segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O MOVIMENTO OPERÁRIO NA PRIMEIRA REPÚBLICA

O Movimento Operário na Primeira República.
Cláudio Batalha. Coleção Descobrindo o Brasil. Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro, 2000.

O livro inicia dando um pequeno informe de qual o olhar e o recorte que pretende dar o autor a obra. Tenta desmistificar a figura do operário estrangeiro, anarquista, italiano, revolucionário como único fator de existência do operariado brasileiro na República Velha. Desconstituindo-se assim todo um universo maior já romantizado desta figura caricata acima representada. O livro nos lembra a presença de outros estrangeiros, da participação do negro (apesar de não explicitar), de outras correntes ideológicas dentro do movimento operário e da participação do próprio povo brasileiro (ao contrário de alguns historiadores que chegam a dizer que os movimentos grevistas na República Velha eram obra dos imigrantes essencialmente dos italianos).

Em seguida traz importantes informações sobre a situação do movimento operário no Brasil, dados da imigração, números sobre salários e comparativos dos mesmos entre regiões do país e seus diferenciais dentro de um mesmo ofício e de diferentes profissões,dando assim um olhar geral sobre as condições do operariado a época.

De certo modo o autor também nos traz informações valiosas sobre os nomes utilizados pelos Sindicatos e suas respectivas interpretações. Por exemplo, ao definir a diferença entre Sociedades “de Resistência” e as Sociedades “Beneficentes”. A primeira se recusava ao assistencialismo enquanto a segunda era praticamente uma entidade de caráter mutualista. A segunda tentava se pautar mais sobre a defesa imediata de alguns interesses econômicos dos trabalhadores, não se importando em alguns casos com a questão da luta de classes. Apesar de mesmo algumas entidades de resistência prestarem algum tipo de assistência. Quanto a denominação de Ligas Operárias, faltou esclarecer que muitas vezes estas tinham o caráter de organização por locais de moradia como forma de se ganhar apoio nas greves dentro dos bairros e de se germinar as sementes do processo revolucionário. O autor também cita os Sindicatos de Ofícios Vários, que eram uma forma de se organizar categorias que estavam distantes dos movimentos grevistas. Para ele, os Sindicatos por Ofício eram a base do movimento durante a Primeira República. Foi a partir dos anos de 1917 e 19 que os Sindicatos por Indústria ganharam força e estrutura dentro do movimento sindical brasileiro.

O autor também traz boas informações a respeito da história da Federação Operária do RJ – FORJ:

“Assim, a Federação Operária do Rio de Janeiro funcionou por um breve período em 1906, quando foi criada; voltou a ser organizada em 1907 e funcionou até 1910; novamente reorganizada em 1912, ficou em atividade até 1917, quando foi fechada pela polícia”.
[1]

O autor também faz um relato sobre as diversas concepções ideológicas presentes no movimento operário a época, tais como o cristianismo, stalinistas a partir de 1922, os anarquistas em suas diferentes concepções de lutas e estratégias para o movimento operário, positivistas, Socialistas, etc.

Porém, de forma predominante, como afirma o próprio autor, podemos dizer que o movimento operário se dividia em duas grandes concepções, os sindicatos de Ação Direta e os Sindicatos Reformistas.

Há também uma discordância de conceitos entre Batalha e Boris Fausto sobre o conceito utilizado ao Sindicalismo Oficial ou reformista a época. Para Batalha e outros, o termo mais correto é “Sindicalismo Amarelo”, enquanto Boris Fausto o retrata de “Trabalhismo Carioca”. Para o autor da obra, há um equívoco nesta expressão pois Trabalhismo só começou a ser utilizado no movimento sindical pós 30 com a intromissão do Varguismo. Para tanto, Batalha acredita haver um anacronismo na expressão além de crer que a expressão carioca não daria a dimensão de um sindicalismo (reformista) presente em quase todo o território brasileiro.

A obra nos traz informações sobre as fundações de outras Federações Operárias como a do RS, a FORGS:

“Durante os primeiros anos de sua existência, da fundação em 1906 até 1911 (quando os partidários da Ação Direta ganharam as eleições para a Direção), a Federação Operária do Rio Grande do Sul foi denominada pelos Socialistas e, por tanto, pelo Sindicalismo Reformista em uma de suas expressões”.
[2]

Informações das Minas Gerais também aparecem em diversos momentos:

“Outra expressão do Sindicalismo Reformista foi a Federação Operária Mineira, com sede em Juiz de Fora, pelo menos durante os primeiros tempos de sua atuação, na primeira metade da década de 20”.
[3]

Voltando a história da FORJ,

“Um mês após a greve era fundada a Federação das Associações de Classe, que em 1905 daria origem a Federação Operária Regional Brasileira. Esta, por sua vez, organizaria o Primeiro Congresso Operário Brasileiro, em abril de 1906, transformando-se em seguida na FORJ”.
[4]
O livro também nos traz dados importantes a respeito dos números de estrangeiros expulsos pela Lei Adolfo Gordo. Nos traz atividades realizadas pela COB – Confederação Operária Brasileira em defesa dos estrangeiros, contra a carestia e além de informes sobre o I, II e III Congressos Operários de 1906, 1912 e 1920 respectivamente.

O autor erra ao fazer uma afirmação completamente equivocada sobre o desfecho da Greve Geral de 1917, citando que os anarquistas pediram auxílio a autoridades ou a pessoas da Imprensa para que intermediassem as negociações com os patrões. Quem não queria sob hipótese alguma negociar com a patronal eram os trabalhadores. O que ocorre é que um grupo de jornalistas de diversos Jornais da Capital (OESP, etc) se oferecem a serem porta-vozes das exigências dos trabalhadores e do CDP (Comitê de Defesa Proletária) e entregam a pauta de reivindicações dos operários a Patronal. Não houve em momento algum como cita Batalha, pedido de intermediários para negociar em nome do movimento grevista.
[5]

Outro erro drástico do autor é o tratamento sobre a Greve Insurrecional de 1918 no Rio de Janeiro. Tachando a de “canhestra tentativa insurrecional”
[6], tenta minimiza-la a um movimento de poucas lideranças anarquistas com um punhado de trabalhadores têxteis, metalúrgicos, militares e outros, desprezando-se assim todo o processo organizacional do movimento, a Greve Geral que se construiu e outras atividades envolvidas no processo. Também não leva em consideração o forte aparato de vigília e repressão que o movimento operário passava até ser denunciado no dia da insurreição. Tanto as opiniões sobre a Greve Geral Anarquista de 1917 em Sp e seu desfecho quanto sobre a Greve Geral Insurrecional no RJ, são típicos argumentos marxistas para minimizar ou desqualificar a importância histórica destes eventos do movimento operário sob a liderança dos anarquistas. Sobre esta greve geral no Rio, ver texto publicado aqui no Blog.

A partir de julho de 1922, com o Estado de Sítio instaurado sobre as diversas insurreições preparadas pelos movimentos tenentistas, provocou as chances e as brechas para que o Estado intervisse de maneira mais violenta sobre as organizações operárias desestruturando até mesmo as mais reformistas das Associações.

Já em 1927, o Comunistas criam a Federação Sindical Regional do RJ (FSRR) enquanto os anarquistas refundam a FORJ. Em 29, com a crise econômica vinda dos EUA, o Brasil é, até então dependente do café e da monocultura do mesmo plantio, quebra com queda dos preços. Toda a economia do país segue o fundo do poço, o que faz com que o movimento operário entre novamente em uma grande depressão com raras manifestações e greves, de acordo com o autor.

A obra também reflete a cultura operária em sua última parte sempre relatando a importância do anarquismo. Alguns Sindicatos de orientação anarquista viam com certa desconfiança o uso dos esportes dentro da recreação operária. Preferiam as atividades de caráter mais cultural do que lúdica para dentro do movimento, de acordo com a obra do autor.

Considerações

O livro finaliza com uma cronologia da história do movimento operário na República Velha, dando ênfase a algumas atividades relacionadas aos Comunistas e Socialistas, não negando as ações mais claras e importantes dos anarquistas no período por já serem públicas e notórias.

De uma forma geral, parece não haver tantos avanços nas publicações de grandes fatos e acontecimentos realizados pelos anarquistas na obra de Batalha mesmo que já fosse o objetivo do autor salientado desde o começo da obra. Por outro lado, em uma pequena e singela obra, o autor nos traz alguns dados importantes e ricos para quem deseja iniciar uma pesquisa na área, não deixando de lado (é muito perceptível) sua influência pelo marxismo em críticas e posições que toma ou demonstra durante a mesma.
[1] Pg. 19.
[2] Pg. 34.
[3] Pg. 34.
[4] Pg. 40.
[5] Pg. 51.
[6] Pg. 53.