Descartes –
O filme – Direção: Roberto Rossellini
Depoimento do
Prof. Homero Santiago.
Cartesius era o nome
de Descartes em Latim. Nascido em 1596, morto em 1650, nosso
Filósofo, aos 4 anos de idade, tem a infelicidade de passar pelo
momento da morte de Giordano Brunno na fogueira a mando do Santo
Tribunal da Inquisição Católica. Eram tempos difíceis. Para o
Professor há uma mistura de vida e obra do autor no filme. No longa
metragem, trabalha-se com os três grandes períodos da vida de
Descartes: 1-Estudos no colégio. 2-Viagens e 3-Maturidade Acadêmica.
Descartes não usa o
texto bíblico para amparar sua obra. Isso foi usado contra ele. Um
amante da razão e da verdade que percebe que esta verdade é frágil
e se prontifica a criar um método para se chegar a verdade.
O autor descobre que
não é mais possível se utilizar a Filosofia criada na antiga
Grécia, que com as novas descobertas científicas, a Ciência
demanda uma Filosofia mais racional. É este desafio que ele irá
tentar resolver. Descartes então se muda para a Holanda, local onde
a liberdade de publicação de grandes Filósofos é aceita. É uma
terra onde há mais liberdade de expressão do que as outras nações
da Europa. “Quando se viaja demais, começa-se a sentir estranho em
sua própria terra”. Este é o enunciado do autor sobre seus anos
de viagens.
Com a chegada da
informação de que Galileu está preso pelo tribunal da inquisição,
mesmo sendo amigo do papa, tal notícia gerará pânico no nosso
Filósofo. Imediatamente ele pensa em queimar os escritos, cartas,
livros e outros materiais de sua autoria.
Em 1637, Descartes
publica o “Discurso do Método”, baseado inicialmente em três
estudos. Porém é uma obra feita como pisar em ovos, com todo
cuidado de não virar inimigo do Vaticano. Dióptica, Meteoros e
Geometria são as três partes do livro, somada ao prefácio.
O FILME
Parte I:
O filme inicia com
uma aula de astronomia do Colégio de La Fleche, onde Descartes passa
9 anos de estudo. Mostra sua paixão pela esgrima, do qual carrega
sua espada para todos os lados.
Terminada a Escola,
Descartes chega a Paris e, num diálogo com um padre amigo, antigo
Professor em De La Fleche, cita que acreditava que cada ser humano
carregava consigo “sementes da verdade”. Por isso de sua
incerteza diante dos escritos dos antigos Filósofos, ao ver que não
tinham bases sólidas para sustentarem a Filosofia em sua época.
Descartes era adepto do que se chamava por novas Ciências,
astronomia, geometria, física, química e por isso discordava dos
rumos que a Filosofia estava tomando, distante das Ciências Exatas.
Da mesma forma que acreditava que a Filosofia e as Ciências
iniciadas na Grécia antiga estavam defasadas, ao falar sobre as
sementes da verdade que cada ser humano carregava consigo mesmo,
Descartes vai ao “encontro” de Sócrates que entendia que as
pessoas já nasciam com conhecimento, bastando a elas apenas o
convite a reflexão.
“Sem o controle da
razão, as sensações vão todas falharem”. É o que diz o
Filósofo numa aula de anatomia humana, onde o Professor ensina que
órgãos do corpo humano e animal estão sob ordens diretas do
espírito. Descartes discorda e cita a frase acima dita. Tal aula de
anatomia se dá na Holanda, onde Descartes acredita haver mais
liberdade para o experimento e a razão. “Devemos nos libertar das
sensações e nos orientar pela razão”. Ele começa então a
esboçar os detalhes, ou melhor, as linhas mestras que serão a base
de todo seu raciocínio na Filosofia. Compara a exatidão da
Matemática com a falta destas respostas na Filosofia e nos escritos
dos antigos Filósofos. Percebe-se tanto na obra, como no filme, e
isto se confirma nas palavras do padre parisiense que é seu amigo, o
carregar de um orgulho em sua personalidade.
Nessa viagem de
passagem a Paris, presencia a queima de escritos e poemas de um poeta
local e de um boneco representando-o. Queixa-se então o Filósofo
que todas as vindas para a cidade lhe são terríveis com tais
espetáculos de fanatismos e intolerâncias religiosas. Ainda em
Paris, na Igreja do amigo Padre Marsene, relata aos presentes as 21
teses para guiar a inteligência. São os princípios básicos de seu
método e obra.
Parte II:
Descartes continua
suas viagens e aprofunda seus estudos de astronomia que irão
auxiliá-lo no preparo de seu método. Uma das críticas mais comuns
que o Filósofo Francês ouvia era a de que em seus escritos, jamais
mencionava a Bíblia ou algum texto sagrado.
Descartes começa a
dar aulas numa Universidade a pedido do Professor Regnieer.
Momentâneo como sempre foi sua passagem pela Universidade, já que
as viagens o aguardavam.
Publica então
“Discurso do Método” e ouve muitas críticas a sua oba ainda na
Holanda. É o Padre Marsene quem apóia a publicação de seus livros
em Paris.
Por volta deste
mesmo momento, sua filha, Francine, que Descartes teve com sua
ex-empregada, Helena, falece ainda pequena, o que faz com que o autor
pare suas viagens e vá morar junto de Helena, favorecendo assim o
desenvolvimento da publicação de suas outras obras que viriam
adiante.
Aparentemente, ao
publicar “O Discurso”, ele o faz inicialmente apenas em três
partes e posteriormente publica as outras três.
Considerações:
O Filme retrata em
seu término toda a preocupação de Descartes em escolher inclusive
um nome para sua obra que não fosse ofensivo a Igreja. Tal
preocupação é resultado de uma paura que está presente em todos
os “inovadores” ou intelectuais, que tem um mínimo de amor a
própria vida ou um mínimo de senso crítico ao fanatismo e
dogmatismo Cristão típico da Idade Média na Europa ou em começo
da Idade Moderna.
Tal preocupação é
também fruto de um momento na História da Humanidade que muitos
prejuízos trouxe à evolução da Filosofia e das diversas Ciências
nos seus respectivos campos do saber. Um sinal de que devemos
combater sempre todo e qualquer fanatismo e intolerância, sejam
políticos, religiosos, econômicos, filosóficos, etc...