundação.

Aporte de Princípios:

Provavelmente no ano de 1868, em 25 de outubro, ocorre uma Conferência que decide fundar a Federação Românica, Seção Regional da AIT e da qual, Bakunin irá redigir seus Estatutos. Seu jornal será o L’Égalité. James Guillaume sairia de sua posição reformista e assumiria de vez as propostas de Bakunin. Leval via em Proudhon uma tentativa de se implementar a sociedade libertária aqui e agora as atividades do Banco do Povo, na sua eleição ao Parlamento como Deputado para tentar aprovar Leis que facilitassem o desenvolvimento de tais atividades anárquicas, enfim tentando a via legal para a constituição de um socialismo libertário. Seus discípulos, presos a questões como a posse da terra e da defesa da propriedade privada (de acordo com palavras do autor), não conseguiram avançar nas discussões principais das quais Proudhon defendia como a construção da própria sociedade libertária se unindo as Seções mais próximas ao anarquismo.

O fundador do Sindicalismo:

Ao defender Bakunin como o grande fundador do Sindicalismo Revolucionário, citar Fernand Peloutier para defender o próprio Bakunin como grande criador deste Sindicalismo, Leval eleva a figura de Bakunin como liderança quase que insuperável ou igualando-o a um Deus da anarquia. Bakunin, Malatesta, Kropotkin e tantos outros anarquistas passaram boa parte de suas vidas negando o princípio de endeusamento ou do culto a personalidades ou aos personalismos dentro do movimento. Isto parece nítido neste momento.

Mas temos de concordar que a figura de Bakunin é sem sombra de dúvida de vital importância para a fundação do sindicalismo revolucionário.

Tática de Recrutamento:

Aqui Leval transcreve partes do texto A Política da Internacional de Bakunin que para o autor é a grande influência da Carta de Amiens. Tais partes, em certa maneira colocam posições conflituosas da atual estrutura da Internacional com a antiga estrutura. Vejamos:

“A Internacional, ao aceitar em seu seio um novo membro, não lhe pergunta se ele é religioso ou ateu, se ele pertence a tal ou qual partido político ou se não pertence a nenhum”
[2]

Esta é uma discussão que o autor coloca para a atual AIT: deve ela ser um pequeno órgão de lideranças esclarecidas filtrando filiações de indivíduos as Seções da Internacional? Devem as Seções cobrar atestado ideológico daqueles que desejem filiar-se a elas?

Com toda certeza, ao escrever tais palavras em pleno século XIX, Bakunin não imaginaria que os Marxistas em pleno século XX e XXI utilizariam táticas maldosas de cooptação das entidades dos trabalhadores nas mãos dos anarcosindicalistas e além do mais, Bakunin também não contava com o crescimento das forças burguesas via nazi-fascismo e as constantes tentativas de se entregar a polícia os militantes libertários ou de agredi-los e mata-los. Em outras palavras, se não houver uma certa preocupação de quem está se filiando aos Sindicatos que compõem as Seções da Internacional, poderemos estar colocando a raposa para tomar conta do galinheiro. A idéia de que as portas devem estar abertas e escancaradas para a filiação de qualquer indivíduo (trabalhador) é muito convidativa, mas possui seus riscos. Além do que, para se filiar a uma Seção da Internacional, basta ler e estar de acordo com os Estatutos desta entidade. Algo que toda e qualquer entidade Sindical pede a seus trabalhadores no momento da filiação. Porque seria diferente com a AIT?

Continua Leval:

“É necessário fazer a revolução com as massas, não por meio unicamente das Seções centrais da Internacional que se tornariam todas acadêmicas”
[3]

Realmente não pretende e não deseja as atuais Seções da Internacional construírem a Revolução Social por elas mesmas e sim com a organização da Classe Trabalhadora mundial em Sindicatos por ofício ou por atividade econômica, associando os mesmos a Federações locais ou estaduais ou micro-regionais que se filiariam as respectivas Seções Nacionais da AIT, sejam Confederações ou não.

Educação pelos fatos:

Aqui as transcrições de Bakunin por Leval trazem uma preocupação cotidiana com a prática do militante revolucionário. Ele em todo momento afirma a necessidade de inicialmente tocarmos o coração, o sentimento, as dores do povo mais imediatas e comuns a todos para depois ligarmos tais problemas a estratégia futura da revolução.

Continua Leval, pouco adiante, a sua transcrição:

“Um operário não precisa de nenhuma grande preparação intelectual para se tornar membro da Seção corporativa que representa seu ofício. Ele já é membro antes de sabê-lo, naturalmente”
[4]

Aqui o autor novamente volta a bater na tecla de que o atestado ideológico é inútil e prejudicial ao movimento sindical revolucionário e que a saída é a argumentação sentimental sobre as massas no intuito de convencê-la a entrar na luta e tomar a ação direta como forma de libertação do próprio proletariado. Tal tática, a de se apelar as difíceis situações da população para chamar-lhe a atenção para a luta, sempre foi e sempre será utilizado pelos militantes anarcosindicalistas em todo o mundo pois está é uma atitude própria do sindicalismo revolucionário, conciliar a luta das ações imediatas com o projeto ou a estratégia de libertação social.

Mudando de assunto, o autor nos traz uma bela reflexão de que o capitalismo sempre vai procurar as melhores condições para se desenvolver mais rapidamente e da melhor forma que lhe couber. Por isso não pensará duas vezes em abandonar uma cidade e ir para outra caso as conquistas dos trabalhadores acabem por sair mais caro aos capitalistas. Portanto, a vitória de uns, pode ser a desgraça de outros. Se numa fábrica o patrão perdeu a disputa e terá que pagar um salário melhor, na sua outra fábrica, onde os trabalhadores podem estar menos organizados, a extração de mais valia será mais profunda afim de diminuir os custos que teve para pagar a vitória dos trabalhadores que lutaram e venceram em sua outra sede fabril. Em outras palavras, o que nos quer dizer o autor é que os trabalhadores somente serão vitoriosos e ganhadores se venceram a grande batalha final, derrubar o Estado e o Capitalismo em todo o mundo e em todos os lugares. Vitórias parciais somente trarão vitórias parciais. Não existem melhorias paliativas para este ou aquele trabalhador se o sistema como um todo não for derrubado. Para piorar ainda mais esta triste situação, o capitalismo pode se dar ao luxo de utilizar a desculpa da forte concorrência para diminuir o quadro de pessoal, cortar direitos ou ganhos, demitir trabalhadores para contratar outros pagando menos, enfim, existe uma série de possibilidades para que o patrão sempre saia ganhando. Aliado a tudo isto, também existe a questão da inflação que, na menor reposição ou ganho por parte dos trabalhadores a seus salários, o patrão imediatamente transferirá ao custo de seus produtos o valor que arcará com o pagamento da reposição pela qual conseguiu os trabalhadores em seus salários. Ou seja, o patrão, querendo ou não, de uma forma ou de outra, sempre consegue sair ganhando.

A greve geral:

Aqui Bakunin discorre sobre a importância da AIT e de seu fortalecimento mundial. Para ele, a Associação nada mais é do que uma grande retaguarda, um escudo a nível mundial de todos os trabalhadores no mundo para se defenderem de eventuais ataques das burguesias nacionais ou para a prestação de solidariedade entre os mesmos durante greves, manifestações, motins, insurreições, greves gerais ou até mesmo antes, durante e depois das revoluções.

A Consciência Operária:

A Aliança da Democracia Socialista, fundada por Bakunin, era uma entidade criada em Seções de diversos países com o objetivo de aglutinar Seções Sindicais de Socialistas anti-autoritários (que se organizavam distante de políticos e partidos, portanto, longe das autoridades) e federalistas.

Em 1871, Marx inicia uma série de ações buscando desmoralizar, atacar e sabotar os trabalhos de Bakunin nas Seções aos quais este tinha grande influência, entre elas a Aliança da Democracia Socialista na Suíça. Utin foi o nome do Russo enviado por Marx para criar infiltrações na Seção Suíça e criar situações que opunham Seções a Seções. Utin conseguiu manobrar a tal ponto e jogar de forma suja em sua ações, o que acabou fazendo com que a Seção da Aliança na Suíça expulsasse Bakunin e tantos outros militantes libertários.

Criação Prática:

Em 1870, realiza-se em Barcelona, na Espanha, o primeiro Congresso de trabalhadores Internacionalistas fundando a Seção da Internacional neste país que já possuía uma Seção filiada a Aliança na própria cidade de Barcelona. A nova Seção aglutinaria diversas entidades de trabalhadores da Espanha e 5 anos depois de sua fundação, já possuía Federações de ofício e por atividades econômicas. Tal entidade daria forma e berço para o nascimento em 1910, da CNT, que seria a maior entidade de trabalhadores durante a Guerra Civil Espanhola.

Na Itália, as atividades de Bakunin, Durante 4 anos de intensa militância, fazem surgir bons resultados: toda a juventude ligada a Mazzini, liderança populista, religiosa e estatista é perdida para as lutas da Seção da Aliança. Esta, funda os “Fascio Operaio”, que seria a Seção da Internacional na Itália e que mais tarde teria o nome roubado por Mussolini para a criação do movimento fascista em 1919.

O Congresso de Saint-Imier:

Realizado em setembro de 1872, foi praticamente o último Congresso da Internacional antes do golpe que Marx aplicará ao Secretariado da entidade, transferindo-a para Nova York em 1873.

Estiveram presentes neste Congresso os Delegados de 3 das 4 Federações Nacionais filiadas a AIT: Federação Jurassiana, Italiana e Espanhola. Também estiverem presentes Delegações da França e dos EUA. Quanto ao tema “Natureza da ação política do proletariado” ficou definido “que a destruição de todo poder político é o primeiro dever do proletariado”.

Leval nos lembra do conflito entre anti-autoritários e autoritários e os posicionamentos tomados por Lassale e Marx ao defender a via parlamentar para a construção do Socialismo.

Última recomendação:

Em 1873, bakunin retira-se da Internacional. Sua saúde já não está boa o suficiente para continuar encarando grandes problemas da militância internacional. Em sua carta de despedida deixa claro a necessidade da continuidade dos trabalhas dos Socialistas Federalistas.

A dupla greve de Genebra – 1869 – Mikhail Bakunin:

Este texto demonstra claramente o que paira no ar da velha Genebra nos anos de 1869. Uma revolta imensa do proletariado, aguardando apenas uma faísca ou uma pequena provocação para dar início a construção de um movimento grevista e violento. Bakunin, percebendo o cheiro de pólvora no ar, e vendo que se tratava em muitos casos de uma pura e simples provocação da patronal contra os trabalhadores para baixar a repressão de desorganizá-los, publica tal texto onde alerta que é justamente iniciar uma provocação o que mais deseja a burguesia Suíça neste momento.

Continua seu texto citando a diferença de nosso projeto para o projeto burguês e finaliza trazendo a grande importância da solidariedade e do internacionalismo proletário. A crença de Bakunin numa vitória do proletariado é tanta que ele arrisca a dizer que estaria próximo “o sinal infalível da emancipação próxima e completa do trabalho e dos trabalhadores na Europa”.
[5]

Continua sua argumentação defendendo a necessidade do fortalecimento da Internacional: “a questão da libertação dos trabalhadores do jugo do capital e dos seus representantes, os burgueses, é uma questão eminentemente internacional. Disso resulta que a solução só é possível no terreno da internacionalidade”.
[6]

E continua o que parece ser partes de uma crença numa inevitabilidade histórica: seria a marcha do proletariado? Seria um determinismo histórico libertário? Parece haver em Bakunin mais do que uma esperança por dias melhores, mas a certeza de que a revolução social está a caminho.

“Mais alguns anos de desenvolvimento pacífico, e a Associação Internacional tornar-se-á uma força contra a qual será ridículo querer lutar”.
[7]

E assim profetiza:

“[...] que a Associação Internacional é a pátria de todos os trabalhadores oprimidos, o único refúgio contra a exploração dos burgueses, a única força capaz de derrubar o poder insolente dos burgueses”.
[8]

Considerações Finais:

A obra é sem sombra de dúvida importante. Apesar de trazer os argumentos de sempre daqueles que tanto criticam a Internacional nos dias de hoje, em coro e uníssono, ela traz passagens importantes de Bakunin e boa junções e ligações de Leval a Pelloutier e a Carta de Amiens e tantos outros documentos de Bakunin e de outros anarquistas. A obra é uma defesa do sindicalismo revolucionário (até certo sentido), porém com uma argumentação contraditória ao descrever passagens em que Bakunin e a Aliança defendem em seus pareceres, projetos e Estatutos a derrubada do Estado e do Capital enquanto a AIT hoje é julgada por querer que militantes se filiem a mesma conscientes de seus Estatutos e que por esse mesmo motivo, torna-se tão difícil a liberalização da filiação a qualquer um que chegue e deseje se filiar. Por tal cuidado em não permitir infiltrações ou sabotagens em seu meio, a Internacional é criticada como entidade das pequenas e burocráticas Seções sem influência sobre o proletariado mundial como a antiga Internacional possuía. Novamente temos de defender a Internacional e tocar no assunto que pouco acima citamos: no século XIX, Bakunin e todos os outros não precisavam se preocupar com stalinistas e nazi-fascistas delatando as lideranças anarcosindicalistas para a polícia e o próprio Estado afim de tomarem os Sindicatos das mãos dos verdadeiros revolucionários. Bakunin também não precisava se preocupar com a imensa quantidade de tendências e correntes dentro do movimento operário jogando contra os anarquistas desde a Revolução Russa. São Trotskistas, Maoístas, Guevaristas, Leninistas, Marxianos, Marxistas, Luxemburguenses, Conselhistas, enfim uma gama e uma camada imensa de burocratas tentando sufocar a Internacional e o Sindicalismo Revolucionário. Problemas dos quais Bakunin e os lIbertários do século XIX até podiam ter, mas não na quantidade que os sindicalistas revolucionários o tem no século XX e XXI.

Leval também escreve seu texto como se fosse do conhecimento de todos os leitores os Congressos da AIT e de suas Seções Nacionais, os locais onde os mesmos ocorriam e porque das escolhas, datas e deliberações dos mesmos Congressos e Plenárias, etc. Enfim, fez muita falta a obra um maior cuidado nos detalhes destes assuntos afim de estabelecer melhor o leitor no mundo do século XIX e das atividades da AIT para que o mesmo não caia de pára-quedas. Torna-se necessário uma segunda pesquisa que confirme datas, locais, decisões tomadas nestes Congressos, Encontros, Plenárias das Seções da AIT no Século XIX e da própria Internacional.

De resto, como introdução no assunto, é válido, sem nos esquecer que de maneira geral, o objetivo da obra é se tratar de mais uma propaganda contra a Internacional.


[1] Leval, Gaston. Bakunin, fundador do Sindicalismo Revolucionário. A dupla greve de Genebra. Editora Imaginário e Editora Faísca. São Paulo, 2007.
[2] Op. Cit. Pg. 47.
[3] Op. Cit. Pg. 48.
[4] Op. Cit. Pg. 50.
[5] Op. Cit. Pg. 91.
[6] Op. Ct. Pg. 91.
[7] Op. Cit. Pg. 94
[8] Op. Cit. Pg. 95.