sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Resenha do longa "Descartes - o filme" de Rossellini.


Descartes – O filme – Direção: Roberto Rossellini

Depoimento do Prof. Homero Santiago.

Cartesius era o nome de Descartes em Latim. Nascido em 1596, morto em 1650, nosso Filósofo, aos 4 anos de idade, tem a infelicidade de passar pelo momento da morte de Giordano Brunno na fogueira a mando do Santo Tribunal da Inquisição Católica. Eram tempos difíceis. Para o Professor há uma mistura de vida e obra do autor no filme. No longa metragem, trabalha-se com os três grandes períodos da vida de Descartes: 1-Estudos no colégio. 2-Viagens e 3-Maturidade Acadêmica.

Descartes não usa o texto bíblico para amparar sua obra. Isso foi usado contra ele. Um amante da razão e da verdade que percebe que esta verdade é frágil e se prontifica a criar um método para se chegar a verdade.

O autor descobre que não é mais possível se utilizar a Filosofia criada na antiga Grécia, que com as novas descobertas científicas, a Ciência demanda uma Filosofia mais racional. É este desafio que ele irá tentar resolver. Descartes então se muda para a Holanda, local onde a liberdade de publicação de grandes Filósofos é aceita. É uma terra onde há mais liberdade de expressão do que as outras nações da Europa. “Quando se viaja demais, começa-se a sentir estranho em sua própria terra”. Este é o enunciado do autor sobre seus anos de viagens.

Com a chegada da informação de que Galileu está preso pelo tribunal da inquisição, mesmo sendo amigo do papa, tal notícia gerará pânico no nosso Filósofo. Imediatamente ele pensa em queimar os escritos, cartas, livros e outros materiais de sua autoria.

Em 1637, Descartes publica o “Discurso do Método”, baseado inicialmente em três estudos. Porém é uma obra feita como pisar em ovos, com todo cuidado de não virar inimigo do Vaticano. Dióptica, Meteoros e Geometria são as três partes do livro, somada ao prefácio.

O FILME

Parte I:

O filme inicia com uma aula de astronomia do Colégio de La Fleche, onde Descartes passa 9 anos de estudo. Mostra sua paixão pela esgrima, do qual carrega sua espada para todos os lados.

Terminada a Escola, Descartes chega a Paris e, num diálogo com um padre amigo, antigo Professor em De La Fleche, cita que acreditava que cada ser humano carregava consigo “sementes da verdade”. Por isso de sua incerteza diante dos escritos dos antigos Filósofos, ao ver que não tinham bases sólidas para sustentarem a Filosofia em sua época. Descartes era adepto do que se chamava por novas Ciências, astronomia, geometria, física, química e por isso discordava dos rumos que a Filosofia estava tomando, distante das Ciências Exatas. Da mesma forma que acreditava que a Filosofia e as Ciências iniciadas na Grécia antiga estavam defasadas, ao falar sobre as sementes da verdade que cada ser humano carregava consigo mesmo, Descartes vai ao “encontro” de Sócrates que entendia que as pessoas já nasciam com conhecimento, bastando a elas apenas o convite a reflexão.

“Sem o controle da razão, as sensações vão todas falharem”. É o que diz o Filósofo numa aula de anatomia humana, onde o Professor ensina que órgãos do corpo humano e animal estão sob ordens diretas do espírito. Descartes discorda e cita a frase acima dita. Tal aula de anatomia se dá na Holanda, onde Descartes acredita haver mais liberdade para o experimento e a razão. “Devemos nos libertar das sensações e nos orientar pela razão”. Ele começa então a esboçar os detalhes, ou melhor, as linhas mestras que serão a base de todo seu raciocínio na Filosofia. Compara a exatidão da Matemática com a falta destas respostas na Filosofia e nos escritos dos antigos Filósofos. Percebe-se tanto na obra, como no filme, e isto se confirma nas palavras do padre parisiense que é seu amigo, o carregar de um orgulho em sua personalidade.

Nessa viagem de passagem a Paris, presencia a queima de escritos e poemas de um poeta local e de um boneco representando-o. Queixa-se então o Filósofo que todas as vindas para a cidade lhe são terríveis com tais espetáculos de fanatismos e intolerâncias religiosas. Ainda em Paris, na Igreja do amigo Padre Marsene, relata aos presentes as 21 teses para guiar a inteligência. São os princípios básicos de seu método e obra.

Parte II:

Descartes continua suas viagens e aprofunda seus estudos de astronomia que irão auxiliá-lo no preparo de seu método. Uma das críticas mais comuns que o Filósofo Francês ouvia era a de que em seus escritos, jamais mencionava a Bíblia ou algum texto sagrado.

Descartes começa a dar aulas numa Universidade a pedido do Professor Regnieer. Momentâneo como sempre foi sua passagem pela Universidade, já que as viagens o aguardavam.

Publica então “Discurso do Método” e ouve muitas críticas a sua oba ainda na Holanda. É o Padre Marsene quem apóia a publicação de seus livros em Paris.

Por volta deste mesmo momento, sua filha, Francine, que Descartes teve com sua ex-empregada, Helena, falece ainda pequena, o que faz com que o autor pare suas viagens e vá morar junto de Helena, favorecendo assim o desenvolvimento da publicação de suas outras obras que viriam adiante.

Aparentemente, ao publicar “O Discurso”, ele o faz inicialmente apenas em três partes e posteriormente publica as outras três.

Considerações:

O Filme retrata em seu término toda a preocupação de Descartes em escolher inclusive um nome para sua obra que não fosse ofensivo a Igreja. Tal preocupação é resultado de uma paura que está presente em todos os “inovadores” ou intelectuais, que tem um mínimo de amor a própria vida ou um mínimo de senso crítico ao fanatismo e dogmatismo Cristão típico da Idade Média na Europa ou em começo da Idade Moderna.

Tal preocupação é também fruto de um momento na História da Humanidade que muitos prejuízos trouxe à evolução da Filosofia e das diversas Ciências nos seus respectivos campos do saber. Um sinal de que devemos combater sempre todo e qualquer fanatismo e intolerância, sejam políticos, religiosos, econômicos, filosóficos, etc...